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Países que naturalizam violência tendem a afrouxar leis sobre armas

Para pesquisador australiano, massacre em Parkland, nos EUA, e em Christchurch, na Nova Zelândia foram catalisadores para mudanças

23/03/2019 09h59
Por: Giovanna Orlando/R7

Poucas horas depois do massacre na Nova Zelândia, em que um terrorista de extrema-direita invadiu duas mesquitas e matou 50 pessoas, a primeira-ministra Jacinda Arden afirmava em discurso que as leis de armamento no país iriam mudar. As armas semiautomáticas foram proibidas seis dias depois.

O mesmo não é visto nos Estados Unidos, que conta com um ou mais tiroteios por dia, segundo o Gun Violence Archive, que monitora a violência armada nos 50 estados do país. Um dos países mais armamentistas do mundo, os Estados Unidos têm entre 265 a 393 milhões de armas nas mãos de civis.

A diferença entre os dois países é a normalização da violência, afirma George Rennie, professor de Política na Universidade de Melbourne, na Austrália, e especialista em política estadunidense.

“O massacre de Columbine, em 1999, chocou os Estados Unidos. Aquilo era algo incomum. O congresso mudou algumas leis, eles baniram rifles. Mas, hoje em dia, os americanos são tão acostumados com armas que a violência é algo normal para ele, é o jeito que as coisas são”, explica.

Para o especialista, o choque depois de um massacre como o da Nova Zelândia foi decisivo para mudanças nas leis. “Os tiroteios e conflitos armados são tão raros que as pessoas não conseguem ver aquilo como normal. Isso faz mudanças e ações serem tomadas”, conta.

A Austrália também viveu um massacre que fez com que as leis de armas mudassem. Durante dois dias, uma onda de assassinatos matou 35 pessoas e deixou outros 26 feridos, em 1996, em uma região turística. Com isso, o governo restringiu o acesso a armas e deixou as leis mais rígidas.

“A violência armada caiu depois disso. O número de assassinatos diminuiu significativamente, e o de suicídios também. A polícia começou a levar o trabalho mais a sério e restringiram o acesso a armas semiautomáticas e automáticas. Não houve mais massacres públicos e o último tiroteio que teve por aqui foi há dois anos atrás”, conta. “Eu acho que é muito claro que leis mais duras fazem uma diferença”, conclui.

O estopim da mudança nos EUA

Os Estados Unidos estão começando a rever a legislação de armas pela primeira vez desde 1996. Vinte e cinco estados, incluindo alguns governados por Republicanos, criaram leis que pedem uma pesquisa de antecedentes mais rígida, baniram dispositivos que transformam armas semiautomáticas em automáticas e vão implementar programas para controlar a violência urbana.

Para Rennie, essas mudanças foram motivadas depois do massacre em uma escola de Parkland, em que um jovem matou 17 estudantes. “Era esperado que as coisas mudassem depois do tiroteio em Sandy Hook, em que as vítimas eram principalmente crianças, mas o diálogo só mudou depois de Parkland”, conta.

Motivados por um discurso contra armas, os jovens organizaram marchas e protestos pedindo uma regulação mais rígida e um controle mais efetivo de armas. “Os estudantes começaram a conversar e pressionar diretamente o governo, eles protestavam do lado de fora dos escritórios, da casa deles. Esse ativismo foi o grande catalisador”, explica.

Depois de Parkland, o presidente Donald Trump sugeriu que professores tivessem armas e treinamento para neutralizar uma possível ameaça. Além disso, alunos também passam por simulação de ataques para saber o que fazer caso um atirador entre no colégio.

“Os tiroteios afetaram a sociedade de uma forma perturbadora. Eles têm uma alta tolerância para coisas desse tipo. Pais compartilham fotos dos filhos no jardim de infância passando por essas simulações. Claro que esse medo não é irracional”, analisa.

Primeira-ministra da Nova Zelândia muda lei de armamento depois de massacre. Jorge Silva/ Reuters

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