Em ofensiva contra execuções, polícia quer incriminar facção e barrar guerra

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Publicado em 17/10/2017 06h24

Em ofensiva contra execuções, polícia quer incriminar facção e barrar guerra

Desde fevereiro, ‘julgamentos’ determinaram decapitações e torturas

Correio do Estado

xecuções filmadas e corpos esquartejados ou carbonizados achados por moradores em plena luz do dia. Extrema violência e nenhum indício dos culpados. O que antes era comum somente na linha de fronteira, recentemente ficou mais comum em Campo Grande. A Capital agora é palco de uma guerra entre criminosos, com frequentes batalhas.

Para evitar que as brutalidades atinjam diretamente a sociedade, a Polícia Civil confirmou que montou uma ofensiva que pretende localizar provas para “incriminar” não só os autores diretos das execuções, como também líderes de facções, responsáveis por ordenar os crimes.

Na ação, pelo menos 10 assassinatos são investigados pela Delegacia Especializada na Repressão aos Crimes de Homicídio (DEH). Essas execuções ocorreram desde junho deste ano.

Entre os crimes apurados, estão mortes dentro do presídio de Segurança Máxima da Capital e execuções filmadas, seguidas de achado de cadáver em diferentes partes da cidade. O que elas têm em comum são indícios de que foram ordenadas pelo Primeiro Comando da Capital (PCC).

“Ainda é muito cedo para que possamos falar sobre essa investigação, o que posso dizer é que ela ocorre em conjunto com as unidades de área que investigam caso a caso. É um trabalho demorado, de paciência, levantamemto de dados, mas nosso foco são mortes determinadas em decorrência de briga de facções”, explicou o titular da DEH, Márcio Shiro Obara.

O delegado não revela detalhes sobre o curso da apuração, mas afirma que a polícia identificou que a maioria das ordens de execução partiu de dentro dos presídios.

“São pessoas que foram mantidas em cárcere, passaram por julgamento para que não cometessem mais crimes, mas continuam cometendo e crimes até piores do que aqueles pelos quais estão presas”, analisou o delegado.

Nesta fase, ainda segundo o Obara, o objetivo da polícia é identificar os líderes das organizações criminosas, já que são estes os responsáveis por “julgar” e ordenar a morte de desafetos e até ex-integrantes da facção, e materializar em provas aquilo que a polícia já sabe: que as execuções brutais são resultado da guerra entre facções.

“Existe uma sociedade criminosa inserida dentro da sociedade como um todo e essa sociedade criminosa está em conflito. Por isso estão ocorrendo esses crimes. E o crime organizado é bem complicado de se investigar porque há muitas ramificações. Mas vamos apurar até o ponto em que chegarmos na posição mais alta da hierarquia desta facção para que possamos oferecer ao Ministério Público instrumentos suficientes para uma ação”, disse.

EXECUÇÕES FILMADAS

A série de mortes brutais em Campo Grande, com indícios de ligação com a guerra de facções, começou em fevereiro deste ano, com uma execução filmada que ganhou repercussão.

Richard Alexandre Lianho, 25 anos, foi encontrado decapitado, com várias facadas pelo corpo e membros parcialmente arrancados. O crime só veio à tona quando o corpo estava na Cachoeira do Céuzinho, mas todo o crime foi filmado e o vídeo viralizou na internet.

Depois disso, outra morte filmada ganhou notoriedade. Fernando do Nascimento dos Santos, 22 anos, foi encontrado sem cabeça e com o coração para fora do corpo, no anel viário, no Jardim Los Angeles.

Nesse meio tempo, quatro detentos foram encontrados mortos na Penitenciária da Máxima, em Campo Grande, entre eles, José Alves do Ouro Filho, de 31 anos, e Luiz Fernando da Silva dos Santos, de 27 anos.

A princípio, as mortes foram tratadas como suicídio, mais tarde, a polícia explicou que as cenas dos crimes indicavam homicídios encobertos por uma simulação “muito mal feita”, conforme classificação da Polícia Civil.

Os assassinatos de Mauro Eder Araújo, 31 anos, Leoni de Moura Custódio, 18 anos, e Rudnei da Silva Rocha, 22 anos, também estão entre os investigados como sendo ordens do PCC.

Polícia no local onde Richard Alexandre Lianho foi encontrado morto, em fevereiro - Valdenir Rezende