Ex-presidente permanece na PF em Brasília após decisão de Moraes que apontou risco de fuga, tumulto e violação da tornozeleira
Após um dia marcado por apoio de aliados, avaliações médicas e intensa disputa jurídica, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) permanece detido na Superintendência da Polícia Federal (PF) em Brasília. Neste domingo (23), ele participará, às 12h, de audiência de custódia por videoconferência, diretamente do local onde está preso.
Bolsonaro está em prisão preventiva desde a manhã de sábado (22), por decisão do ministro Alexandre de Moraes, que atendeu a um pedido da Polícia Federal com aval da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Decisão de Moraes: risco de fuga e tumulto
Na decisão que determinou a prisão, Moraes apontou risco concreto de evasão, sustentado por três fatores principais:
- violação do monitoramento eletrônico às 0h09 de sábado;
- convocação de vigília por Flávio Bolsonaro em frente ao condomínio;
- registros anteriores de articulações para pedido de asilo em embaixada estrangeira.
Segundo Moraes, a mobilização poderia criar uma cobertura propícia para fuga. O ministro também destacou que a residência de Bolsonaro fica a cerca de 13 km do Setor de Embaixadas Sul — um trajeto de cerca de 15 minutos — e citou investigações sobre um plano anterior envolvendo a embaixada da Argentina.
Onde Bolsonaro está preso: sala de Estado adaptada
Após passar por exames clínicos no Instituto Nacional de Criminalística, o ex-presidente foi levado para uma sala de Estado, área destinada a autoridades com prerrogativa especial.
A Superintendência da PF passou por reformas em agosto para receber detentos por períodos prolongados. O espaço reservado a Bolsonaro inclui:
- cela de 12 m²
- cama
- banheiro privativo e chuveiro
- ar-condicionado
- televisão
A vigilância é feita por policiais penais da Senappen, com equipe médica disponível em tempo integral.
Defesa critica prisão e promete novos recursos
Os advogados de Bolsonaro afirmam que a custódia preventiva coloca sua saúde em risco e pediram o retorno ao regime domiciliar humanitário — solicitação negada por Moraes.
A defesa informou que apresentará embargos infringentes e novos recursos contra a condenação no processo relacionado à tentativa de golpe. O trânsito em julgado pode ocorrer nos próximos dias.
Aliados reagem e ampliam pressão política
A prisão provocou forte mobilização entre aliados do ex-presidente. Parlamentares classificaram a decisão como um “ataque à democracia” e acusaram Moraes de abuso de autoridade.
A crítica mais dura veio do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que disse, “tirar um homem de 70 anos de sua casa, desconsiderando seu grave estado de saúde, é um atentado à dignidade humana.”
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro deixou o Ceará e seguiu para Brasília após ser informada da prisão durante um evento partidário.
Repercussão internacional: críticas dos EUA
A prisão também teve impacto no cenário internacional. O ex-presidente americano Donald Trump classificou a situação como “muito ruim”.
O advogado de Trump, Martin De Luca, afirmou que Moraes “acabou com a diplomacia de Lula”, sugerindo que a decisão prejudica a imagem do Brasil nos EUA.
À noite, a Embaixada dos EUA no Brasil traduziu e compartilhou publicação do vice-secretário de Estado Christopher Landau, que chamou Moraes de “violador de direitos humanos” e disse que os EUA estão “profundamente preocupados”.
Landau declarou, “o juiz Moraes expôs o STF à vergonha internacional ao politizar o processo judicial.”
Próximos passos: audiência de custódia e julgamento na segunda
A audiência de custódia deste domingo avaliará:
- a legalidade da prisão;
- a integridade física do detento;
- a necessidade da continuidade da custódia preventiva.
Na segunda-feira (24), a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal fará sessão extraordinária para examinar a decisão de Moraes — exatamente no dia em que expira o prazo para os últimos recursos no processo do golpe.
Se os pedidos forem rejeitados, Bolsonaro poderá começar a cumprir a pena definitiva, paralelamente à prisão preventiva já decretada.











