Escolher uma profissão ainda é um dos grandes desafios enfrentados pelos jovens brasileiros. Em meio às pressões familiares, dúvidas pessoais e falta de informações confiáveis, a decisão sobre qual carreira seguir pode se tornar confusa e, em muitos casos, resultar em frustração ou evasão no ensino superior.
Para a professora Ariane Meneghetti, coordenadora do Núcleo de Apoio e Atendimento Psicopedagógico (NAAP) do Centro Universitário Estácio de Campo Grande, o problema está, em grande parte, na superficialidade das fontes de informação utilizadas pelos estudantes. “O jovem chega com muitos desejos, muita angústia e muitas informações, mas poucas delas são realmente úteis para ele discernir o que quer para sua vida”, afirma.
Ela destaca que o excesso de conteúdos nas redes sociais e plataformas digitais não garante que o estudante esteja preparado para tomar uma decisão tão importante. “Eles se identificam com o que veem no Instagram ou TikTok, mas isso não significa que tenham base suficiente para fazer uma escolha consciente.”
Ariane reforça que, diante desse cenário, é essencial que o estudante conheça mais a fundo o curso que deseja ingressar, analisando a grade curricular, suas próprias habilidades e interesses. “A gente orienta sempre que o aluno converse com o coordenador do curso, que entenda a dinâmica e as disciplinas antes de se matricular. Às vezes ele escolhe uma área que não tem nada a ver com suas habilidades cognitivas ou socioemocionais”, explica.
Embora o NAAP não ofereça orientação vocacional de forma sistemática, por se tratar de um núcleo voltado ao suporte psicopedagógico e à inclusão de estudantes com dificuldades de aprendizagem ou neurodivergências, a instituição desenvolveu iniciativas pontuais voltadas para esse tipo de apoio. Um exemplo citado por Ariane é o “Projeto Vocaccionare”, criado com o objetivo de oferecer orientação aos calouros da Estácio.
“O projeto foi uma ação importante para acolher esses estudantes no início da jornada acadêmica. Ele foi pensado para ajudar os ingressantes a refletirem sobre suas escolhas e, quando necessário, reconsiderar caminhos com mais segurança”, lembra a professora.
A insegurança na escolha da carreira, segundo Ariane, está diretamente relacionada à evasão. Muitos estudantes abandonam os cursos quando percebem que não têm afinidade com a área ou não conseguem acompanhar as disciplinas. “Quando isso acontece, nosso papel é acolher e mostrar que ainda há alternativas. Orientamos para que o aluno, se necessário, troque de curso, mas não desista da formação”, ressalta.
Para a docente, o caminho para uma decisão profissional mais assertiva passa pelo autoconhecimento. “O estudante precisa entender suas limitações, suas facilidades e o que realmente o motiva. Só assim ele poderá traçar um percurso acadêmico coerente com seus objetivos”, conclui.
Em um país onde apenas 21,6% dos jovens entre 18 e 24 anos estão matriculados no ensino superior, segundo dados do Censo da Educação Superior de 2023, garantir apoio nesse momento de transição pode ser decisivo para que mais pessoas tenham acesso não apenas à universidade, mas a uma trajetória educacional com mais sentido e permanência.