11/01/2017 18h45
Enquanto o agronegócio reclama, Guarani de MS surpreende-se com enredo de escola do Rio
midiamax
O samba enredo e a temática escolhida pela Imperatriz Leopoldinense – escola de samba do Rio de Janeiro -, para o carnaval 2017 levantou a fúria e as reações do agronegócio. Este ano, a Imperatriz escolheu falar sobre a luta dos povos do Xingu – mais de dez etnias, entre o centro-oeste e norte do país -, que enfrentam, entre outras adversidades, a gigante Belo Monte, já apelidada de Belo Monstro. Entidades como Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, Sociedade Rural Brasileira, Associação Brasileira dos Criadores de Girolando e a Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador já emitiram notas de repúdio.
Em Mato Grosso do Sul, ao menos duas entidades emitiram notas de repúdio: Famasul ((Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul), e Acrissul (Associação dos criadores de Mato Grosso do Sul). Além do samba enredo, a produção artística da escola caprichou em recursos visuais e tem, no mínimo, duas alas que provocaram a ira das entidades: a “fazendeiro e seus agrotóxicos” e a “doenças e pragas”.
Para um Guarani e Kaiowá de Mato Grosso do Sul, no entanto, o ‘peso’ da representação é quase impossível de ser descrito. É o que conta o biólogo Kaiowá, Natanael Vilhalva, 38, natural da aldeia Porto Lindo em Iguatemi – 466 km da Capital -. “Nunca imaginei que uma escola de samba pudesse levar nossa voz”, é como o indígena se sente.
“Na verdade assim, a gente nem imaginava que uma escola de samba poderia levar a nossa voz. A denúncia da floresta, da destruição da floresta, da poluição dos córregos, dos rios, faz muito tempo que a gente vem fazendo e isso Mato Grosso do Sul inteiro sabe. Todo mundo sabe, aqui, o que acontece, a gente tem, assim, prova, de que muitos fazendeiros da região aqui trazem veneno do Paraguai pra passar nas roças, nas lavouras, sem controle nenhum, e acaba poluindo o rio, destruindo as florestas. Hoje a estatística aí mostra que a amazônia está sendo destruída para plantação de soja, soja que não alimenta ninguém, que é vendida no exterior, pra fora, pra criação de gado. A maior parte da carne, fruto desse desmatamento, vai pra fora, então, pro setor do agronegócio dizer que está destruindo a imagem de um setor que dá alimentos para o Brasil, também não é uma verdade né, é uma inverdade”, relata.












