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domingo, 2 de novembro, 2025
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Brasil tem 88 facções criminosas ativas, aponta levantamento da Senappen

Relatório mostra que 98% dos grupos atuam dentro de presídios; especialistas defendem atacar o dinheiro para enfraquecer o crime

O Brasil tem pelo menos 88 facções criminosas espalhadas por todo o território nacional, segundo levantamento da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), divulgado em 2024. Duas delas, o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), possuem atuação nacional. A maioria, no entanto, limita suas ações aos estados onde foram criadas.

De acordo com o relatório, 46 facções estão concentradas no Nordeste, 14 no Norte, 24 no Sul, 18 no Sudeste e 10 no Centro-Oeste.

O estudo, que analisa dados de três anos, mostra que 98% dos grupos estão presentes dentro dos presídios, 98% têm estrutura hierárquica e 91% possuem poder financeiro próprio — fator considerado central para a sobrevivência dessas organizações.

Combate ao dinheiro: “asfixiar o capital para enfraquecer o crime”

Para o coronel da reserva Adilson Paes de Souza, pós-doutorando em psicologia social pela USP, enfraquecer a estrutura financeira das facções é o caminho mais eficaz para reduzir seu poder. “Você conseguindo asfixiar a organização, você quebra ela, porque ela precisa de dinheiro para comprar agente público, armas e drogas. Asfixiando o capital, consegue asfixiar a sobrevivência dessas organizações”, explica.

O especialista reforça que a cooperação entre estados e União é essencial. “O governo federal possui órgãos como o Coaf e a Receita Federal, capazes de rastrear movimentações financeiras suspeitas. É preciso integrar esforços.”

Faturamento bilionário e megaoperações

Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam que o crime organizado movimentou R$ 146 bilhões em 2022, com atividades que vão desde a produção de bebidas e combustíveis até o garimpo ilegal de ouro.

O tema ganhou força após a megaoperação contra o Comando Vermelho, deflagrada na terça-feira (28), no Rio de Janeiro, que resultou em 121 mortos.

Após a ação, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que é preciso atingir o “andar de cima” do crime. “Para você pegar quem efetivamente tem o dinheiro e alicia as milícias, é preciso combater de onde vem o dinheiro.”

Crise e divergência entre governos

A operação reacendeu o debate sobre falta de alinhamento entre o governo federal e os estados. O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), chegou a dizer que estava “sozinho” no combate às facções.

Em resposta, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, reuniu-se com o governador e anunciou a criação do Escritório Emergencial de Combate ao Crime Organizado, que reunirá forças federais e estaduais para ações conjuntas.

Especialistas apontam falhas na atuação policial

Para Azor Lopes, presidente do Instituto Brasileiro de Segurança Pública (IBSP), o combate ao crime no país ainda é “ineficiente”. “As organizações criminosas se fortaleceram porque as agências policiais, principalmente a Polícia Federal, vêm se mostrando ineficientes”, avalia. “Só um trabalho permanente e de inteligência, envolvendo o Coaf e as polícias estaduais, seria capaz de sufocar essas organizações.”

PEC da Segurança Pública divide opiniões

Como resposta, o governo federal defende a PEC da Segurança Pública, que cria o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) para integrar ações entre União, estados e municípios.

Governadores, no entanto, criticam o texto, alegando que ele retira autonomia dos estados. “Eu tenho críticas a essa PEC — ela precisa ser melhorada —, mas é um bom passo”, disse o coronel Adilson Paes de Souza.

Punições e estrutura das facções

De acordo com a legislação, organizações criminosas são formadas por quatro ou mais pessoas, de forma estruturada, com o objetivo de praticar crimes.

A pena para quem financia, promove ou integra uma organização criminosa é de três a oito anos de prisão, podendo ser aumentada conforme a gravidade dos crimes associados.

Atualmente, PCC e Comando Vermelho seguem como as maiores facções do país, influenciando o tráfico, o sistema prisional e a economia paralela em diversas regiões.

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