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domingo, 5 de outubro, 2025
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Educação brasileira avança em matrícula, mas desigualdades comprometem resultados

A redução das disparidades na aprendizagem de crianças e jovens nas escolas brasileiras depende de enfrentar um quadro histórico de desigualdades, avalia André Lázaro, diretor de Políticas Públicas da Fundação Santillana. Para o especialista, é preciso compreender os processos que resultam em baixo desempenho escolar, que reflete, em grande parte, a “naturalização das desigualdades” no país.

“Um país que viveu 300 anos de escravidão vai demorar a admitir a igualdade de todos. Hoje, a educação ainda é uma herança de classe, mas deve ser um direito universal”, afirma Lázaro.

Os números reforçam essa realidade. Entre os 20% mais pobres, apenas 2,4% dos jovens do 3º ano do ensino médio tiveram aprendizagem adequada em matemática e língua portuguesa em 2023, enquanto o índice chega a 16,3% entre os 20% mais ricos, segundo o Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025, elaborado por Todos Pela Educação, Fundação Santillana e Editora Moderna.

Lázaro aponta que a desigualdade se manifesta também em termos de localização geográfica e raça. “A população negra continua enfrentando desvantagens inaceitáveis, e há 5 milhões de matrículas no campo, representando 12% do total nacional. Entre 2014 e 2024, 16 mil escolas municipais dos anos iniciais foram fechadas no campo, pressionando famílias a se deslocarem e contribuindo para a concentração fundiária”, alerta.

Redes públicas e privadas

O problema da aprendizagem não se limita à rede pública. O anuário mostra que apenas 4,5% dos jovens do 3º ano do ensino médio de escolas públicas alcançaram aprendizado adequado, enquanto nas privadas o índice sobe para 28%. “Mesmo entre os 20% mais ricos, nas escolas privadas, os resultados ainda são insuficientes”, destaca Lázaro.

Conquistas e avanços

Apesar das dificuldades, a educação brasileira apresenta avanços importantes. A taxa de matrícula na pré-escola chega a 95%, e os anos finais do ensino fundamental registram quase universalização, com 97,6% de jovens matriculados em 2024. No ensino médio, a matrícula dos jovens de 15 a 17 anos alcançou 82,8%, um aumento de quase 10 pontos percentuais em relação a 2014.

Desafios persistentes

Para Lázaro, é necessário também reforçar o financiamento, reconhecer a diversidade regional e valorizar a carreira docente. Cerca de 49% dos professores das redes estaduais têm contratos temporários, o que impacta a construção de um espírito de equipe e a qualidade do ensino.

O especialista defende que políticas educacionais devem promover igualdade sem eliminar a diversidade. “A igualdade não deve significar que todos façam a mesma coisa ao mesmo tempo. A diversidade deve ser reconhecida como um ativo para a educação”, conclui.

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