Os eleitores da Bolívia votam neste domingo (17) em uma eleição geral que pode encerrar quase duas décadas de domínio do Movimento ao Socialismo (MAS), partido fundado pelo ex-presidente Evo Morales, que desta vez está impedido de concorrer. O pleito ocorre em meio à inflação mais alta em 40 anos e a uma crise de abastecimento de combustível e dólares no país.
Disputa acirrada
As pesquisas apontam vantagem para os candidatos conservadores da oposição: Samuel Doria Medina, empresário e magnata boliviano, e Jorge “Tuto” Quiroga, ex-presidente do país. Nenhum deles, porém, supera os 30% de intenções de voto. Cerca de um quarto do eleitorado ainda está indeciso, o que torna o resultado imprevisível.
A fragmentação da esquerda contribuiu para o cenário. Os candidatos ligados ao MAS e a outras legendas de orientação progressista somam apenas 10% das intenções de voto, segundo pesquisa Ipsos CEISMORI de agosto. O candidato oficial do MAS, Eduardo del Castillo, tem o apoio do atual presidente Luis Arce, mas enfrenta resistência. Já Rodriguez, que se afastou do partido, tenta viabilizar sua candidatura de forma independente.
Se nenhum candidato obtiver mais de 40% dos votos válidos com vantagem mínima de 10 pontos percentuais sobre o segundo colocado, haverá segundo turno em 19 de outubro.
Economia em colapso
A deterioração da economia é a principal preocupação dos eleitores. A inflação anual dobrou em seis meses, saltando de 12% em janeiro para 23% em junho. Muitos bolivianos recorrem a criptomoedas para proteger suas economias, enquanto famílias de baixa renda enfrentam dificuldades para comprar itens básicos.
“Os preços da cesta básica estão subindo rapidamente. De repente, a matemática não bate mais”, afirma o economista Roger Lopez.
Nas ruas de La Paz, o descontentamento é evidente. Silvia Morales, de 30 anos, ex-eleitora do MAS, diz que pretende votar na centro-direita: “A cada ano a situação piora sob este governo”. Já o professor Carlos Blanco Casas, de 60 anos, destaca: “Esta eleição parece esperançosa. Precisamos de uma mudança de direção”.
Propostas dos candidatos
Quiroga, que governou o país entre 2001 e 2002, promete uma “mudança radical”, com cortes nos gastos públicos e o fim das alianças da Bolívia com Venezuela, Cuba e Nicarágua. Doria Medina, por sua vez, adota um tom mais moderado e propõe estabilizar a economia em 100 dias de governo.
Evo fora da disputa
Excluído da corrida, Evo Morales pediu que seus apoiadores boicotassem a votação, mas analistas apontam que sua influência vem diminuindo. “Há um apoio generalizado a estas eleições”, avalia Glaeldys Gonzalez Calanche, do International Crisis Group. “A maioria dos bolivianos vê a eleição como crucial para a recuperação econômica do país.”
O dia da votação
As urnas vão abrir às 8h (mesmo horário de MS) e serão fechadas às 16h. Os primeiros resultados devem sair ainda neste domingo à noite, mas o resultado oficial só será divulgado em até sete dias. Além da Presidência, os bolivianos elegem 26 senadores e 130 deputados, que tomarão posse em 8 de novembro.
Fronteira fechada
A linha internacional entre Corumbá e as cidades bolivianas, Puerto Quijarro e Puerto Suárez, foi fechada à meia-noite deste domingo e deve ser reaberta a partir das 21h. Do lado boliviano, o tráfego de veículos foi suspenso, com exceção dos autorizados pelo governo para atuar diretamente nas eleições. A circulação será retomada após o fim da votação.