Bolsonaro desiste de embargos e STF pode decretar trânsito em julgado nos próximos dias

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(Foto: CNN Brasil)

Defesa não apresentou novo recurso; Moraes poderá rejeitar pendências e iniciar execução da pena

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) decidiu não apresentar os segundos embargos de declaração no processo em que foi condenado por tentativa de golpe de Estado. O prazo para esse tipo de recurso — usado apenas para esclarecer pontos omissos, contraditórios ou obscuros — terminou nesta segunda-feira (24). Na prática, esse tipo de recurso raramente altera o resultado do julgamento ou reduz penas.

Bolsonaro foi condenado em setembro pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e 3 meses de prisão em regime fechado, por liderar uma organização criminosa que atuou para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e subverter o Estado democrático de Direito.

Com a ausência dos embargos, o processo se aproxima do fim da fase recursal. Agora, cabe ao relator, ministro Alexandre de Moraes, declarar o trânsito em julgado — momento em que se confirma que não restam mais recursos e a pena pode começar a ser cumprida.

Possibilidade de embargos infringentes é remota

As defesas dos réus ainda podem, em tese, apresentar embargos infringentes até o fim da semana. Esse recurso tem maior potencial de alterar condenações, mas só é admitido quando há ao menos dois votos pela absolvição no julgamento — o que não ocorreu no caso de Bolsonaro e dos demais condenados.

O STF já tem entendimento consolidado de que, diante dessa ausência de divergência expressiva, não cabem infringentes. Assim, Moraes pode rejeitar os recursos pendentes e decretar o trânsito em julgado ainda nos próximos dias.

Com isso, abre-se caminho para que todos os condenados iniciem o cumprimento das penas.

Bolsonaro já está preso — mas por outro processo

Embora a pena do caso do golpe ainda não esteja em execução, Bolsonaro está preso desde sábado (22) na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília. A prisão atual é preventiva, decretada por Alexandre de Moraes em outro processo.

O ministro atendeu a pedido da Polícia Federal após dois fatores apontarem risco à aplicação da lei:

  • Violação da tornozeleira eletrônica que Bolsonaro usava em prisão domiciliar;
  • Indícios de risco de fuga, agravados pela convocação de uma vigília religiosa feita pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em frente à casa do ex-presidente.

Segundo Moraes, a combinação dos elementos poderia indicar uma tentativa de evasão — padrão observado em outros investigados ligados ao ex-mandatário. A defesa afirma que Bolsonaro não tentou fugir e que a situação decorreu de “confusão mental” causada por interação de medicamentos.

Nesta segunda (24), a Primeira Turma do STF manteve por unanimidade a prisão preventiva.

Condenados no mesmo processo

Além de Bolsonaro, foram condenados no caso do golpe:

  • Almir Garnier, ex-comandante da Marinha
  • Augusto Heleno, ex-chefe do GSI
  • Anderson Torres, ex-ministro da Justiça
  • Alexandre Ramagem (PL-RJ), deputado federal
  • Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa
  • Walter Braga Netto, general e ex-ministro
  • Mauro Cid, ex-ajudante de ordens — delator, cumpre pena domiciliar de 2 anos

Com exceção de Mauro Cid, todos aguardam o encerramento da fase recursal e o início da execução das penas.

O que acontece agora

Com o prazo dos embargos encerrado:

  • Moraes pode rejeitar os recursos pendentes dos demais réus;
  • Classificar eventuais novos recursos como protelatórios;
  • E decretar o trânsito em julgado da condenação.

Após isso, terá início o cumprimento das penas, com a transferência dos condenados para unidades prisionais indicadas pela Justiça.