O Banco Central (BC) decidiu manter a taxa Selic — os juros básicos da economia — em 15% ao ano. A decisão, tomada por unanimidade pelo Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira (10), já era amplamente esperada pelo mercado financeiro, que observava sinais de cautela da autoridade monetária diante da desaceleração econômica e do recuo recente da inflação.
Em comunicado, o Copom voltou a reforçar que o atual cenário é de “grande incerteza”, o que justifica manter a Selic no maior patamar desde julho de 2006. O tom da nota indica que o Banco Central não trabalha com cortes no curto prazo.
“O comitê avalia que a estratégia em curso, de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado, é adequada para assegurar a convergência da inflação à meta”, destacou o texto. O BC também afirmou que seguirá vigilante e pode ajustar os juros novamente caso julgue apropriado.
Quatro reuniões sem mudança
A Selic está em 15% desde junho de 2024. O ciclo de alta começou em setembro do mesmo ano, após a taxa ter atingido 10,5% em maio. Desde então, o Copom tem optado por segurar os juros no mesmo patamar, como forma de ancorar expectativas e evitar pressões inflacionárias.
Inflação recua e volta ao intervalo da meta
O principal indicativo acompanhado pelo Banco Central, o IPCA, ficou em 0,18% em novembro — o menor índice para o mês desde 2018. Com isso, a inflação acumulada em 12 meses chegou a 4,46%, de volta ao teto da meta contínua, que varia entre 1,5% e 4,5% ao ano.
O sistema de metas contínuas, adotado desde janeiro de 2024, determina que a inflação deve ser avaliada mês a mês, sempre com base no acumulado de 12 meses. A meta principal é de 3%, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
No Relatório de Política Monetária divulgado em setembro, o BC reduziu a projeção da inflação para 2025, de 5% para 4,8%. O número, no entanto, deve ser revisto no fim de dezembro diante da oscilação recente do dólar e de indicadores de preços.
Já o mercado financeiro está mais otimista: segundo o boletim Focus, a inflação deve fechar o ano em 4,4%, pouco acima do teto da meta.
Crédito mais caro e economia em marcha lenta
Juros altos ajudam a conter a inflação ao encarecer o crédito e desestimular o consumo e a produção. O efeito, porém, tem custo sobre o crescimento econômico. No último relatório, o BC reduziu a estimativa de expansão do PIB em 2025 de 2,1% para 2%.
O mercado, por outro lado, prevê um avanço ligeiramente maior: 2,25% no próximo ano, de acordo com o Focus.
A Selic serve de referência para as taxas aplicadas em empréstimos, financiamentos e operações com títulos públicos. Quanto maior o juro básico, mais caro fica o crédito — e mais rentável se torna a poupança e outros investimentos de renda fixa.
Para que a Selic volte a cair, o Banco Central precisa ter segurança de que a inflação seguirá controlada e sem riscos de aceleração.
Próximos passos
Apesar de não indicar cortes, o BC sinalizou que está atento às mudanças no cenário. Caso a inflação volte a subir ou haja alguma pressão adicional — seja fiscal, cambial ou externa —, o Copom não descarta retomar o ciclo de alta.
Enquanto isso, a recomendação segue a mesma: juros elevados por um período prolongado até que a convergência para a meta esteja assegurada.




















