Medalha “Tom do Pantanal – Arara Azul” valoriza talentos que difundem a música de MS

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Assembleia Legislativa realizou solenidade para homenagear quem transforma a música em história e identidade Foto: Wagner Guimarães

A Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS) celebrou, na noite desta quarta-feira (26), a força da música sul-mato-grossense e de seus intérpretes na Sessão Solene de Concessão da Medalha “Tom do Pantanal – Arara Azul”, dedicada ao Dia do Músico, comemorado oficialmente em 22 de novembro. Instituída pela Resolução 12/2010, a homenagem proposta pelo deputado Roberto Hashioka (União) reconhece a relevante contribuição do profissional da área no contexto cultural sul-mato-grossense. Para o proponente da cerimônia, a homenagem celebra o talento, a dedicação e o papel fundamental dos artistas na difusão da cultura e das tradições sul-mato-grossenses.

A cerimônia aconteceu no Plenário Deputado Júlio Maia reunindo músicos, duplas, grupos regionais, orquestras sinfônicas, representantes de entidades de classe e autoridades. O parlamentar destacou que a sessão solene representa uma oportunidade singular de reconhecer a amplitude e a riqueza dos gêneros musicais produzidos em Mato Grosso do Sul.

Para ele, homenagear artistas tão diversos, do hip-hop indígena à música clássica, passando pela música raiz e por outras expressões culturais, é reafirmar o protagonismo da arte na construção da identidade sul-mato-grossense. “É uma satisfação e um privilégio homenagear aqueles que, por meio da música, traduzem a cultura e a alma do nosso Estado”, afirmou. Hashioka lembrou que a Medalha “Tom do Pantanal – Arara Azul” já reconheceu nomes que hoje ganharam projeção nacional e internacional. Segundo ele, dar continuidade à homenagem é também uma forma de justiça e valorização a quem leva as tradições sul-mato-grossenses para além das fronteiras. “Premiar esses artistas é reconhecer o sucesso que constroem dentro e fora do Estado, levando nossa cultura para o Brasil e para o mundo”, completou Roberto Hashioka.

Cultura em evidência

Durante a solenidade, foi exibido vídeo institucional produzido pela TV ALEMS em homenagem aos músicos do Estado. A sessão foi marcada por uma programação musical diversificada, evidenciando a riqueza sonora regional. A primeira parte das apresentações culturais contou com o Grupo de Louvor Viva a Vida, da Igreja Adventista do Sétimo Dia, interpretando “Deus de Promessa”.

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Evento destacou artistas que preservam tradições e inovam na cena musical

Em seguida, Santhiago e João Batista apresentaram o repertório “Noite de Tortura / Saudade”. A tradição pantaneira também esteve presente com a Catira dos Irmãos Diamante, acompanhados por Girsel da Viola, cantando “Pagode”, de Carreirinho, Tião Carreiro e Oscar Tirola, reforçando o protagonismo da música raiz no Estado. Girsel da Viola pontuou a alegria de levar à Assembleia Legislativa um pouco da tradição da viola e da catira, expressões que marcam profundamente a identidade musical sul-mato-grossense. Ele lembrou que a catira, dança que acompanha sua trajetória, é resultado de um encontro histórico de culturas: a influência indígena, somada à presença africana trazida pelos escravizados e à viola espanhola introduzida pelos jesuítas ainda no século XVI. “A catira e a música de viola estão presentes em nossa região desde a época dos jesuítas, que catequizavam os povos originários por volta de 1593, especialmente na região de Camapuã”, explicou. O profissional reforçou o trabalho de preservação que vem realizando ao lado da Associação de Catireiros de Camapuã, hoje reconhecida como pontão de cultura. Segundo ele, além de manter viva a tradição entre os grupos mais antigos, o foco tem sido transmitir o conhecimento às novas gerações. Para o músico, que recebeu a medalha, a homenagem fortalece ainda mais esse trabalho. “Esse reconhecimento é muito importante. Precisamos que a juventude aprenda, para que essa cultura continue viva”, afirmou.

