Vacina contra HPV é segura e essencial para prevenção de câncer, alertam especialistas

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A vacina contra o HPV é oferecida gratuitamente via Sistema Único de Saúde (SUS) para a faixa etária de 9 a 19 anos (Foto: Instituto Butantan/Divulgação)

Mitos sobre início precoce da vida sexual e efeitos graves não têm base científica; imunização está disponível gratuitamente para crianças, adolescentes e grupos prioritários

Apesar de ser uma das principais armas no combate a diversos tipos de câncer, a vacina contra o HPV (papilomavírus humano) ainda sofre com mitos e desinformação que dificultam a adesão à imunização. Entre os boatos mais comuns estão a ideia de que a vacina incentiva o início precoce da atividade sexual ou causa efeitos adversos graves, como infertilidade — informações que não têm respaldo científico.

O HPV é um vírus muitas vezes assintomático, mas que pode provocar doenças graves, incluindo câncer de colo do útero, pênis, ânus e orofaringe. Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) estimam que, anualmente, 17 mil mulheres são diagnosticadas com câncer de colo do útero, sendo 7.209 vítimas fatais, tornando a doença a segunda maior causa de morte por câncer feminino no Brasil. Já o câncer de pênis representa cerca de 2% de todos os tipos de câncer, com maior incidência nas regiões Norte e Nordeste, segundo o Ministério da Saúde.

No Brasil, a vacinação contra o HPV é oferecida gratuitamente para meninas e meninos de 9 a 19 anos, além de grupos prioritários com condições específicas, como pessoas imunossuprimidas ou vítimas de violência sexual, até os 45 anos. No entanto, o medo baseado em desinformação ainda faz muitos pais hesitarem em vacinar seus filhos.

Desmistificando mitos

O pediatra e gestor médico do Instituto Butantan, Mário Bochembuzio, reforça que “não existe nenhuma evidência científica que comprove que a vacina contra o HPV tenha qualquer relação com o início precoce da atividade sexual. Ao contrário, ela é uma forma de proteção contra doenças graves, como câncer, que podem afetar a vida adulta das pessoas”.

Outro equívoco comum é a crença de que a vacina poderia causar câncer. Segundo Bochembuzio, “a vacina não só previne o câncer, como protege contra tipos de HPV diretamente ligados ao desenvolvimento de tumores, como os de colo do útero e de pênis”. O imunizante é produzido com Partículas Semelhantes ao Vírus (VLPs), que não contêm material genético e, portanto, não podem provocar infecção nem câncer.

A vacina também é amplamente segura para crianças e adolescentes. “A resposta imunológica é mais forte entre 9 e 14 anos, tornando a vacina mais eficaz nessa faixa etária. Estudos com mais de 15 anos comprovam sua eficácia”, explica o especialista. A vacinação contra o HPV é aprovada pela Anvisa e faz parte do Calendário Nacional de Vacinação desde 2014.

Segurança confirmada

Temores sobre efeitos colaterais graves, como convulsões, infertilidade ou trombose, são infundados. Estudos mostram que tais eventos são extremamente raros. Bochembuzio esclarece que “não há evidências que sugiram que a vacina cause infertilidade ou reações neurológicas graves. Pelo contrário, ela previne complicações muito mais sérias, como o câncer, que pode comprometer a saúde reprodutiva”. Pesquisas em larga escala, como o estudo realizado na Dinamarca com 500 mil mulheres, não encontraram relação entre a vacinação e o aumento de trombose.

Vacinar meninos é fundamental

Embora muitas pessoas ainda associem a vacinação apenas às meninas, os meninos também devem ser imunizados. O HPV pode causar câncer de pênis, ânus e orofaringe, além de verrugas genitais. Um estudo publicado em 2023 na The Lancet Global Health revelou que um em cada três homens acima de 15 anos está infectado com pelo menos um tipo de HPV genital, sendo que muitos casos são de alto risco.

“A vacinação de meninos e meninas é uma estratégia coletiva que pode mudar a realidade do câncer associado ao HPV no futuro”, conclui Bochembuzio.