A 79ª Assembleia Geral da ONU foi encerrada nesta quarta-feira (24) com destaque para a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O discurso do brasileiro projetou o país no centro das discussões climáticas e reforçou a imagem de Lula como liderança global, mas dividiu opiniões sobre resultados práticos.
Especialistas ouvidos avaliaram que a fala trouxe relevância ao Brasil em temas como créditos de carbono, democracia e multilateralismo. No entanto, parte considerou que o tom foi mais retórico do que pragmático, deixando lacunas em relação a medidas econômicas concretas que sustentem o protagonismo até a COP30, prevista para novembro de 2025, em Belém (PA).
“O presidente reafirmou temas centrais do governo e buscou projetar o Brasil como mediador e protagonista nas agendas do clima e da paz. Mas a consolidação desse protagonismo dependerá de entregas concretas, como recursos, indicadores e redução do desmatamento”, avaliou o cientista político Murilo Medeiros.
Na mesma linha, o economista e CEO da Referência Capital, Pedro Ros, apontou que o discurso teve mais caráter ideológico do que econômico: “Ele reposicionou o Brasil no cenário internacional, mas faltou clareza sobre como transformar compromissos em políticas concretas de crescimento e atração de investimentos”.
Lula x Trump: tensão e cordialidade
Outro ponto marcante da Assembleia foi a troca de discursos entre Lula e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Sem citar diretamente o norte-americano, o líder brasileiro criticou “sanções arbitrárias e unilaterais”, em referência a medidas de Washington.
Trump, por sua vez, surpreendeu ao elogiar Lula, afirmando ter tido uma “química excelente” no breve cumprimento entre ambos antes das falas. O gesto foi visto por analistas como uma quebra de gelo que pode abrir espaço para uma reaproximação diplomática.
“O Trump saiu do roteiro e falou de Lula de forma elogiosa. Isso mostra que há um momento de discussão importante, que pode evoluir para novos entendimentos”, comentou o analista político André Bergo.
COP30 no horizonte
O saldo mais visível da presença brasileira, segundo o professor de Economia Internacional João Gabriel, foi a centralidade do debate climático: “O destaque foi poder discutir sistemas de crédito de carbono e acordos que devem ser tratados na COP30. Esses instrumentos podem gerar impactos positivos no cumprimento do Acordo de Paris”.
Apesar da projeção internacional, especialistas alertam que o desafio do governo é transformar discurso em ações concretas. “O Brasil chega à COP30 com um discurso forte na área ambiental, mas ainda precisa provar que consegue equilibrar essa agenda com crescimento econômico e atração de investimentos estrangeiros”, reforçou Pedro Ros.
De forma geral, analistas avaliam que o país saiu da ONU em posição de destaque para a conferência do clima. No entanto, a credibilidade do Brasil dependerá da capacidade de implementar políticas ambientais robustas sem perder competitividade econômica.