Planejamento, metas possíveis e aceitar recaídas estão entre as dicas de especialistas
Janeiro chega com frases prontas, promessas renovadas e um senso coletivo de recomeço. Nas redes sociais, pipocam anúncios de academias, dietas e cursos; no trabalho, o assunto é quase sempre o mesmo: o que cada um decidiu mudar no novo ano. Mas a empolgação costuma durar pouco — e muitas resoluções de Ano Novo ficam pelo caminho antes mesmo do fim do mês.
Para tentar virar esse jogo, especialistas ouvidos pela BBC reuniram orientações práticas sobre como transformar metas de Ano Novo em mudanças possíveis — e duradouras.
1. Troque promessas genéricas por objetivos reais
“Perder peso”, “mudar de carreira” ou “mudar de casa” são mais cobranças do que planos, alerta a médica e coach de autoconfiança Claire Kaye. Segundo ela, resoluções fracassam com frequência porque são vagas, amplas demais e pouco realistas.
A recomendação é começar pelo diagnóstico: anotar o que está funcionando na vida, o que causa desgaste e onde as decisões estão sendo tomadas no piloto automático. “Quando você entende o que deseja construir — e não apenas do que quer fugir — a mudança se torna mais sustentável”, afirma.
Em vez de falar em emagrecimento, por exemplo, a especialista sugere metas como “ter mais disposição e me sentir confortável com meu corpo”. No lugar de “mudar de carreira”, uma alternativa seria “explorar que tipo de trabalho me traz motivação e dar um pequeno passo nessa direção”.
2. Fuja do “sempre” e do “nunca”
Outra armadilha comum está nas palavras definitivas. Para a psicóloga Kimberley Wilson, termos como “sempre” e “nunca” criam uma lógica de tudo ou nada, difícil de sustentar.
Prometer que “nunca mais vai beber” ou que “sempre vai correr às quartas-feiras” aumenta a chance de frustração. “Se a pessoa falha um dia, passa a enxergar aquilo como um fracasso total”, explica.
A saída, segundo as especialistas, é usar frases mais abertas, como “quero experimentar”, “quero criar mais espaço para” ou “estou aprendendo o que funciona para mim quando…”.
3. Considere a recaída parte do processo
Planejar apenas para os dias bons é um erro comum. “As pessoas fazem planos para a melhor versão de si mesmas”, diz Wilson. O problema surge quando aparecem o cansaço, o estresse ou um imprevisto — e não há estratégia para lidar com isso.
Aceitar a recaída como parte do caminho é fundamental. Um deslize não significa fracasso, e a persistência importa mais do que a perfeição. Para Kaye, o segredo é evitar que um pequeno lapso vire abandono total. Em vez de autocrítica, a recomendação é curiosidade: entender o que aconteceu e recomeçar no dia seguinte.
4. Incorpore novos hábitos à rotina
Uma técnica conhecida como “empilhamento de hábitos” pode ajudar a manter as resoluções. A ideia é associar um novo comportamento a algo que já faz parte do dia a dia, explica a coach de carreira Emma Jefferys.
“Depois de escovar os dentes, faço alongamentos. Depois de colocar os filhos na cama, leio por alguns minutos”, exemplifica. Assim, o novo hábito passa a fazer parte da estrutura da rotina, sem depender apenas da motivação.
Preparar o ambiente também conta. Quem quer ler mais pode deixar o livro ao alcance da mão; quem quer se exercitar pode separar a roupa com antecedência.
5. Dê um sentido positivo às metas
No caso das finanças, ligar a meta a algo concreto e motivador aumenta as chances de sucesso. Para Tom Francis, diretor de finanças pessoais da Octopus Money, poupar fica mais fácil quando há um objetivo claro, como uma viagem ou um fundo de emergência.
Ele recomenda escolher poucas prioridades e quebrar metas grandes em partes menores. Guardar R$ 12 mil pode parecer distante, mas R$ 1 mil por mês é mais palpável. E, diante de um imprevisto, desacelerar não significa desistir.
“Mesmo reduzir o valor poupado já mantém o hábito vivo”, afirma. No fim das contas, é a constância — e não a perfeição — que faz a diferença.


