Jovens transformam lixão em floresta urbana com apoio do Senar/MS em Ponta Porã

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Foto: Divulgação

Um antigo lixão desativado de Ponta Porã, antes marcado por resíduos, mau cheiro e solo degradado, hoje começa a dar lugar a uma nova paisagem de uma floresta urbana em formação. A mudança é conduzida pelo grupo Agrofronteiras, vencedor da edição 2025 do programa Jovem Sucessor Rural, iniciativa pioneira do Senar/MS voltada à formação de novas lideranças para o campo.

A ação uniu recuperação ambiental, educação, identidade cultural e mobilização social. Com planejamento técnico, parcerias institucionais e orientação adquirida a partir do programa, os jovens deram início ao reflorestamento da área, utilizando espécies nativas e técnicas que favorecem a retomada da vida no solo e a regeneração do ecossistema local.

“O resultado ficou muito maior do que imaginávamos. Conseguimos recuperar parte da área, envolver escolas, trazer estudantes de agronomia, mobilizar poder público e sociedade civil. O resultado não é só ambiental, é social, educativo e cultural. Foi extremamente gratificante ver tudo isso acontecer”, comenta o representante do grupo, Ronaldo Gonçalves.

Jovens transformam lixão em floresta urbana com apoio do Senar/MS em Ponta Porã
Agrofronteiras apresentou o melhor projeto dentre os oito participantes do Jovem Sucessor Rural deste ano (Foto: João Carlos Castro/Famasul)

A ideia de atuar no lixão surgiu quando o grupo tomou conhecimento de que a área estava em processo de desativação. Em vez de aceitar o abandono do espaço, viram ali uma oportunidade de ressignificação. O ponto de partida foi uma visita técnica ao local para avaliar o nível de degradação e a viabilidade de recuperação.

Na sequência, os jovens pesquisaram quais espécies nativas seriam mais adequadas para a recuperação de um solo tão comprometido.  O primeiro plantio, realizado com mudas de ipê, revelou a dimensão do desafio. “O solo era extremamente compactado, cheio de entulhos e resíduos, faltavam ferramentas adequadas e não tínhamos como garantir a irrigação diária necessária para que as plantas sobrevivessem”, relembra Ronaldo.

Foi então que, com o respaldo do Sindicato Rural de Ponta Porã, o projeto começou a ser apresentado a órgãos públicos e parceiros estratégicos. A partir disso, vieram as doações de mudas, ferramentas, insumos, o uso de hidrogel para retenção de água no solo e o terraceamento do terreno, garantindo melhores condições para o reflorestamento.

O IFMS também se juntou à iniciativa, envolvendo professores e acadêmicos de Agronomia no processo de plantio, transformando a ação em uma verdadeira aula prática a céu aberto.

Eles optaram por espécies nativas e adaptadas ao bioma local, Priorizando plantas com potencial de recuperação do solo, como pata-de-vaca e moringa, além da erva-mate, escolhida não apenas pela resistência, mas pelo valor histórico e cultural para a cidade fronteiriça, conhecida como a “Princesinha dos Ervais”.

Jovens transformam lixão em floresta urbana com apoio do Senar/MS em Ponta Porã
Grupo se conheceu nas aulas do programa do Senar/MS (Foto: Arquivo Pessoal)

Segundo o grupo, o impacto do projeto vai além da recuperação ambiental. A ação envolveu poder público, estudantes, instituições e a população em geral, despertando a reflexão sobre o destino dos resíduos, a importância da recuperação de áreas degradadas e o protagonismo da juventude rural.

Com formação, apoio técnico e protagonismo juvenil estimulados pelo Senar/MS, o que era um símbolo de abandono começa a se tornar um exemplo de recuperação, consciência e futuro.

“Ver mudas novas ganhando vida ali dá a sensação de que estamos devolvendo dignidade para o espaço. É um sentimento de esperança, de transformação real. Como grupo jovem, sentimos que deixamos uma marca positiva para o futuro da cidade”, complementa Gonçalves.

A conquista do primeiro lugar no Jovem Sucessor Rural 2025 foi recebida como uma validação do esforço coletivo. Agora, os planos incluem a formalização da associação, a ampliação do reflorestamento e a transformação do espaço em um projeto permanente para o município.

Jovens transformam lixão em floresta urbana com apoio do Senar/MS em Ponta Porã
Centenas de mudas nativas foram plantadas onde antes havia degradação (Foto: Arquivo Pessoal)

Jovem Sucessor Rural

O Jovem Sucessor Rural é um programa pioneiro do Senar/MS criado para preparar as novas gerações para a liderança no campo. Voltado a jovens ligados ao meio rural, o curso aborda temas como sucessão familiar, responsabilidade social, oratória, inovação, empreendedorismo, desenvolvimento pessoal e gestão no agronegócio. A proposta é capacitar esses futuros líderes com uma formação sólida, tanto técnica quanto comportamental, para que estejam prontos a dar continuidade aos negócios rurais com visão estratégica e sustentável.

Com duração de até nove meses, o programa é gratuito e realizado em parceria com os Sindicatos Rurais de diversos municípios. As aulas acontecem duas vezes por mês e incluem dinâmicas práticas, oficinas, visitas técnicas e desenvolvimento de projetos voltados a soluções reais para desafios do setor agropecuário. Além da formação, o programa promove uma premiação entre os grupos participantes, reconhecendo as melhores ideias com potencial de transformação no campo.

Muito além de um prêmio

A proposta apresentada pelo Agrofronteiras se destacou justamente por sua ousadia, relevância ambiental e conexão direta com a comunidade urbana e rural de Ponta Porã. Para eles, o Jovem Sucessor Rural foi mais do que uma capacitação: foi o ponto de encontro entre jovens que nem se conheciam, mas compartilhavam o mesmo propósito de transformação. O tema escolhido “Cruzando fronteiras e colhendo sucessos” não ficou apenas no discurso. O grupo é formado por brasileiros, paraguaios e jovens de diferentes cidades, que encontraram no programa um espaço de união, aprendizado e liderança coletiva. Foi nas aulas que perceberam afinidades, alinharam objetivos e entenderam que poderiam gerar impacto real na comunidade.

O curso ampliou a visão dos participantes sobre o papel da juventude rural, fortaleceu competências de comunicação, organização e trabalho em equipe e despertou o senso de responsabilidade socioambiental. A experiência prática do projeto aplicado consolidou o aprendizado teórico recebido durante a formação.