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Brô MC’s emocionaram ao representar o rap indígena Guarani-Kaiowá

A segunda etapa de apresentações culturais trouxe a força e a atualidade da produção musical sul-mato-grossense. O grupo de Rap Indígena Brô MC’s, referência nacional na representatividade Guarani-Kaiowá, apresentou “Jarahá”, composição criada em parceria com o DJ Alok. Representando o grupo Brô MC’s, Bruno VN destacou a importância de participar de um evento que homenageia todos os estilos musicais de Mato Grosso do Sul. “Estar aqui representando o movimento hip hop e o rap indígena que criamos em 2009 é muito prazeroso”, contou. Para ele, o rap indígena é uma forma de dar visibilidade ao povo Guarani-Kaiowá e ampliar a presença indígena nos palcos: “É mais do que música, é representar nossa comunidade e levar esse estilo para fora do Estado e do país”. Bruno ressaltou que o grupo também busca romper estereótipos sobre os povos originários. “Criamos um rap indígena para mostrar que podemos estar além das músicas e danças tradicionais. Tentamos curar pessoas com nosso som e mostrar que não somos a imagem que a mídia sempre mostra. A voz do Brô está ecoando pelo Brasil e pelo mundo”, finalizou Bruno VN. Logo após, a banda Fernando Morreu sobe ao palco com “Loira do Honky Tonky”, ampliando a diversidade musical da noite.

Reconhecimento

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O maestro Nillo Cunha enfatizou a união entre os diferentes estilos 

Falando em nome dos homenageados, o maestro Nillo de Almeida Cunha Araújo destacou que a principal mensagem do Dia do Músico é a união entre os diferentes estilos que compõem a identidade sonora sul-mato-grossense. “A mensagem é de união e apesar de que temos a música sertaneja, o chamamé e a influência da música da fronteira, temos também movimentos que representam toda a diversidade da música no contexto geral no nosso Estado. Então, essa palavra de união é a essência da homenagem que o deputado Roberto Hashioka propôs com essa cerimônia. Celebrar essa pluralidade é a essência da honraria”, colocou.

Ele também comentou os desafios de atuar no cenário musical local: “Fazer qualquer manifestação cultural é difícil. Falta estratégia para todos os ritmos, embora o público receba com mais naturalidade a música regional, que tem o seu valor maravilhoso, mas também nosso Estado tem aberto as portas para ouvir outro tipo de música, outro tipo de estética. E tiveram pessoas que, ao longo do tempo, vieram pavimentando esse caminho. A minha geração é uma geração que está continuando isso, não somos desbravadores mais, mas somos porta-voz da qualidade, seja ela de ritmo dançante ou algo que veio da Europa”. Nillo deixou um conselho às novas gerações: “Estudar é essencial. Quanto mais você conhece, mais respeita o outro e admira manifestações diferentes da sua”. Ele ressaltou a honra de receber a medalha. “É muito especial ser reconhecido dentro da Casa onde trabalho. Mostra que valorizam não só meu papel como servidor, mas aquilo que faço pela música em todas as frentes”, declarou.

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Obra feita pelo artesão sul-mato-grossense Natalino Rondon

