25.8 C
Campo Grande
quinta-feira, 28 de março, 2024
spot_img

Militares e PSL disputam sucessão de Bebianno no governo Bolsonaro

Jair Bolsonaro também pode extinguir a pasta, esvaziada depois da remoção da Secom e do PPI, que foram para a Secretaria de Governo

17/02/2019 14h24
Por: Folhapress

A iminente queda do ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral) –diante do agravamento da crise sobre as candidaturas laranjas, reveladas pela Folha de S.Paulo – abriu nos bastidores do governo uma disputa sobre o futuro da pasta.

Almejam o comando do ministério, localizado no privilegiado quarto andar do Palácio do Planalto, militares e quadros do PSL. O partido do presidente Jair Bolsonaro defende que é necessário manter a representatividade das atuais duas pastas no governo.

O PSL tem dois representantes: Bebianno na Secretaria-Geral e no Turismo, Marcelo Alvaro Antonio. Ambos envolvidos na crise do esquema de candidaturas laranjas para desvio de verba pública eleitoral nas eleições passadas, período em que o PSL era presidido por Bebianno.

Há ainda a possibilidade de o presidente Bolsonaro extinguir a Secretaria-Geral, que ficou esvaziada depois que ele removeu de sua estrutura a Secom (Secretaria de Comunicação Social) e o PPI (Programa de Parcerias e Investimentos), que foram para a Secretaria de Governo.

Na frente militar, o favorito para assumir o lugar de Bebianno é o general Floriano Peixoto, hoje secretário-executivo do ministério. A ideia é que, confirmada a demissão do titular, prevista para esta segunda-feira (18), ele passe a ocupar interinamente a função.

Peixoto é general da reserva do Exército e foi comandante da missão no Haiti. Chegou a ser indicado por Bebianno para assumir a Secom durante o governo de transição, mas teve seus planos frustrados quando Bolsonaro retirou a secretaria da pasta. À época, o militar chegou a fazer um pente-fino nos contratos de publicidade do governo, promessa de campanha do presidente.

Além dele, um outro militar da reserva está na lista de possíveis ocupantes do cargo, o general Maynard Marques de Santa Rosa, que hoje ocupa a SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos) do ministério.

Aliados do vice-presidente, general Hamilton Mourão, defendem, por exemplo, que seja ele o novo chefe da Secretaria-Geral. Mourão já disse em entrevistas que gostaria de ter uma função administrativa no governo.

Entre essas possibilidades, a indicação do PSL é vista como a menos provável. Há um temor de que as suspeitas envolvendo repasses de verbas públicas a candidatos de Minas Gerais e Pernambuco sejam encontradas em outros estados do país e a crise se espalhe ainda mais pelo governo.

Como revelou a Folha em 4 de fevereiro, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, patrocinou um esquema de candidaturas de fachada em Minas, que também receberam recursos volumosos do fundo eleitoral do PSL nacional e que tiveram votações pífias. Parte do gasto que elas declararam foi para empresas com ligação com o gabinete de Álvaro Antônio na Câmara.

Na semana seguinte, outra reportagem mostrou que que foi criada uma candidatura laranja em Pernambuco para receber do partido R$ 400 mil de dinheiro público usado oficialmente em uma gráfica fantasma. Responsável por liberar o dinheiro, Bebianno nega envolvimento com as irregularidades.

A temperatura da crise subiu na quarta-feira (13), quando Carlos, o filho que cuida da estratégia digital do presidente, postou no Twitter que o então ministro havia mentido ao jornal O Globo ao dizer que conversara com Bolsonaro três vezes na véspera, negando a turbulência política causada pelas denúncias das candidaturas laranjas.

Mais tarde, no mesmo dia, Carlos divulgou um áudio no qual o presidente da República se recusa a conversar com Bebianno.

Bolsonaro, que seguia para Brasília depois de passar 17 dias internado em São Paulo após cirurgia para reconstruir o trânsito intestinal, endossou a atitude do filho –e o fez publicamente, repostando a acusação de Carlos e dizendo em entrevista à TV Record que não havia conversado com o ministro.

Na mesma entrevista à Record, o presidente disse ter determinado a abertura de inquérito da Polícia Federal sobre o esquema de candidaturas laranjas de seu partido e que, se Bebianno estivesse envolvido, “o destino não pode ser outro a não ser voltar às suas origens”, ou seja, deixar o governo.

A gota-d’água para a demissão, segundo integrantes do Planalto, foi o vazamento de diálogos privados entre Bolsonaro e Bebianno, exclusivos da Presidência, ao site O Antagonista e à revista Veja.

No sábado (16), Bebianno confirmou que o presidente Bolsonaro pretende demiti-lo nesta segunda.”A tendência é essa, exoneração”, disse ele a jornalistas. “Eu quero ver o papel com a exoneração, a hora em que sair o papel com a exoneração é porque eu fui exonerado”, afirmou.

O ministro confirmou ainda que recusou uma oferta de assumir uma diretoria em Itaipu em troca de deixar o Palácio do Planalto. “Não foi esse meu emprego, meu projeto era eleger a pessoa que me inspirava confiança e eu achava que ia mudar os rumos do Brasil para melhor”, afirmou.

Ele negou ter tido uma conversa ríspida com o presidente Bolsonaro na sexta-feira (15) e ter vazado áudios de conversas privadas com o presidente. “Não vazei nada, nunca fiz isso”, disse.

Bebianno criticou a Folha, que publicou uma série de reportagens revelando um esquema de candidaturas laranjas do PSL com uso de recursos públicos eleitorais. Ata de reunião do partido delegou a Bebianno a responsabilidade pelos repasses dessa verba a esses candidatos.

“Se for provado algo contrário a responsabilidade não é minha, não é da nacional, isso não existe. Simplesmente a Folha de S.Paulo tenta forçar, induzir essa coisa, mas não é verdade. Simplesmente a Folha de S.Paulo consegue atingir a honra de uma pessoa de bem porque, porque na política a gente sabe como as coisas funcionaram até aqui. Então a política é muito mal vista”, disse Bebianno.

“A minha consciência está absolutamente tranquila e limpa, a Folha de S.Paulo publicou tentando me vincular, não tem nada a ver comigo, isso é a lei, o estatuto do partido, é o bom senso”, ressaltou.

 Cléber Medeiros/Senado Federal

Fale com a Redação