A Igreja São Benedito, um dos principais símbolos culturais e religiosos da Comunidade Quilombola Tia Eva, em Campo Grande, passará por uma restauração completa. Com 106 anos de história, o templo localizado na região do Jardim Seminário terá as obras conduzidas pela Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos (Agesul). A licitação está marcada para a próxima quarta-feira (4), com valor estimado em R$ 2.400.086,87 — podendo ser reduzido no decorrer da concorrência eletrônica.
O projeto de restauração inclui uma série de melhorias estruturais e de acessibilidade. Estão previstas a substituição completa das telhas do telhado, a troca dos revestimentos internos por ladrilhos hidráulicos na cor vermelha, além da instalação de caixas de som embutidas no forro. O túmulo de Tia Eva, fundadora da comunidade e responsável pela construção da igreja, também receberá um novo revestimento em granito.
A fachada do templo, atualmente desgastada pelo tempo, será revitalizada com pintura nas cores azul e branco, conforme a preferência manifestada pela própria comunidade. Uma placa informativa também será instalada, destacando a relevância histórica e cultural da igreja.
Além das intervenções físicas, a obra contemplará a realocação do busto de Tia Eva, figura central da história da comunidade. Eva Maria de Jesus, conhecida como Tia Eva, nasceu escravizada em Goiás e se mudou para Mato Grosso do Sul no final do século XIX. Curandeira, parteira e benzedeira, ela utilizou recursos próprios para comprar as terras onde ergueu a igreja, em 1919, como forma de pagar uma promessa a São Benedito. A partir dali, formou-se a comunidade quilombola que hoje leva seu nome, referência de resistência, fé e preservação cultural.
A decisão pela restauração do templo atende a uma determinação judicial de julho do ano passado, quando a Justiça acolheu um pedido do Ministério Público de Mato Grosso do Sul. A sentença reconheceu a importância da preservação da Igreja São Benedito como patrimônio histórico, não apenas para a comunidade local, mas para toda a cidade de Campo Grande.
A obra é vista como uma reparação histórica, além de um passo fundamental para manter viva a memória de Tia Eva e a luta de seus descendentes pela preservação de sua cultura e identidade.