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Ministério formado por Dilma desagrada base aliada no Congresso e pode dificultar segundo mandato

12/01/2015 12h00

Ministério formado por Dilma desagrada base aliada no Congresso e pode dificultar segundo mandato

R7

Algumas escolhas feitas pela presidente Dilma Rousseff colocaram em xeque a relação já estremecida desde a metade do seu primeiro mandato com a base aliada no Congresso Nacional.

Principal aliado do PT desde a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PMDB, do vice-presidente Michel Temer, já mostra sinais de desgaste na relação entre os dois partidos.

A escolha de Kátia Abreu (PMDB-TO) para o Ministério da Agricultura, escolha pessoal de Dilma, causou mal-estar dentro do partido, que já ensaia uma postura independente no Senado caso perca mais cadeiras no segundo escalão do governo.

A indicação também refletiu na aliança formada na Câmara dos Deputados. A ministra escolheu dois nomes da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) para compor o quadro do ministério, afastando apadrinhados políticos do líder de seu partido na Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), desafeto do Planalto.

Cunha, que é candidato à Presidência da Casa — com grandes chances de vitória —, indicou Marcelo Junqueira Ferraz para comandar a Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio do ministério, e Rodrigo Figueiredo para a Secretaria de Defesa Agropecuária em agosto de 2013. Ambos serão substituídos.

Em campanha, o deputado tem recrutado parlamentares em torno da promessa de uma Câmara mais independente. Caso seja eleito em fevereiro, sua gestão dificultará a influência do Planalto na agenda da casa.

Apesar de ter começado o ano com um ministério a mais do que no final de 2014 — agora o PMDB ocupa seis cadeiras — caciques da legenda avaliam que o partido assumiu pastas com menor significância como as Secretarias de Portos, Aviação e Pesca.

O PMDB ainda procura cadeira para o atual presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves. Candidato derrotado ao governo do Rio Grande do Norte, Alves era cotado para assumir uma pasta no novo governo de Dilma, mas o envolvimento de seu nome nas denúncias da Operação Lava Jato fizeram o deputado desistir, por enquanto, de um cargo no Executivo Federal.

O Pros também não ficou satisfeito com a nova composição da Esplanada dos Ministérios. A sigla divulgou nota deixando claro que a escolha de Cid Gomes (Pros-CE) para o Ministério da Educação, uma das pastas com maior orçamento, foi escolha pessoal da presidente. O descontentamento da legenda ficou evidente na cerimônia de transmissão de cargo de Gomes, com a ausência das principais lideranças nacionais do Pros. O PMDB também esvaziou a cerimônia de transmissão de cargo de Kátia Abreu.

A demora no fechamento da equipe mostra as dificuldades de Dilma em dialogar com os partidos aliados. Os últimos nomes só foram anunciados no dia 31 de dezembro, a um dia da posse. Na última leva, foi confirmada a permanência de Manoel Dias (PDT-SC) no Ministério do Trabalho. O partido não abriu mão da pasta e terminou adiando a escolha de todos os ministérios.

Segundo escalão

Mas a disputa por cargos ainda pode causar muita dor de cabeça para a presidente Dilma. Agora a briga é para ocupar uma posição no segundo escalão do governo, em estatais e autarquias, o que exigirá da presidente um grande esforço da presidente para alocar apadrinhados políticos e aliados.

Dilma também terá que acomodar ex-ministros que ficaram de fora na reforma ministerial. Isso inclui Miriam Belchior, ex-Planejamento; Neri Geller, ex-Agricultura; e Paulo Sérgio Passo, ex-Transportes.

Entre os destinos mais cobiçados estão os comandos da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), da EPL (Empresa Brasileira de Logística), do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) e da Caixa Econômica Federal. Miriam deverá assumir o comando da Caixa Econômica Federal.

Queda de braço

Todo esse desconforto pode dificultar ainda mais o diálogo da presidente com o Congresso em 2015 e dificultar a discussão de pautas polêmicas. Uma das principais promessas de campanha de Dilma, para aprovar a reforma política a presidente terá que costurar bem as alianças nas duas casas e fazer concessões aos parlamentares.

Além disso diversos temas que ficaram pendentes do ano passado devem ser retomados a partir de fevereiro, como o orçamento da União, o Novo Código Penal e a regulamentação da PEC das domésticas, todos de interesse do governo. A possibilidade de uma nova CPI da Petrobras também pode afetar as indicações do Planalto, a exemplo do que aconteceu com Henrique Alves. Os desdobramentos da Operação Lava Jato pode indicar a participação de parlamentares da base aliada no esquema bilionário de lavagem de dinheiro.

O novo ministro de Relações Institucionais da Presidência, pasta responsável pelas negociações com o Legislativo, Pepe Vargas, terá muito trabalho pela frente, mas afirmou que o governo dialogará com o Congresso Nacional e que não fará “futurologia” com relação aos assuntos que deverão entrar na pauta.

Dilma também terá acomodar aliados no segundo escalão do governo em estatais e autarquia
Douglas Lemos/R7 DF

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