
Evangélicos e oposicionistas rejeitam reunião com o advogado-geral da União, que corre contra o tempo para conquistar votos antes da sabatina
A indicação de Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal (STF), feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enfrenta um cenário de forte resistência no Senado. Mesmo antes da sabatina marcada para o dia 10, parlamentares de diferentes alas já sinalizam dificuldade em apoiar o atual advogado-geral da União.
Entre os grupos mais reticentes estão senadores evangélicos e oposicionistas. Messias procurou o presidente da Frente Parlamentar Evangélica, senador Carlos Viana (Podemos-MG), na tentativa de articular um encontro com a bancada. Viana, porém, afirma que, após consultar os 17 senadores que integram o grupo, “a maior parte não quer encontrar Messias”.
Embora o indicado ao STF também seja evangélico, integrantes da frente o classificam como “petista antes de evangélico”, ponto considerado determinante para o distanciamento.
Messias também buscou diálogo com partidos de oposição, como PL e Novo, que compõem o bloco Vanguarda, formado por 16 senadores. A previsão era de que ele se reunisse com integrantes do grupo nesta terça-feira (2), mas há resistência interna, e alguns parlamentares preferiram não comparecer.
Na segunda-feira (1º), Messias conseguiu conversar individualmente com alguns opositores, entre eles o senador Izalci Lucas (PL-DF). Izalci, no entanto, avalia que o cenário não é favorável:
“Não está fácil, mas vai depender muito das conversas”, afirma. Segundo ele, a votação secreta dificulta previsões e muitos parlamentares rejeitam o critério de escolha dos indicados, por considerarem que os nomes são subordinados ao governo.
Atritos e desconfianças
Além das questões políticas, pesam contra Messias decisões recentes da AGU que desagradaram parlamentares — entre elas, a defesa do governo durante a crise relacionada ao aumento do IOF e a atuação em favor de mais transparência no processo de emendas parlamentares. A exigência de maior rigor nessas operações, reforçada pelo STF, aumentou o desconforto entre Legislativo e Executivo.
Carlos Viana, que ainda avalia se a bancada evangélica receberá o indicado, afirma que “há uma dificuldade muito grande de convencimento dos parlamentares”, especialmente por conta das emendas. Segundo ele, Messias representa uma posição que “pode ampliar o conflito” entre os poderes.
Articulação no Planalto
Em meio ao impasse, o presidente Lula intensificou sua articulação com o Senado. Nesta segunda, o presidente almoçou com o relator da indicação, senador Weverton Rocha (PDT-MA), em encontro fora da agenda oficial. Aliado do governo e articulador próximo do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), Weverton já sinalizou parecer favorável a Messias.
Apesar disso, o clima político segue tenso. Alcolumbre marcou a sabatina para o dia 10, mas criticou publicamente o governo por ainda não ter enviado ao Senado os documentos necessários para oficializar a indicação — o que, segundo ele, gera “perplexidade” e pode adiar a votação para 2026.
Gleisi Hoffmann, ministra da Secretaria de Relações Institucionais, respondeu afirmando que o governo “jamais rebaixaria a relação com o Congresso a fisiologismo”, tentando conter a crise com o Senado.
Cenário indefinido
Para ser aprovado, Messias precisa de pelo menos 14 votos na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e 41 votos no plenário. Nos corredores, porém, o clima é de desaprovação. Senadores ouvidos reservadamente afirmam que a resistência é grande e que a votação secreta torna o resultado imprevisível.
Enquanto busca apoio de parlamentares evangélicos, oposicionistas e independentes, Messias segue em maratona de conversas para evitar o risco de ser o primeiro indicado ao STF rejeitado pelo Senado em 131 anos.
A expectativa é que a articulação política se intensifique nos próximos dias — e que o desfecho dependa diretamente do poder de convencimento do Planalto e do próprio indicado.



















