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terça-feira, 23 de abril, 2024
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Artistas abraçam o Pantanal e denunciam política antiambiental do governo

Uma carta a ser assinada por personalidades da música e dramaturgia integra as ações da comissão externa da Câmara que acompanha queimadas em biomas brasileiros

Artistas de renome nacional foram convidados a assinar uma carta em defesa do Pantanal. O documento visa contar com a representatividade da classe cultural para chamar a atenção da sociedade para a destruição no bioma – considerado a maior área de planície alagada do mundo – e assim reivindicar mudanças na postura do governo Bolsonaro a respeito das políticas ambientais.

O chamado à classe artística foi feito dentro da 13ª reunião virtual da Cexquei, na noite de quinta-feira (29), a comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanha as queimadas em biomas brasileiros, que é conduzida por 23 parlamentares federais, sendo o deputado Vander Loubet (PT-MS) o único representante de Mato Grosso do Sul no colegiado. Personalidades como Almir Sater, Tetê Espíndola, Thiago Lacerda, Marcos Palmeiras, Dira Paes, Thaila Ayala, Matheus Solano, Preta Ferreira, Luís Nassif, Renato Braz e Letícia Sabatella se comprometeram em assinar a carta manifesto.

“A classe artística tem um poder de mobilização muito forte, por isso é fundamental que tenhamos artistas de renome nacional apoiando a causa da preservação do Pantanal”, pontua Vander.

“Cada artista que puder gravar um vídeo com ‘cápsulas’ [mensagens] de educação ambiental já estará ajudando muito”, afirmou a coordenadora da Comissão, deputada Professora Rosa Neide (PT-MT), ao sugerir o engajamento dos artistas através do uso de suas redes sociais – ferramenta amplamente difundida na comunicação direta com o público.

Legislação integrada – O objetivo da carta em defesa do Pantanal é que a mobilização de artistas repercuta na sociedade, de modo que os parlamentares tenham mais força para aprovar leis e, por fim reivindicar por parte do Executivo Federal que se cumpram as políticas públicas de preservação ambiental – em especial nas áreas que têm sido palco de muitos desastres, como o Pantanal e a Floresta Amazônica. O documento pode, inclusive, servir de exemplo e jogar luz em outras áreas que vêm sofrendo ameaças, como os manguezais.

No que diz respeito ao Pantanal, a Comissão pontuou o quadro desolador provocado pelas queimadas em 2020. Cerca de 27% da vegetação do bioma já foi atingida pelo fogo, de janeiro até agora, algo que corresponde a 4,1 milhões de hectares ou o equivalente à área do Estado do Rio de Janeiro.  

O cenário é tão alarmante que pesquisadores de diversas entidades estimam que sejam necessários ao menos quatro anos para que o Pantanal consiga se recuperar. Isso desde que o problema não venha a se repetir com a mesma intensidade nos próximos anos.  

Para garantir que o quadro não se repita, uma das alternativas sugeridas é a criação de leis integradas entre os dois estados que abrigam esse importante bioma – Mato Grosso do Sul e Mato Grosso – sem excluir o diálogo com os países vizinhos Bolívia e Paraguai, detentores de outra parte do Pantanal.

“Conheço o trabalho feito na Assembleia de Mato Grosso do Sul e tive a oportunidade de participar de uma audiência com deputados da Assembleia de Mato Grosso. Tenho certeza que é plenamente viável que os legislativos possam dialogar para formular uma legislação ambiental conjunta para atender aos problemas que temos visto no Pantanal”, defende o deputado Vander.

Papel social – O músico, cantor e compositor Almir Sater, que é natural de Campo Grande (MS), destacou a importância da valorização da ciência e de dar voz ao povo pantaneiro. “É preciso um debate sério, sem emoção, entre cientistas e os pantaneiros, para se pensar sobre medidas que venham evitar o mesmo problema. Os pantaneiros são pouco ouvidos”.

Em relação ao protagonismo regional, a escritora e roteirista Edmara Barbosa, filha do consagrado autor de telenovelas Benedito Ruy Barbosa, apresentou propostas em prol da causa. Uma delas é o replantio de árvores nativas através de uma força-tarefa executada por artistas, brigadistas e o povo pantaneiro. “Tenho o projeto Floresta Viva, que busca dar o protagonismo aos moradores de cada local. Com a Globo, na novela Pantanal [remake] que a gente vai gravar, quero que com o apoio da emissora a gente consiga colaborar para construir um legado. Não pode só ir lá e gravar.”

A roteirista ainda falou de como a chegada das câmeras pode ir além do contexto da teledramaturgia. “Para quem mora nas grandes cidades é muito fácil querer culpar o indígena, o ribeirinho, porque não sabe de fato como essas pessoas vivem. Nas gravações do Velho Chico, vi o quão as pessoas do entorno do Rio São Francisco queriam nos ajudar. Por essa vivência e pensando do papel social da arte, com a Globo topando ou não, quero ir reflorestar”, explicou Edmara, que convidou todos os presentes na reunião a fazer parte dessa iniciativa por soluções palpáveis.

Política verde – A proposta de Edmara vai ao encontro do que o ator Marcos Palmeira propôs quanto ao fomento de práticas sustentáveis de produção. “Estou cansado da economia de commodities. O Brasil está perdendo a oportunidade de ser um país do futuro, precisamos mudar o foco, pensar numa economia verde”, disse ele, que também fez uma crítica à atual gestão. “É impossível não falar em um ministro do Meio Ambiente [Salles] que odeia o meio ambiente. Nunca vi isso”, lamentou.

Representando a população sul-mato-grossense, a cantora Tetê Espíndola expôs suas preocupações quanto ao futuro do bioma, que tanto serviu de inspiração para a arte da família Espíndola. “Eu tenho pássaros na garganta, já me disseram, e meus pássaros se calaram ao ver a situação do Pantanal.  Mas hoje, com esse encontro, é como ter o canto [esperança] desses pássaros”, justificou ela, que se colocou favorável a carta.

No que implica ações parlamentares, o deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ) evidenciou o quanto a articulação com os artistas é necessária. “A irresponsabilidade ambiental é um projeto político [do atual governo]. Mas, a política tem que ser uma coisa boa. Então, a arte é fundamental para que isso aconteça, de modo a levar essa mensagem para mais gente”, argumentou ele, que vê a cultura como uma forte ferramenta de reflexão e formação de opinião.

Com tudo o que foi exposto, a coordenadora da Cexquei, deputada Professora Rosa Neide, viu a possibilidade de agendar uma diligência ao Pantanal com uma comitiva artística. “Além da carta, podemos pensar na visita in loco, com a realização de uma audiência no Pantanal, em Corumbá [MS]. Foi feita uma sessão similar em Poconé [MT]. Como já foi dito aqui, é importante ouvir o povo pantaneiro para que se possa tomar medidas práticas de preservação”, concluiu.

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