Produção recorde freou altas neste ano, mas redução da oferta e exportações elevadas devem pressionar valores
Após um primeiro semestre marcado por fortes altas, os preços da carne bovina perderam ritmo na segunda metade do ano, influenciados por um volume recorde de produção no Brasil. O aumento da oferta ajudou a aliviar a pressão sobre os valores cobrados ao consumidor e levou o país a ultrapassar, pela primeira vez, os Estados Unidos como maior produtor mundial de carne bovina, segundo dados do Departamento de Agricultura norte-americano (USDA).
Apesar da desaceleração recente, a perspectiva para 2026 é de nova pressão sobre os preços. A avaliação é do analista de Safras & Mercado, Fernando Iglesias, que aponta redução da oferta de bovinos para abate e manutenção de exportações em patamares elevados como os principais fatores para a tendência de alta.
Produção recorde freou preços
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação das carnes atingiu o maior patamar do ano em junho, com alta de 23,63% no acumulado de 12 meses. A partir daí, os aumentos começaram a perder força. Em novembro, por exemplo, a alta acumulada caiu para 5%.
A desaceleração coincidiu com um período de produção histórica. No terceiro trimestre de 2025, o Brasil abateu 11,2 milhões de cabeças de gado, o maior volume já registrado para o período desde o início da série histórica, em 1997. O abate de fêmeas também bateu recorde e, pela primeira vez, superou o de machos.
Segundo Iglesias, o próprio limite do orçamento das famílias brasileiras também contribuiu para conter novos reajustes. “A carne bovina ficou tão cara que chegou um momento em que o consumidor já não conseguia absorver novos aumentos. Com isso, houve uma migração para proteínas mais baratas, como frango, embutidos e ovos”, afirma.
O analista destaca ainda que o tarifaço imposto pelos Estados Unidos à carne brasileira não teve impacto relevante na queda de preços internos. “A indústria deixou de vender para os EUA, mas encontrou outros mercados. O fluxo de exportações foi intenso ao longo do segundo semestre”, explica.
Expectativa de alta em 2026
Para o próximo ano, o cenário tende a mudar. Após um ciclo de abate elevado, a expectativa é de que pecuaristas reduzam a oferta de animais para o mercado, retendo fêmeas para reprodução e recomposição do rebanho.
“Para 2026, o consumidor pode esperar preços mais altos da carne bovina, numa análise inicial”, afirma Iglesias. Segundo ele, mesmo com exportações aquecidas, a produção não deve repetir os níveis recordes de 2025.
O analista ressalta, porém, que a trajetória dos preços também dependerá de fatores externos, especialmente das decisões da China, maior compradora da carne brasileira. O país asiático avalia a adoção de salvaguardas para proteger sua produção interna.
“Se a China impor cotas muito restritivas, isso pode mudar completamente a dinâmica do mercado. Dependendo do nível dessas restrições, podemos sair de um cenário de menor oferta interna para um de maior disponibilidade de carne no Brasil”, conclui.




















