Denúncias apontando para uma combinação entre os diretores do Consórcio Guaicurus e o SITTCU (Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Coletivo e Urbano de Campo Grande) para forçar o Município de Campo Grande a aumentar o valor dos repasses e até mesmo da tarifa do transporte público ganhou pauta na Câmara Municipal, após a paralisação de quarta-feira (22) dos motoristas que provocou atraso de cerca de 1h na saída dos ônibus das garagens.
Segundo a fala dos próprios vereadores em plenário e nas redes sociais, ex-funcionários e atuais funcionários das empresas de viação que formam o Consórcio Guaicurus garantiram que o SITTCU defende os interesses patronais, organizando paralisações e greves para pressionar a Prefeitura de Campo Grande.
O vereador Maicon Nogueira (PP) afirmou que o Consórcio controla o sindicato. “Tem como comprovar: há vários depoimentos de pessoas que trabalham e trabalharam. Vou resguardar a identidade dos que estão na ativa, porque pediram anonimato por temerem represálias”, disse.
Nogueira também comentou sobre a possibilidade de abertura de uma investigação criminal. “A polícia pode pedir as imagens, fazer a quebra de sigilo e solicitar os telefones dos diretores do sindicato e da empresa; é um crime grave, uma omissão de serviço”, sugeriu.
Ainda segundo ele, um requerimento será feito pedindo esclarecimentos ao Consórcio sobre a paralisação. Nesse mesmo sentido, o vereador Wilson Lands (Avante) garantiu que vai protocolar um documento junto ao MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) solicitando investigação sobre a atual situação do Consórcio Guaicurus.
Durante a sessão, o presidente da Câmara, Papy (PSDB), disse que a Casa vai apoiar a iniciativa, mas adiantou que é importante ter uma denúncia formal. “Para que a gente possa averiguar isso a fundo. Assim, não fica mais uma matéria de ‘disse me disse’. Pagou ou não pagou, fez ou não fez, deve ou não deve”, pontuou.
A paralisação
Os motoristas do Consórcio Guaicurus, coletivo de empresas de viação que opera o sistema de transporte público em Campo Grande, fizeram um protesto de cerca de uma hora na manhã dessa quarta-feira, atrasando a saída dos ônibus das garagens e deixando dezenas de passageiros esperando nos terminais e pontos de embarque.
Em um vídeo, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo e Urbano de Campo Grande (STTCU), Demétrio Freitas, explicou que essa paralisação foi motivada por um impasse financeiro entre o Consórcio Guaicurus e a Prefeitura Municipal, no que se refere a atraso do adiantamento salarial.
“O Consórcio comunicou que não vai conseguir honrar o pagamento do vale. Segundo eles, não têm dinheiro porque a Prefeitura está deixando de pagar repasses em atraso. Com isso, repassaram para a gente que não vai pagar hoje e não informaram a data. Tomaremos as medidas necessárias para que todos recebam quanto antes”, disse.
Sobre os repasses, os vereadores identificaram atrasos de quatro meses nos valores relativos ao passe do estudante por parte dos Executivos Municipal e Estadual, totalizando um montante de aproximadamente R$ 9,5 milhões, o que atrasou o pagamento do vale dos funcionários do Consórcio Guaicurus, culminando na paralisação.
“O Consórcio notificou a falta de repasses em setembro e outubro, e todos os documentos foram encaminhados pela Casa às autoridades competentes, como Ministério Público, Prefeitura e Governo do Estado. Vamos pedir uma reunião com a prefeita, o consórcio e o sindicato, porque o cidadão não pode continuar sendo penalizado”, disse Papy.
Ainda segundo o presidente do Sindicato, a paralisação de hoje foi apenas para pressionar o Consórcio Guaicurus a efetuar o pagamento do vale, caso não ocorra, uma assembleia-geral será organizada nos próximos dias para debater a paralisação total. “Provavelmente na segunda-feira, dia 27, não tenha ônibus durante o dia inteiro”, disse Demétrio.
A Prefeitura de Campo Grande informou, na tarde de ontem, por meio de nota, que está “rigorosamente em dia com todas as suas obrigações de pagamento junto ao Consórcio Guaicurus”. “O financiamento do transporte coletivo urbano envolve diferentes fontes pagadoras e, neste momento, há parcelas de outras origens ainda pendentes, o que impacta temporariamente o custeio do serviço”, cita.

