Indicado ao STF enfrenta resistência de Alcolumbre e ainda não reúne os 41 votos necessários
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva articula nos bastidores o adiamento da sabatina de Jorge Messias, advogado-geral da União e indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF), marcada para 10 de dezembro na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. A tentativa de ganhar tempo ocorre diante do receio de uma derrota histórica, já que Messias ainda não reúne os 41 votos necessários para ser confirmado pelo plenário.
A estratégia do Planalto tem esbarrado diretamente na resistência do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). O senador, que desejava ver seu aliado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) indicado à vaga deixada por Luís Roberto Barroso em outubro, ficou insatisfeito com a escolha de Lula. Desde então, Alcolumbre tem mantido postura dura e ampliado a pressão política sobre o governo.
Para atrasar o processo, governistas estudam segurar o envio da mensagem presidencial que formaliza a indicação — documento obrigatório para que o Senado possa iniciar os trâmites oficiais. Até o momento, a indicação foi publicada apenas no Diário Oficial da União. “A sabatina só pode ocorrer após o envio da mensagem”, lembrou o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP).
Busca por votos e pressão nos bastidores
Com prazo curto, Messias intensificou a peregrinação por gabinetes no Senado. Tem buscado apoio de parlamentares diariamente e até abordado senadores em locais informais, como no estacionamento da Casa. Mesmo assim, o cenário é considerado crítico: fontes no Congresso estimam que ele teria, hoje, menos de 30 votos garantidos.
Os apoios certos vêm de PT, PSB e PDT, enquanto o foco agora está nas bancadas do PSD, MDB e União. Integrantes da direita com trânsito no STF, segundo apurou a CNN Brasil, também aconselharam Messias a insistir no adiamento da votação, como forma de reduzir resistências e aproveitar o período para recompor a relação entre Lula e Alcolumbre.
Além da disputa interna, o ambiente no Senado está ainda mais tensionado após a prisão definitiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado por tentativa de golpe. A oposição se mobiliza para impor uma derrota ao governo em um momento politicamente sensível.
Alcolumbre evita sinalizar recuo
Presidente da CCJ, o senador Otto Alencar (PSD-BA) afirmou que não pode garantir que haverá adiamento, ressaltando que a decisão cabe a Alcolumbre. Ele revelou que a intenção inicial era realizar a sabatina em 3 de dezembro, mas o prazo acabou estendido para o dia 10 após ponderações internas.
“Jorge Messias achou o tempo curto. Ele pode ter conversado com o Lula e buscar um espaço maior”, afirmou Otto. Interlocutores próximos ao senador baiano relatam que ele veria com bons olhos um adiamento, mas não quer confrontar diretamente Alcolumbre, que segue irredutível.
Clima dividido e tentativas de diálogo
Enquanto Messias busca contato com os 81 senadores — e ainda não conseguiu ser recebido pelo próprio Alcolumbre —, lideranças avaliam uma saída negociada. O senador Humberto Costa (PT-PE) demonstra otimismo: “Acredito que vamos chegar à maioria. Muito mais do que um confronto, é preciso buscar entendimento”.
Já Omar Aziz (PSD-AM) avalia que a dificuldade não está no nome de Messias, mas no ambiente político. “O Senado está muito dividido”, resumiu.
Com o relógio correndo e as articulações no limite, o governo enfrenta a tarefa de reorganizar a base, pacificar a relação com o Senado e evitar que a indicação ao STF se transforme em uma derrota emblemática para o Planalto.





















