Banco Central registra ao menos 422 denúncias de fraude ligadas ao Banco Master

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Sede do Banco Master, em São Paulo (Foto: Reprodução / TV Globo)

Dados obtidos via Lei de Acesso à Informação antecedem operação da PF

Um rastro de queixas registradas ao longo de seis anos colocou o Banco Master no radar do Banco Central antes mesmo da operação da Polícia Federal que mirou a instituição. Levantamento obtido com exclusividade via Lei de Acesso à Informação mostra que o BC contabilizou ao menos 422 denúncias de fraudes relacionadas ao banco entre janeiro de 2018 e dezembro deste ano.

Os dados constam no Sistema de Registro de Demandas do Cidadão (RDR), plataforma do Banco Central que reúne reclamações de consumidores sobre instituições financeiras. Segundo o levantamento, além das 422 notificações associadas à palavra-chave “fraude”, há também uma reclamação diretamente vinculada ao nome de Daniel Vorcaro, dono do Banco Master.

A reportagem solicitou ao Banco Central o detalhamento das denúncias, mas o órgão informou que não pode liberar o conteúdo, alegando que as informações são protegidas por sigilo.

Operação da PF

O Banco Master foi alvo da operação Compliance Zero, deflagrada pela Polícia Federal em 18 de novembro. A ação resultou na prisão temporária de Daniel Vorcaro e no afastamento do então presidente do BRB (Banco de Brasília), Paulo Henrique Costa. Vorcaro foi solto após dez dias, por decisão da Justiça Federal de Brasília.

Segundo a PF, a investigação apura a transferência de R$ 17 bilhões do BRB para o Banco Master, relacionada à aquisição de ativos sem avaliação técnica prévia sobre o valor dos títulos negociados.

Negociação travada

A tentativa de aquisição do Banco Master pelo BRB não avançou após o Banco Central barrar as negociações. A operação, no entanto, chegou a ser defendida publicamente pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha.

Por meio da Lei de Acesso à Informação, a reportagem também solicitou ao BRB documentos técnicos sobre a negociação, incluindo pareceres de risco, relatórios de due diligence, análises de compliance e auditoria interna que justificassem a transferência bilionária.

Em resposta, o banco público informou que os documentos são sigilosos, por envolverem metodologias internas de avaliação, análises de risco regulatório, reputacional e operacional, além de premissas financeiras sensíveis e recomendações estratégicas do processo decisório.

Mesmo após recurso e pedido de divulgação parcial, o BRB manteve a negativa. Segundo o banco, o conteúdo sensível seria indissociável, o que inviabilizaria a liberação de versões públicas dos documentos, sob risco de prejuízo à competitividade, à segurança institucional e à posição estratégica da instituição no mercado financeiro.