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domingo, 20 de julho, 2025
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Clima extremo eleva mortes evitáveis no Brasil e no mundo, aponta pesquisa

Calor e frio intensos matam mais de 140 mil no Brasil e alertam para vulnerabilidades sociais

Um estudo recente publicado na revista científica Temperature, em maio, trouxe à tona um fenômeno silencioso, porém letal: a elevada mortalidade causada por temperaturas extremas — tanto pelo calor quanto pelo frio. A pesquisa, que analisou dados da Índia entre 2001 e 2019, identificou mais de 34 mil mortes diretamente associadas ao calor e ao frio intensos, destacando vulnerabilidades sociais que se repetem em países como o Brasil.

Segundo os pesquisadores, homens em idade produtiva foram os mais impactados pelas altas temperaturas, enquanto o frio afetou de forma mais equilibrada homens e mulheres. As mortes foram significativamente maiores em regiões menos urbanizadas e com menor investimento em políticas sociais, evidenciando que infraestrutura urbana e proteção social funcionam como barreiras cruciais contra os extremos climáticos.

Um problema global

Embora o foco tenha sido a Índia, a situação reverbera globalmente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que quase 489 mil pessoas morreram devido à exposição ao calor entre 2000 e 2019. Na Europa, por exemplo, a onda de calor de 2003 causou mais de 70 mil mortes em apenas três meses.

Impactos no Brasil

O Brasil também sofre com os efeitos das variações térmicas, que agravam as desigualdades sociais. Um levantamento divulgado em 2022 na revista Nature Medicine mostrou que cerca de 6% de todas as mortes urbanas na América Latina estão relacionadas ao calor e frio extremos. O calor, em especial, aumenta em 5,7% a mortalidade geral para cada grau Celsius de elevação da temperatura.

Outro estudo, publicado em 2024 na Environmental Epidemiology, apontou que o país registrou mais de 142 mil mortes associadas a temperaturas extremas entre 1997 e 2018 — sendo 113 mil provocadas pelo frio, especialmente nas regiões Sul e Sudeste. Já as mortes por calor vêm crescendo principalmente no Norte e Centro-Oeste.

A exposição prolongada a temperaturas extremas pode provocar insolação, infartos, arritmias, AVCs, pneumonia, transtornos mentais e até colapsos renais. Os mais vulneráveis são idosos, recém-nascidos, pessoas em situação de rua e trabalhadores ao ar livre, como os da construção civil, agricultura e coleta de resíduos.

Políticas públicas ainda insuficientes

Nos últimos anos, o Brasil iniciou ações para enfrentar o problema. Em 2023, o governo federal lançou o Plano Clima, uma estratégia interministerial com metas até 2035. O Ministério da Saúde criou o Plano Setorial de Saúde para Mitigação e Adaptação à Mudança do Clima, reconhecendo o impacto direto do clima na saúde da população.

No âmbito local, cidades como São Paulo implementam a Operação Altas Temperaturas, que oferece tendas de hidratação para pessoas em situação de rua. O Rio de Janeiro criou um protocolo de alerta de calor após a morte de uma jovem durante um show em meio à onda de calor de 2023. Já as cidades do Sul têm intensificado campanhas emergenciais no inverno, com distribuição de cobertores, alimentos e abrigos temporários.

Apesar desses avanços, especialistas apontam que as medidas ainda são pontuais e desarticuladas, deixando muitos grupos vulneráveis expostos aos riscos das temperaturas extremas. A integração de políticas sociais, urbanas e de saúde é vista como fundamental para mitigar os impactos das mudanças climáticas sobre a população.

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