O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira (5) manter a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano, o maior patamar desde julho de 2006. A decisão, unânime entre os diretores do BC, era amplamente esperada pelo mercado e reflete as incertezas no cenário internacional e a inflação ainda acima da meta oficial.
Em comunicado, o BC afirmou que o ambiente global segue instável, com reflexos da política monetária dos Estados Unidos sobre as condições financeiras internacionais. Diante disso, a autoridade monetária avaliou que o momento “exige cautela” e que a manutenção dos juros em um nível elevado por um período prolongado é necessária para garantir a convergência da inflação à meta.
“O cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária. O comitê avalia que a estratégia de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período prolongado é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”, destacou o comunicado do Copom.
Terceira manutenção seguida e juros no maior nível em 19 anos
Esta é a terceira reunião consecutiva em que o Copom opta por manter a Selic em 15% ao ano. A taxa começou a ser elevada em setembro de 2024, após um ciclo de cortes que havia reduzido os juros a 10,5% em maio do mesmo ano. Desde então, o BC tem mantido a política monetária restritiva para conter pressões inflacionárias.
A taxa atual é a mais alta em quase duas décadas, superando os 15,25% registrados em julho de 2006. O Banco Central não descarta novos aumentos caso o cenário econômico se deteriore.
Inflação ainda preocupa
A Selic é o principal instrumento do BC para controlar a inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Em setembro, o IPCA subiu 0,48%, acumulando alta de 5,17% em 12 meses, acima do teto da meta contínua de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
Apesar disso, a prévia de outubro (IPCA-15) indicou desaceleração, influenciada pela queda no preço dos alimentos. No Relatório de Política Monetária de setembro, o BC reduziu a projeção de inflação para 4,8% em 2025. Já o Boletim Focus, divulgado na segunda (3), aponta expectativa um pouco menor, de 4,55%, ainda acima do limite da meta.
Pressão por cortes e crescimento modesto
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a defender nesta semana uma redução da Selic, argumentando que o atual patamar de juros limita o crescimento econômico. No entanto, analistas do mercado esperam que o ciclo de cortes só tenha início em janeiro de 2026.
Juros altos encarecem o crédito e desestimulam o consumo, o que ajuda a conter a inflação, mas também freia a atividade econômica. O BC revisou para baixo sua projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2025, de 2,1% para 2%, enquanto o mercado estima um avanço de 2,16%.
Próximos passos
A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 9 e 10 de dezembro. Até lá, a autoridade monetária deve continuar monitorando o comportamento dos preços e o impacto das decisões econômicas globais, especialmente as políticas de juros adotadas pelos Estados Unidos, que influenciam diretamente o fluxo de capitais e o câmbio no Brasil.
Com a Selic mantida em 15%, o Banco Central reforça sua postura de prudência e compromisso com o controle da inflação, mesmo diante das pressões por uma redução para estimular o crescimento econômico.











