Em meio à escalada de tensão diplomática entre Estados Unidos e Brasil, o governo brasileiro se prepara para a possibilidade de novas sanções impostas pelo presidente americano, Donald Trump. Entre as especulações recentes, ganhou repercussão a hipótese de exclusão dos bancos brasileiros do Swift, principal sistema de mensagens financeiras do mundo.
Especialistas, no entanto, afirmam que essa medida é improvável. O Swift é uma cooperativa internacional sediada na Bélgica, supervisionada pelos bancos centrais do G10, e reúne mais de 2.400 instituições financeiras. Por isso, os EUA não possuem poder unilateral para retirar um país do sistema. “O Swift é regido por normas multilaterais, e não por decisões isoladas de governos nacionais”, explicou o economista Augusto Mergulhão.
Ainda assim, analistas lembram que Washington exerce influência significativa sobre o sistema, devido à centralidade do dólar nas transações internacionais e ao papel dominante dos bancos americanos na liquidação global. O economista Hugo Garbe cita precedentes históricos. “Pressões diplomáticas dos EUA levaram à exclusão de bancos iranianos, norte-coreanos e, mais recentemente, de instituições russas após a invasão da Ucrânia”, destacou.
Cenário improvável, mas de alto risco
Apesar dessa influência, Garbe avalia que a exclusão do Brasil seria improvável, já que o país não está sob sanções do Conselho de Segurança da ONU e mantém forte interdependência econômica com parceiros como China e União Europeia, que tenderiam a se opor à medida. “Embora tecnicamente viável, a probabilidade de aplicação dessa sanção no curto prazo é baixa e dependeria de deterioração diplomática severa”, completou.
Mergulhão ressalta que, em um cenário extremo, os EUA poderiam impor sanções financeiras tão restritivas que, na prática, forçariam bancos e até o próprio Swift a suspender transações com o Brasil. “Hoje, esse cenário é improvável, mas caso ocorresse, o impacto seria grave: interrupção de pagamentos internacionais, desorganização das cadeias de comércio exterior e forte pressão sobre o câmbio”, explicou.
Impactos de uma eventual exclusão
Caso o Brasil fosse retirado do sistema, especialistas apontam consequências imediatas:
- Dificuldades para exportadores e importadores receberem e efetuarem pagamentos;
- Elevação do risco-país e fuga de capitais;
- Depreciação do real frente ao dólar;
- Aumento da volatilidade dos ativos e da inflação.
Como alternativas, o Brasil poderia ampliar acordos bilaterais em moedas locais com parceiros estratégicos, aderir a sistemas como o CIPS (da China) e acelerar iniciativas do Banco Central para pagamentos instantâneos internacionais com base no Pix. Contudo, nenhuma dessas soluções substituiria totalmente a capilaridade do Swift.
Governo descarta risco imediato
Diante das especulações, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Carnevalli Durigan, se reuniu com o representante do Swift, Hayden Allan, que negou a possibilidade de exclusão dos bancos brasileiros. “O Swift segue o marco legal europeu e não está sujeito a sanções arbitrárias de países específicos. O Brasil é hoje um dos maiores usuários do sistema”, afirmou Durigan.
Para o governo, a confirmação reforça o compromisso do país com o multilateralismo e a integração financeira global.