Anúncios recentes renovam a esperança de reativação da ferrovia e melhorias no escoamento de produtos agrícolas
A Ferrovia Malha Oeste, um dos trechos mais deteriorados e estratégicos do país, será um dos principais destaques do novo ciclo de concessões ferroviárias previsto para 2026 e 2027. O edital está programado para abril do ano que vem e o leilão deve ocorrer em julho, segundo o calendário da Política Nacional de Concessões Ferroviárias, do Ministério dos Transportes.
A futura concessionária terá a missão de recuperar os 1.973 quilômetros entre Corumbá (MS) e Mairinque (SP), com um investimento obrigatório de R$ 35,7 bilhões apenas em obras — valor necessário após anos de abandono constatados pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Entre 2021 e 2024, a atual operadora, Rumo Malha Oeste, foi autuada 74 vezes por negligência na manutenção da faixa de domínio, abandono de estruturas e falta de substituição de dormentes. Sete dessas infrações geraram multas que somaram R$ 7,5 milhões.
A situação deteriorada motivou o governo federal a descartar uma solução consensual com a concessionária, após o Tribunal de Contas da União (TCU) rejeitar a proposta. O órgão identificou que a Rumo pretendia devolver 1,6 mil dos 1,9 mil quilômetros da via, mantendo apenas trechos rentáveis ligados ao transporte de celulose e minérios. A nova licitação, portanto, foi definida como a única alternativa viável para “salvar” a Malha Oeste, que opera de forma quase simbólica há cerca de 30 anos.
O Ministério dos Transportes considera a retomada da ferrovia estratégica para o escoamento de combustíveis e minérios, além de reforçar o potencial logístico de Mato Grosso do Sul — onde 600 quilômetros do traçado estão localizados. O contrato de concessão terá vigência de 57 anos e prevê ainda R$ 53,5 bilhões em investimentos na operação ao longo do período. “Há uma demanda histórica pela reativação desses trilhos”, afirmou a pasta.
O tema tem repercussão direta no setor produtivo. O governador Eduardo Riedel destacou que o modal ferroviário será decisivo para ampliar a capacidade de transporte da mineração, hoje dependente de rodovias e do Rio Paraguai. Segundo ele, o volume atual de 12 milhões de toneladas pode chegar a 30 milhões com a reativação plena da Malha Oeste. A Bolívia também acompanha o projeto, que pode ampliar a integração regional.
Para o secretário estadual Jaime Verruck, a Malha Oeste é um dos maiores gargalos logísticos do Estado. A reativação será crucial para atender ao avanço da agroindústria, ao crescimento do Vale da Celulose e à futura Rota Bioceânica, que deve transformar Mato Grosso do Sul em corredor de exportações para o Pacífico.
O maior pacote ferroviário em décadas tem a Malha Oeste como peça central
Embora integre um bloco de oito ferrovias que serão concedidas ao setor privado, a Malha Oeste tornou-se o símbolo da nova política ferroviária nacional — justamente por condensar problemas históricos e potencial logístico inexplorado. O pacote completo prevê R$ 139,7 bilhões em obras e R$ 516,5 bilhões em operações, distribuídos entre 2026 e 2027.
Entre os demais projetos, aparecem o Anel Ferroviário Sudeste (EF-118), o Corredor Leste-Oeste (Fico-Fiol), a Ferrogrão, trechos da Malha Sul e a extensão norte da Ferrovia Norte-Sul. Juntos, somam mais de 9 mil quilômetros de trilhos e R$ 656 bilhões em investimentos entre construção, modernização e operação.
Passageiros, chamamento público e rodovias
O plano ferroviário ainda inclui seis projetos destinados ao transporte de passageiros e um bloco adicional de trechos abandonados que serão ofertados por chamamento público, como o Corredor Minas–Rio (MG–RJ).
No setor rodoviário, estão previstas 14 concessões até 2027, com investimento estimado de R$ 158 bilhões e geração de mais de 1,1 milhão de empregos.
ANTT e TCU serão decisivos
O andamento dos projetos dependerá da capacidade da ANTT em estruturar os editais e do TCU em aprová-los dentro do cronograma. Segundo o governo, a maior parte dos processos já está em fase avançada.
Com o novo ciclo de investimentos, a Malha Oeste — há décadas tratada como problema — volta ao centro da agenda nacional e pode finalmente se transformar em um dos principais corredores logísticos do Brasil.











