Apesar da persistente imagem cultural do homem como provedor, as mulheres brasileiras vêm ocupando, de forma cada vez mais decisiva, o centro da gestão financeira de suas famílias. É o que revela uma nova pesquisa realizada pela Serasa em parceria com a Opinion Box, divulgada nesta semana. O levantamento entrevistou 1.383 mulheres entre os dias 14 e 24 de fevereiro de 2025, e traçou um retrato detalhado da relação do público feminino com o dinheiro, revelando tanto sua atuação central nas finanças domésticas quanto os desafios estruturais que continuam a marcar suas trajetórias.
Segundo os dados, 93% das mulheres entrevistadas participam ativamente das decisões financeiras familiares, e uma em cada três é a única responsável pelas contas do lar. A pesquisa também aponta que, quanto menor a renda familiar, maior a carga financeira assumida exclusivamente por elas: em lares de baixa renda, 43% das mulheres lideram sozinhas a gestão do orçamento, índice que cai para 26% na renda média e 18% nas famílias de alta renda.

A organização também é uma marca registrada na rotina feminina: 80% das entrevistadas relatam pagar as contas com antecedência e 64% são as principais responsáveis pelo controle dos gastos domésticos. Ainda que o controle seja, em grande parte, feito de forma manual — com planilhas e cadernos utilizados por 55% —, o comprometimento com o planejamento financeiro é forte: 62% participam de decisões sobre investimentos e poupança e 54% organizam o orçamento da família.
Obstáculos persistem, mas há busca por conhecimento
Mesmo diante de uma rotina marcada por múltiplas responsabilidades — a chamada “dupla jornada” — 90% das entrevistadas relataram dificuldade em equilibrar trabalho e afazeres domésticos. Para 70% delas, a solução foi buscar trabalhos informais para complementar a renda, sobretudo como revendedoras ou prestadoras de serviços.
A pesquisa também revela que apenas 3 em cada 10 mulheres se consideram bem preparadas financeiramente, mas isso não as impede de buscar conhecimento: 79% afirmam recorrer às redes sociais, sites e apps de bancos para aprender mais. O sentimento é otimista: 81% acreditam que as mulheres estão ganhando mais espaço no mercado financeiro, e 74% relatam se sentir mais confiantes ao ver outras mulheres falando sobre finanças.
Acesso ao crédito ainda é um dos maiores entraves
Entre os principais desafios enfrentados pelas mulheres está a dificuldade em obter crédito ou financiamento, apontada por 47% das entrevistadas. A necessidade de acesso a recursos financeiros é evidente: 81% das mulheres buscaram alguma forma de crédito no último ano, seja para despesas imprevistas, quitação de dívidas ou para limpar o nome.
A desigualdade salarial (15%) e a falta de educação financeira (17%) também aparecem como entraves significativos, ao lado do endividamento (31%) e da falta de controle sobre as finanças (18%).
A pesquisa conclui que 87% das mulheres acreditam que seu papel econômico ainda é subestimado na sociedade. Para mudar esse cenário, especialistas apontam a urgência de políticas públicas e iniciativas privadas voltadas à educação financeira, à facilitação do crédito e à equidade salarial. A valorização da mulher no controle das finanças não é apenas uma questão de reconhecimento — é também um caminho estratégico para o desenvolvimento econômico e social do país.