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segunda-feira, 4 de agosto, 2025
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Formatura da PM em MS é marcada por grito de guerra controverso

A cerimônia de formatura da 38ª turma da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, realizada no último dia 31 de julho, em Campo Grande, ganhou repercussão negativa após a circulação de um vídeo nas redes sociais que mostra os novos soldados entoando um grito de guerra com versos que fazem apologia explícita à violência, tortura e extermínio.

Entre os trechos do canto estão frases como:

“Bate na cara, espanca até matar
Arranca a cabeça dele e joga ela pra cá
O interrogatório é muito fácil de fazer
Eu pego o vagabundo e bato nele até morrer
Desce aqui e venha conhecer
A tropa da PM que cancela CPF”

Veja video:

O grupo formado por 427 soldados, a maior turma de PM a concluir a formação na história do governo estadual, participou da cerimônia que teve o governador Eduardo Riedel (PSDB) como homenageado, com o nome da turma dado em sua honra.

Posicionamento do Governo do Estado

Em nota oficial emitida na sexta-feira (1º), o Governo do Estado repudiou “quaisquer condutas que incentivem a violência” e classificou o episódio como uma “manifestação isolada”, destacando que o grito de guerra não faz parte dos protocolos oficiais da Polícia Militar. O Executivo também garantiu que adotará “imediatamente as providências cabíveis, com rigorosa apuração dos fatos e aplicação das sanções legais previstas”.

A nota ressaltou que a formação da PM inclui disciplinas focadas na valorização da vida, no respeito às minorias e na atuação comunitária, enfatizando que a corporação é formada para defender a sociedade, a vida, a segurança e a paz.

A Polícia Militar de Mato Grosso do Sul (PMMS), por sua vez, classificou o episódio como uma manifestação isolada. A corporação lamentou o ocorrido e informou que o grito registrado no vídeo não faz parte dos protocolos oficiais da instituição.

Reação da Defensoria Pública

A Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul divulgou, nesta sexta-feira (2), uma nota de repúdio ao conteúdo do grito de guerra, qualificando-o como “apologia explícita à violência, à tortura e ao extermínio” e “absolutamente incompatível com a missão constitucional da Polícia Militar”, que deve proteger a sociedade e garantir segurança cidadã.

O órgão afirmou que manifestações dessa natureza “violam gravemente os princípios do Estado Democrático de Direito, vilipendiam os direitos humanos mais básicos e contrariam a Constituição da República”. A nota destaca ainda que, diante da vulnerabilidade da população alvo da atuação policial, é dever do Estado formar profissionais que respeitem os direitos fundamentais, e não que sejam treinados sob a lógica da eliminação do “inimigo”.

Contraste com a “Lei Anti-Oruam”

O caso ocorre apenas quatro meses após a aprovação, pela Câmara de Campo Grande, da chamada “Lei Anti-Oruam”, que proíbe a contratação e o financiamento público de shows com letras que façam apologia ao crime ou ao uso de drogas, especialmente para o público jovem. O projeto, que também tramita na Assembleia Legislativa, foi apresentado pelo policial federal e vereador André Salineiro (PL), e pelo deputado Carlos Alberto David (PL), ex-comandante da PM.

Enquanto a lei municipal censura letras artísticas sob o argumento de proteger a juventude, a formatura da PM foi marcada por um grito de guerra que naturaliza discursos de violência e extermínio. A Defensoria Pública considera “inadmissível que o próprio Estado reproduza e legitime discursos de ódio e violência”.

Reações nas redes sociais

Nas redes sociais, vereadores que votaram a favor da Lei Anti-Oruam manifestaram apoio aos novos policiais. O vereador Maicon Nogueira (PP) ironizou, comparando o grito de guerra dos PMs ao funk como manifestações culturais internas. “Da mesma forma que falam que funk é cultura, concordo com as músicas dos PMs. Vejo como cultura e tá tudo bem.” Já o vereador Fábio Rocha (União) comentou,“O corpo que não vibra é o esqueleto que se arrasta… Continuem vibrando.”

Já internautas saíram em defesa dos recrutas, destacando o caráter simbólico e emocional da manifestação. “O vídeo não representa a apologia à violência, mas sim a realidade dura da vida militar. É uma expressão de força, resistência e da coragem de quem arrisca a própria vida todos os dias em defesa da sociedade”, escreveu uma usuária. Outro perfil, voltado para memes, comemorou a publicação com ironia: “Excelente! Música para nossos ouvidos. Literalmente”.

Outros comentários destacaram o impacto da canção entoada pelos militares. “Essa canção é digna de aplausos de pé, emocionante do começo ao fim”, afirmou uma pessoa. “Chega arrepiar… vibrem senhores! Sejam bem-vindos”, escreveu outra.

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