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domingo, 8 de junho, 2025
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Com popularidade em queda, Lula enfrenta desafio para aprovar medidas fiscais

Às vésperas do anúncio de novas medidas fiscais que devem substituir a alta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva volta a recuar. Pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira (4) mostra que 57% da população desaprova o governo, enquanto 40% aprovam. Outros 3% não souberam ou não responderam. Os números mantêm a tendência negativa registrada em março, quando a desaprovação era de 56%.

Com o desgaste político em meio ao ciclo pré-eleitoral, economistas veem com ceticismo as medidas previstas para este domingo (8), quando a equipe econômica se reúne com parlamentares para discutir saídas alternativas à elevação do IOF.

“Acho que as medidas vêm bem brandas. O governo quer mostrar comprometimento, mas a efetividade deve ser baixa por causa da eleição”, avalia Juliana Inhasz, professora de economia do Insper. A especialista aponta que há pouca disposição para implementar ações de maior impacto, que poderiam gerar impopularidade a poucos meses das eleições municipais.

Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, acredita que ainda existe uma “breve janela de oportunidade” para avanço fiscal, mas reforça que o tempo está contra o governo. “Se não aproveitar para reduzir o risco-país e aprovar medidas estruturais agora, o gasto vai aumentar em 2026 e o arcabouço fiscal não será cumprido.”

Arcabouço ameaçado

A preocupação central dos analistas está na sustentabilidade do novo arcabouço fiscal, aprovado em 2023. A regra substituiu o teto de gastos anterior e permite que as despesas cresçam até 70% da variação da receita do ano anterior, com limites entre 0,6% e 2,5% ao ano, corrigidos pela inflação. Ainda assim, o controle das contas públicas segue ameaçado.

Marcos Lisboa, ex-presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica no primeiro governo Lula, afirma que os gastos vêm aumentando em ritmo acima do necessário. “Desde a transição, o governo optou por ampliar os gastos muito além do que se justificava para a política social.”

Em linha semelhante, a Instituição Fiscal Independente (IFI), vinculada ao Senado, alertou que o arcabouço atual não é capaz de conter o avanço da dívida pública. A dívida bruta do governo geral saltou de 73,83% do PIB em dezembro de 2023 para 76,17% em abril. A projeção da IFI é de que esse percentual chegue a 79,8% em 2025 e 84% em 2026.

Pressão por mais gastos

Em meio à queda de popularidade, o governo federal prepara uma nova rodada de medidas voltadas ao aumento do crédito e estímulo direto ao consumo. Estão em estudo financiamentos para a compra de motocicletas por entregadores de aplicativos, linhas de crédito para jovens empreenderem, recursos para reformas de moradias por donas de casa e ampliação do acesso à cesta básica para idosos em situação de vulnerabilidade.

No entanto, o espaço fiscal é apertado. Dos R$ 2,389 trilhões em despesas primárias previstas para este ano, R$ 2,168 trilhões (90,75%) são gastos obrigatórios. Apenas R$ 221,1 bilhões (9,25%) estão reservados a investimentos.

Murilo Viana, consultor da GOAssociados, observa que o governo tende a buscar saídas de impacto imediato. “Há várias avenidas sendo exploradas para ganhar apoio popular, mas todas pressionam ainda mais os gastos públicos. E com o orçamento tão limitado, fica difícil imaginar um ajuste estrutural real.”

Em meio à combinação de desgaste político, espaço fiscal reduzido e perspectiva eleitoral, analistas concordam que o governo Lula enfrenta um desafio crescente para equilibrar contas, manter a credibilidade econômica e reverter a perda de apoio popular.

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