13º salário exige planejamento para evitar dívidas no início do ano

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Valor não deve ser encarado como "renda extra", segundo especialistas (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Economistas e contadores indicam estratégias para organizar as finanças e investir melhor

Entre dívidas acumuladas, compras de fim de ano e despesas típicas do início de janeiro, o 13º salário costuma abrir um leque de possibilidades para o trabalhador brasileiro. No entanto, especialistas alertam que o uso desse recurso exige cautela e planejamento para evitar que o ano comece no vermelho.

Ouvidos pela reportagem, profissionais da área financeira destacam que o décimo terceiro pode ser decisivo para organizar as contas e fortalecer a saúde financeira. Para o economista e consultor financeiro André Mirsky, o valor funciona como um “colchão de proteção” para um período tradicionalmente mais pesado no orçamento, marcado por gastos como IPVA, IPTU, matrícula escolar e faturas das festas de fim de ano.

Segundo Mirsky, uma estratégia eficiente é dividir o uso do 13º em três frentes principais: pagamento de despesas inevitáveis do início do ano, quitação ou redução de dívidas e formação de uma reserva financeira. “A lógica é diminuir riscos, reduzir custos e evitar que a pessoa comece janeiro já no negativo”, afirma. Na prática, ele sugere destinar cerca de 50% do valor para despesas essenciais, 30% para dívidas ou reserva financeira e até 20% para consumo e lazer, desde que a situação permita.

O planejamento também é apontado como fundamental para evitar novos endividamentos. A contadora Carol Mendes recomenda que os gastos fixos do começo do ano sejam listados com antecedência e, sempre que possível, cobertos com o 13º salário. “O objetivo é começar o ano com a menor quantidade de contas futuras possível, criando folga no orçamento de janeiro e fevereiro”, explica.

Para quem já enfrenta dívidas, a orientação é priorizar aquelas que impactam diretamente o conforto e a segurança, como aluguel, condomínio e planos de saúde. Em seguida, devem entrar no radar os débitos com juros elevados, como cheque especial e rotativo do cartão de crédito. Caso a quitação total não seja viável, especialistas indicam a renegociação. “Usar o 13º como entrada pode garantir descontos significativos ou redução das parcelas”, ressalta Carol.

Além de ajudar no orçamento doméstico, o pagamento do décimo terceiro tem impacto direto na economia. A estimativa é que cerca de R$ 369 bilhões sejam injetados no mercado com o benefício, impulsionando o consumo e a circulação de recursos no país.

Quando as dívidas não são um problema imediato, o 13º pode se transformar em oportunidade de investimento. Para o investidor profissional Hulisses Dias, o valor deve ser encarado como parte de um plano financeiro, e não como renda extra. “Aplicações como Tesouro Selic e CDBs com liquidez diária permitem acesso rápido ao dinheiro em emergências, sem assumir riscos desnecessários”, afirma.

A recomendação unânime é começar pela reserva de emergência. Segundo Carol Mendes, o 13º salário pode ser um excelente ponto de partida ou complemento dessa reserva, que pode ser formada por meio de CDBs de liquidez diária, Tesouro Selic ou contas digitais remuneradas. Para quem ainda não tem familiaridade com investimentos, a poupança pode ser uma alternativa inicial, embora menos rentável.

Com planejamento e escolhas conscientes, o 13º salário pode deixar de ser apenas um reforço temporário no orçamento e se tornar um aliado importante para começar o novo ano com mais tranquilidade financeira.