A Medalha “Tom do Pantanal – Arara Azul” apresenta diploma e troféu artesanal, produzido pelo artesão sul-mato-grossense Natalino Rondon da Costa, descendente da etnia Guató. Foram homenageados: Ceam – Banda (Musical Escolar) do Miguel Sotolani, Cristonildo de Souza Flores (trompetista), Crystian Proença (Cantor e Musicista Okinawa), Fernando Morreu (Vocalista Banda Lineker), Girsel da Viola, João Batista dos Santos (Cantor João Paulo), João Paulo Pompeu, Leonardo da Silva Martins (Gospel), Max Henrique Macena Rocha (Cantor), Medida Certa (Grupo de Samba), Nillo de Almeida Cunha Araújo (Maestro), Petrônio Jorge da Silva (Grupo Pantaneiro), Romário Amorim (Musicista), Sandro Silva Santos (Professor de Música), Welinton Gomes dos Santos (Índio do Violão – Cantor e Violeiro), Gean Carlos Euzébio, Éder Fabrício Carvalho Ganica (Produtor Musical), Fernando Santos Duarte, Maria Rita Gonçalves de Oliveira (Pianista Popular e Erudita), Émerson Carlos Loubet (Cantor Sertanejo), Niny Dy Castro (Cantor – Claudemir da Silva Castro), Zé Lucas e Benício (Dupla Sertaneja), Brô Mc’S (Grupo Indígena Guarani-Kaiowá), Kleber Furst da Silva (Maestro Guarda Civil Metropolitana), Aldo Heishin Oshiro, Daniel Magela (Professor de Música), Bella Donna Trio (Renata Sena, Ana Gabriela, Livia Canela) e Mário César Ferreira Pereira (Mário Dú Trombone – Instrumentista Musical).

Além do proponente deputado Roberto Hashioka, a mesa de autoridades foi composta pela deputada Lia Nogueira (PSDB), pelo coordenador do Museu da Imagem e do Som, representando o diretor presidente da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Márcio Veiga da Silva, pelo músico Santhiago, representando a Associação União dos Músicos de MS, pelo presidente da Associação Cultural de Violeiros e Violeiras de MS, Anderson Alvarenga da Silva e pela superintendente de Cultura de Naviraí-MS, Patrícia Inciso. Prestigiaram a solenidade os deputados Renato Câmara (MDB), Junior Mochi (MDB), Caravina (PSDB) e Lidio Lopes (sem partido).

A deputada Lia Nogueira destacou que a Assembleia Legislativa, além de ser uma Casa de Leis, é sobretudo a Casa do Povo, e que entregar uma honraria tão significativa reforça a riqueza cultural do Estado marcada por sua diversidade de raças, etnias e expressões artísticas. “Nós temos um Estado rico também na diversidade cultural e precisamos olhar com carinho e respeito para as comunidades indígenas e saber que eles são cidadãos de fato brasileiros e que o respeito tem que prevalecer para todos. Hoje está sendo um ganho muito grande para repensarmos que é só através da música, da cultura e da arte que vamos formar uma sociedade mais igualitária e justa”, observou.

Medalha “Tom do Pantanal - Arara Azul” valoriza talentos que difundem a música de MS
Violeiros encerraram a cerimônia com clássicos que marcam a memória 

Roberto Hashioka ressaltou que a música sul-mato-grossense cumpre um papel profundo na formação humana e na construção da identidade regional. Em sua fala, ele enfatizou que não se trata apenas de celebrar trajetórias individuais, mas de reconhecer a força coletiva de uma expressão artística que move, educa e transforma. “São vozes, sons, composições e histórias que ocorrem além das fronteiras pantaneiras e levam consigo a identidade de um povo que se orgulha de suas raízes. A solenidade desta noite é mais que um gesto formal, é um ato de reconhecimento público a profissionais que, por meio da arte, constroem pontes, oferecem esperança, fortalecem vínculos e contribuem diretamente para o desenvolvimento social. Música é cultura, mas também é educação, é formação de cidadania, é instrumento de transformação. Onde a música chega, chegam também sensibilidade, respeito, aprendizagem e a possibilidade de um futuro melhor. A medalha carrega um simbolismo especial. Ela é um tributo a tudo o que nos define como sul-mato-grossense. Um povo plural que carrega em seu cotidiano o instinto de proteger e preservar o nosso bioma”, colocou o deputado.

Para o encerramento do evento, violeiros realizaram uma roda de viola em torno dos clássicos “Menino da Porteira” e “Boiadeiro Errante”, momento que também integrou os homenageados e autoridades presentes.