Nioaque avança para se tornar o primeiro destino de turismo indígena estruturado de MS

16
Fotos: Messias Ferreira - Sebrae/MS

Nioaque avança para se tornar o primeiro destino turístico estruturado em território indígena de Mato Grosso do Sul. No último sábado (29), as comunidades indígenas deram um passo decisivo rumo à consolidação do etnoturismo no Estado com a entrega oficial do Plano de Visitação – Etnoturismo, desenvolvido pelo Sebrae/MS em parceria com a Fundação de Turismo de MS (Fundtur/MS) e apoio da Prefeitura de Nioaque.

O documento marca o encerramento de uma consultoria iniciada em janeiro de 2025 e construída junto a cinco comunidades — quatro delas formadas por indígenas da etnia Terena (Brejão, Cabeceira, Água Branca e Taboquinha) e a aldeia Vila Atikum, composta por indígenas da etnia Atikum. O plano consolida um modelo de turismo de base comunitária pensado e estruturado com participação direta das lideranças e famílias indígenas. Agora, o próximo passo é obter a anuência da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), etapa indispensável para a abertura oficial do destino ao mercado turístico nacional e internacional.

Nioaque avança para se tornar o primeiro destino de turismo indígena estruturado de MSEm evento que contou com apresentações culturais e falas de autoridades, indígenas apresentaram proposta de plano de visitação turística em suas comunidades

A entrega do plano ocorreu no Centro Comunitário da Aldeia Brejão e foi marcada por uma programação que evidenciou a força cultural das comunidades. Houve apresentações da dança Sipu Terena, demonstrações de grafismos indígenas, mostra de artesanato e a entrega de certificados de cursos realizados nas aldeias, como condução em ecoturismo, fotografia, redes sociais, comunicação e Empretec – todos voltados à qualificação e autonomia da comunidade para atuar profissionalmente no turismo.

Para o diretor-superintendente do Sebrae/MS, Claudio Mendonça, o momento representa um divisor de águas. “O turismo agora nasce do próprio povo, com valorização da cultura e protagonismo local. O plano estabelece bases concretas para o desenvolvimento sustentável e coloca essas aldeias no mapa do turismo de Mato Grosso do Sul”, destacou.

Nioaque avança para se tornar o primeiro destino de turismo indígena estruturado de MSAinda no evento, foram entregues certificados de participação dos indígenas em capacitações de empreendedorismo promovidas pelo Sebrae/MS na comunidade, como o curso Empretec

Representando a Fundtur/MS, o indigenista Bolívar Porto ressaltou o caráter coletivo da construção: “A entrega marca o fechamento de uma etapa e, ao mesmo tempo, o início de um novo momento. Agora, cabe às comunidades darem vida ao que foi construído e seguirem avançando”, disse.

O subsecretário de Políticas Públicas para Povos Originários da Secretaria de Estado de Cidadania, Fernando Souza, também presente na agenda, reforçou que a iniciativa preenche uma lacuna histórica.
“Os territórios sempre tiveram potencial. Faltava uma estrutura que profissionalizasse a oferta e desse segurança às comunidades. Este plano representa um passo essencial para transformar social e economicamente essas aldeias”, afirmou.

Estruturação completa para um destino pioneiro

Mais de 300 pessoas participaram do processo ao longo dos 11 meses, seguindo os princípios da consulta livre, prévia e informada. O plano organiza ações em torno de segurança turística, governança, cultura, infraestrutura, operação de roteiros e empreendedorismo.

As experiências propostas incluem grafismo, rituais, trilhas, culinária tradicional, dança e vivências autênticas, com destaque para iniciativas como a Casa do Hermogênio e o Camping da Dona Maria. A estruturação prevê ainda estratégias de marketing, integradas pela Agência Comunitária de Turismo, que coordenará a operação no território.

O cacique Ademir da Silva, da Aldeia Brejão, celebrou a oportunidade de compartilhar a própria história. “Nossa cultura sempre esteve aqui. Agora, poderemos mostrá-la ao mundo de forma organizada, com respeito e geração de renda. É um avanço para todas as aldeias envolvidas”, afirmou.

Nioaque avança para se tornar o primeiro destino de turismo indígena estruturado de MSApresentações culturais, como a tradicional “dança da ema”, conduzida pelas lideranças da etnia Terena, integraram programação

O professor Thiago da Silva, da etnia Terena, e membro do Conselho Gestor de Turismo, descreveu o processo como a realização de um sonho coletivo.
“Há oito anos sonhava com esse projeto. Ver nossa comunidade se reconhecer como protagonista de um turismo sustentável superou todas as expectativas. Estamos deixando um legado para as próximas gerações”, destacou.

Talita Miranda, jovem da etnia Atikum, reforçou o impacto da formação:
“Aprendi a valorizar nossa cultura e a enxergá-la como oportunidade de trabalho e dignidade para nosso povo.”

Lançada com o plano, a marca “NIOAC – Cultura Viva, Turismo Indígena” simboliza um território em movimento. A proposta articula ancestralidade, empreendedorismo e proteção territorial, guiada pelos princípios do Turismo de Base Comunitária. O plano se apresenta como um instrumento vivo, capaz de acompanhar o desenvolvimento das cinco aldeias que agora se preparam para abrir suas portas aos visitantes.