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quarta-feira, 5 de novembro, 2025
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Energia sobra, mas conta de luz com bandeira acionada não cai: entenda o motivo

Brasil corta geração solar e eólica e liga termelétricas caras nos horários de pico

O Brasil vive um paradoxo em seu sistema elétrico: em alguns momentos, há excesso de energia renovável que precisa ser cortado, enquanto em outros o país aciona termelétricas mais caras e poluentes. Esse cenário explica por que a conta de luz segue na bandeira vermelha, a mais cara, mesmo com sobra de eletricidade.

Apesar de o país gerar mais energia solar e eólica do que consome em certos horários do dia, esse excedente não pode ser armazenado em larga escala. Para evitar sobrecarga no sistema, parques eólicos e usinas solares precisam reduzir a produção — um processo chamado curtailment, que já gera prejuízos bilionários aos setores de energia limpa.

“O Brasil trabalha com uma matriz energética diversificada. Algumas fontes, como hidrelétricas e térmicas, podem ser acionadas a qualquer momento, porque contam com armazenamento. Já as renováveis são perecíveis: se não forem usadas no momento da geração, acabam se perdendo”, explica Jonathan Colombo, engenheiro e professor do MBA em ESG de Mudanças Climáticas e Transição Energética da FGV.

Ou seja, o excesso de energia não se traduz em tarifas mais baixas. E, quando a demanda aumenta — especialmente no começo da noite — o país recorre a termelétricas, que são mais caras e elevam o custo final da conta de luz.

Investimento em baterias

A solução em escala mundial tem sido o investimento em baterias capazes de armazenar energia nos períodos de sobra. Segundo Gustavo Ponte, superintendente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o custo dessas tecnologias vem caindo globalmente, impulsionado pelo mercado de veículos elétricos.

Como a conta de luz é formada

A tarifa de energia no Brasil é composta por geração (30%), distribuição (26%), tributos (18%), encargos (15%) e transmissão (10%). Dentro dos tributos e encargos, estão os subsídios concedidos pelo governo a setores específicos. Até 30 de outubro de 2025, esses incentivos representavam 17,5% da tarifa do consumidor.

Entre os beneficiados estão:

  • Fontes incentivadas, como solar e eólica;
  • Geração distribuída (“energia de telhado”);
  • Conta de Consumo de Combustível (energia a diesel em regiões isoladas);
  • Tarifa social para famílias do CadÚnico.

O volume de subsídios vem crescendo: R$ 23,5 bilhões em 2020, R$ 33,5 bilhões em 2022 e R$ 48,9 bilhões em 2024. Só a geração distribuída saltou de R$ 1,35 bilhão em 2021 para R$ 11,6 bilhões em 2024.

O presidente da Abradee, Marcos Madureira, defende a redução desses incentivos: “Precisamos parar de criar novos subsídios. Enquanto continuarmos criando incentivos sem dizer de onde virá o dinheiro, o custo da energia seguirá alto”.

Caminhos para reduzir a conta

Especialistas apontam que tarifas dinâmicas podem ajudar a reduzir custos. Com preços mais baixos nos horários de maior geração (entre 10h e 16h) e mais altos nos períodos de menor oferta, o consumidor poderia economizar ao usar eletrodomésticos ou carregar veículos elétricos em horários estratégicos.

“O sinal de preço é fundamental para o uso eficiente do sistema, tanto para o consumidor quanto para o gerador”, afirma Madureira.

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