Durante a primeira semana do julgamento dos oito réus acusados de articular uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi o nome mais mencionado. De acordo com levantamento feito pelo R7 a partir das transcrições das sessões do Supremo Tribunal Federal (STF), seu nome apareceu 76 vezes nas sustentações orais apresentadas pelos advogados dos réus.
O próprio ministro Alexandre de Moraes, ao abrir o julgamento com a leitura de seu relatório na última terça-feira (2), mencionou Bolsonaro 46 vezes. Já o procurador-geral da República, Paulo Gonet, citou o ex-presidente 25 vezes durante a manifestação da PGR.
Entre os advogados dos réus, a defesa que mais citou Bolsonaro foi a de Matheus Mayer Milanez, representante do general Augusto Heleno, mencionando o ex-presidente 23 vezes, embora tenha ressaltado que os dois não tinham proximidade após a filiação de Bolsonaro ao PL em 2021 e sua aproximação com o Centrão. Segundo Milanez, Heleno teria se afastado da cúpula do governo, mas continuou sendo um apoiador público do ex-presidente.
O advogado Demóstenes Torres, defensor do almirante Almir Garnier Santos, citou Bolsonaro 15 vezes, mais do que os advogados do próprio ex-presidente, que fizeram 14 menções. Torres destacou a capacidade de mobilização de Bolsonaro, afirmando que “se tivesse Bolsonaro querido o evento do dia 8 de janeiro, com um simples assobio ele botava lá 200 mil pessoas, não duas mil”.
Outros réus, como o general Walter Braga Netto, o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, o general Paulo Sérgio Nogueira e o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, citaram o ex-presidente poucas vezes em suas defesas. A defesa de Paulo Sérgio destacou que ele tentou demover Bolsonaro de medidas de exceção, enquanto a de Cid buscou afastar acusações de coação e garantir benefícios do acordo de colaboração premiada. Já a defesa de Anderson Torres apresentou bilhete aéreo emitido em novembro para comprovar que ele não deixou o país deliberadamente antes dos atos de 8 de janeiro.
No caso de Alexandre Ramagem, deputado e ex-diretor da Abin, a defesa negou que ele tenha orientado Bolsonaro com informações falsas sobre o sistema eleitoral, afirmando que Ramagem apenas compilava pensamentos do ex-presidente.
O julgamento segue no STF, e os ministros da primeira turma devem definir os próximos passos na semana que vem, mantendo atenção nacional sobre o desdobramento da trama golpista e a participação de figuras centrais do governo anterior.