Brasil e México estão revisando protocolos comerciais com mais de 20 anos, com o objetivo de atualizar acordos de complementação econômica e de facilitação de investimentos. A iniciativa foi uma das principais ações da missão brasileira no México, liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, na semana passada.
O trabalho teve início ainda em setembro de 2024, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva liderou outra missão diplomática e comercial, aproveitando a cerimônia de posse da então recém-eleita presidenta mexicana, Claudia Sheinbaum. Na ocasião, Lula participou de diálogos com empresários mexicanos, acompanhado por representantes do setor privado brasileiro, com o objetivo de abrir novos mercados.
A mais recente missão de Alckmin não se trata apenas de resposta às tarifas impostas pelos Estados Unidos, mas de um movimento estratégico anterior, visando fortalecer o comércio bilateral e eliminar entraves antigos. Desde 2023, as exportações brasileiras de carne bovina para o México cresceram 250%, e o comércio bilateral bateu recorde, superando US$ 14 bilhões.
Durante a visita, foram discutidas atualizações de dois Acordos de Complementação Econômica (ACE): o ACE-53, que cobre cerca de 12% do fluxo bilateral e trata da redução de tarifas de aproximadamente 800 linhas de produtos não automotivos, e o ACE-55, focado na cadeia automotiva. Além disso, será revisado o Acordo de Cooperação e Facilitação de Investimentos, abrangendo diversos segmentos industriais, comerciais e de pesquisa. O cronograma prevê conclusão das negociações setoriais em julho de 2026, com assinatura dos novos acordos em agosto do mesmo ano.
Cooperação em setores estratégicos
Entre os resultados concretos da missão estão:
- Complexo Industrial da Saúde: Fiocruz e governo mexicano assinaram acordo para cooperação em vacinas e terapias de RNA mensageiro (mRNA), modernização de processos regulatórios e ampliação do acesso a tecnologias de saúde.
- Vigilância Sanitária: Anvisa e COFEPRIS atualizarão memorando de entendimento, ampliando o acesso a medicamentos, dispositivos médicos, cosméticos e alimentos.
- Biocombustíveis: Memorando prevê intercâmbio de experiências e tecnologias para fortalecer a produção de etanol, SAF e combustíveis marítimos sustentáveis.
- Alimentos: Memorando entre Mapa e autoridades mexicanas trata de produção agrícola e pecuária, promoção de pesquisa, sanidade animal e vegetal, financiamento rural e comercialização de produtos. Desde 2023, as exportações de carne bovina cresceram 250%, carne suína 95% e frango 14%. Novas plantas frigoríficas brasileiras serão auditadas e habilitadas para exportação.
A presidenta Claudia Sheinbaum demonstrou otimismo com as negociações, destacando o fortalecimento da cooperação científica, econômica e ambiental, além de impulsionar a industrialização e o desenvolvimento tecnológico.
O presidente Lula, em discursos anteriores, reforçou que o objetivo é abrir novos mercados sem conflito com Estados Unidos ou China, enfatizando a necessidade de coragem para ampliar as relações comerciais estratégicas entre Brasil e México.
Delegação brasileira
A comitiva que acompanhou Alckmin incluiu os ministros Carlos Fávaro (Agricultura) e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), a secretária-geral do Itamaraty, Maria Laura, além de representantes da ApexBrasil, Conab, Anvisa, Fiocruz, Instituto Butantan, CNI e mais de 100 empresários.
