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Crianças superdotadas são menos de 0,04% dos estudantes no Brasil

País tem 19.699 alunos com superdotação ou altas habilidades estudando na educação básica. Em SP, a rede municipal registrou 42 casos

21/10/2018 08h57
Por: Márcio Neves/R7

O Brasil tem 19.699 alunos com superdotação ou altas habilidades matriculados na educação básica em todo país, segundo dados do Censo Escolar de 2017 do Ministério da Educação. O número representa apenas 0,04% dos mais de 48 milhões de alunos matriculados nesta fase escolar. Em São Paulo, a rede municipal de ensino registrou 42 alunos com esse perfil.

A maioria destes alunos estudam em classes comuns, misturados a outros alunos. Apenas 248 crianças estudam em escolas exclusivas ou especializadas para o atendimento de superdotação.

Ada Toscanini, presidente da APAHS (Associação Paulista para Altas Habilidades e Superdotação), afirma que os números são baixos pois existe uma subnotificação. “As escolas e até mesmo os pais não estão preparados para identificar e principalmente trabalhar e desenvolver o potencial de crianças com superdotação ou altas habilidades”, afirma.

No início deste ano, o MEC iniciou um trabalho para cadastrar crianças com superdotação e altas habilidades no país, mas o projeto ainda está em desenvolvimento. A ideia é mapear os alunos com este perfil e elaborar um plano adequado para desenvolver o potencial destas crianças.

“Elas precisam ser estimuladas e compreendidas, pois desenvolvem e perdem interesse para determinados assuntos com muita facilidade, então é um desafio para o professor, que neste tipo de ensino faz o papel de mediador com a criança”, ressalta Ada.

Entidades como a APAHS (Associação Paulista para Altas Habilidades e Superdotação) desenvolvem, sem ajuda do setor público, atividades e atendimento especializado na educação de crianças com este perfil. Durante pouco mais de duas horas, a reportagem conversou com alguns alunos da associação sobre diversos assuntos que revelam o potencial de interesse e capacidade destas crianças.

O que pensam essas crianças?

Isabela Yamamoto está preocupada com o grande número de fábricas que emitem poluentes no planeta. João Pedro busca entender se existe a possibilidade de a Terra ser extinta em algum momento de sua vida. Guilherme Bertolani acha que a corrupção no setor público prejudica as pessoas. Já Guilherme Chem anda preocupado com o seu futuro e teme não conseguir se aposentar.

Preocupações absolutamente normais, se não fossem apenas crianças. Isabela tem 7 anos, João, 8, Guilherme, 9, e Chem, 11. Como toda criança gostam de brincar, conversar, são curiosos e inteligentes. Só que nesse caso muito mais inteligentes que a média.

Com a doçura típica de uma menina de 7 anos, mesmo em meio a sua preocupação em eliminar o problema da poluição no planeta, Isabela conta que adora poder conversar e brincar com uma amiga vizinha, com quem também faz aulas de natação.

João já é um tanto mais inquieto. Gosta de gesticular, falar e é bastante desinibido. Em um destes momentos conta sobre o insucesso de sua última experiência química. “Tentei pegar o bicarbonato para fazer uma experiência, mas minha vó não deixou”, diz ele lamentando.

Guilherme tem um vocabulário impecável. Gosta de observar a cidade onde vive e reclama das condições do seu bairro. “Está muito feio, muita pichação, muito entulho jogado nas ruas, algo precisa ser feito”, afirma com ar de quem busca uma solução.

Chem é mais tímido. Fala pouco, mas se expressa muito bem quando quer expor o que pensa. Fã de games, ele conta orgulhoso que faz um curso para desenvolvimento de jogos. “Eu adoro ir para o curso de programação, já ganhei até um prêmio por um projeto que montei lá”, me explica o garoto, lamentando que seu Nintendo DS está com um problema.

Bullying é uma preocupação em comum. “É um jeito de provocar os mais fracos porque eles não têm capacidade de se defender”, reflete com cautela Chem.

“Pra mim é tipo: você não sabe fazer certa coisa. Então leva dor pra casa!”, complementa João. “Eu já acho que zombar de alguém por algo que não ela consegue fazer não é justo, é errado”, diz Isabela com ar de reprovação. Guilherme, por fim, diz que concorda com todos e que “tudo que eles disseram representa o bullying e isto é algo terrível”.

**Pequenos com grandes argumentos **

A sensação é de estar numa roda de amigos da universidade. Todos com argumentos consistentes e muitas vezes com divergências entre si. Em um momento ou outro, um deslize ou outro, lembra que aquela conversa é entre crianças.

Química, astrofísica e planejamento urbano são alguns dos temas de interesse comum. Durante o papo, eles apresentam um projeto em que trabalharam nos últimos dias: uma horta urbana.

Orgulhosos e com a propriedade de “biólogos”, eles explicam que tiveram cuidado de selecionar para a horta, montada em um caixote de feira, hortaliças e frutíferas de pequeno porte que pudessem se desenvolver com condições limitadas de luz e até de espaço.

Sonhos de criança

No fim da conversa, pergunto para o grupo seus sonhos de criança. Chem diz querer terminar seu robô de papelão, João quer ir a um show de um Youtuber de games e Isabela quer viajar para a Disney. Já Guilherme, emociana as duas mediadoras que acompanhavam a conversa: ele quer aproveitar muitos seus pais enquanto eles estiverem vivos.

Um sinal de que mesmo com mentes tão brilhantes, seus sonhos são simples como os de qualquer criança.

Crianças superdotadas mostram seu projeto de horta urbana. Márcio Neves/R7

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