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Convivência mais próxima com agressores impede vítimas de buscarem ajuda

06/06/2020 17h15
Da redação com informações da Ascom

Violência contra a mulher em tempos de pandemia foi tema do workshop virtual realizado pelo Conselho Estadual de Direitos da Mulher de Mato Grosso do Sul (CED/MS). “Com o isolamento social, as mulheres
vítimas de violência estão com sua rede de apoio comprometida, além de estarem convivendo diretamente com o agressor. Por isso, neste workshop, nossa intenção é conscientizar essas mulheres de seus direitos
e mostrar a elas os mecanismos de denúncia que elas podem recorrer mesmo durante a quarentena”, falou a presidente do CED/MS, Mara Caseiro.

Segundo a palestrante convidada, delegada titular da Delegacia Especializada da Mulher (DEAM), Fernanda Félix, a convivência mais próxima dos agressores neste momento de isolamento social tem
dificultado as vítimas a se dirigirem a uma delegacia ou a outros locais que prestam socorro. “Sabemos que os casos de violência doméstica e têm aumentado, mas a busca por ajuda tem sido menor pelo fato de as
mulheres estarem em casa com um contato maior com o agressor”, afirmou.

Na tentativa de diminuir os casos de violência contra mulher como o feminicídio – que só neste ano já possui 16 casos em todo o Estado, foram criados o site: www.naosecale.ms.gov.br e um canal de denúncia por meio do aplicativo MS Digital. “O governo juntamente com a Subsecretaria de Políticas Públicas para Mulheres (SBPPM), estão atentos com a situação da mulher que está constantemente com o agressor neste tempo de pandemia. Por isso criamos essas ferramentas de denúncia virtual para que a mulher não se cale”, disse a subsecretária Luciana Azambuja. “O silêncio mata, não se cale, procure ajuda!”, alertou.
Participando do workshop, duas vítimas de agressão contaram suas experiências. Uma delas é a Juliana Reis que falou sobre os traumas que ficaram mesmo após anos longe do agressor e antigo companheiro. “Ele me batia na frente dos meus filhos e depois se fazia de vítima. Fica o trauma psicológico e a luta contínua pela minha proteção e a de minha família”, lamentou.

Sobrevivente de uma vítima de feminicídio, Bruna Oliveira contou como foi o episódio em que quase foi assassinada pelo ex-marido. “Eu já estava separada havia dois meses quando ele entrou na minha casa de madrugada e começou a me bater com um pé de cabra. Eu estava dormindo, acordei com as pancadas e demorou para entender se o que estava acontecendo era real ou um pesadelo”, relatou.

Bruna conseguiu fugir, mas assim como Juliana, ainda carrega as marcas da violência em sua alma. “Eu quero alertar as mulheres de que a violência não é sua culpa, pois era assim que eu me sentia. Quando estávamos casados, eram constantes as pequenas demonstrações de violência. Eu achava normal, pensava que casamento era assim mesmo. Infelizmente, isso acontece com outras mulheres também”, disse ela.

Médica psiquiatra e professora do curso de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), a doutora Danusa Guizzo, afirmou que 1 em cada 3 mulheres sofreram ou irão sofrer violência sexual e psicológica na vida. Segundo ela, na maioria dos casos, os agressores são parceiros e
homens. “Geralmente a violência começa com humilhação e xingamentos, depois dá uma escalada para a agressão física. É um fenômeno da nossa cultura machista que ainda é muito predominante”, afirmou.

Conforme relatado pelas vítimas, a culpa é um dos fatores que impedem a mulher de reconhecer e denunciar a violência. “O homem diz que se arrependeu e pede perdão, ou então culpa a mulher pela agressão e se faz de vítima. Isso cria uma culpa na mulher e, ao mesmo tempo, uma esperança de que tudo vai melhorar”, disse Guizzo.

Para romper esse ciclo, a psiquiatra falou sobre a importância de a mulher saber de seus direitos e não aceitar nenhum tipo de agressão, seja ela verbal, virtual, física, sexual ou psicológica. Outra fator importante é o tratamento adequado para o agressor. “Geralmente o homem violento é uma vítima que precisa de um tratamento adequado para não voltar a agredir. Além do histórico e das questões culturais, existem fatores como a dependência de drogas, de álcool, bem como doença mental”, explicou.

Após a fala da psiquiatra, as participantes do workshop tiraram dúvidas sobre casos de violência como, por exemplo, a realização de denúncias anônimas. Neste caso, basta ligar no 190 ou então, fazer a denúncia nos canais virtuais: www.pc.ms.gov.br/ e no aplicativo MS Digital.

Divulgação

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