Câmara aprova redução de penas para condenados do 8 de Janeiro

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PL beneficia Bolsonaro, que poderá ter a pena de 27 anos e três meses de prisão reduzida para dois anos (Foto: Rosinei Coutinho/STF)

Proposta recebeu 291 votos e pode diminuir pena de Bolsonaro; texto segue para o Senado em meio a disputas sobre tramitação

Na madrugada desta quarta-feira (10), o plenário da Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que prevê a redução das penas aplicadas aos condenados pelos atos do 8 de Janeiro de 2023, quando apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) invadiram e depredaram as sedes dos três Poderes em Brasília. O texto recebeu 291 votos favoráveis, 148 contrários e uma abstenção.

Antes da votação, dois requerimentos foram rejeitados: um da deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ), que pedia a retirada do projeto da pauta, e outro do deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), que solicitava o adiamento da discussão por uma sessão.


Redução de pena para Bolsonaro e progressão de regime acelerada

O projeto, conhecido como PL da Dosimetria, pode beneficiar diretamente Bolsonaro, que atualmente cumpre 27 anos e três meses de prisão e foi condenado pelo STF por tentativa de golpe de Estado. Segundo o relator da proposta, Paulinho da Força (Solidariedade-SP), a pena do ex-presidente poderia ser reduzida para dois anos e quatro meses.

O texto prevê a redução da pena de um terço a dois terços para crimes cometidos em contexto de multidão, desde que o condenado não exerça papel de liderança nem tenha participado do financiamento dos atos. A proposta também permite a progressão de regime após cumprimento de 1/6 da pena, diferente da regra atual, que exige 1/4 da pena.

Outras medidas incluem abatimento de dias de pena para condenados que cumpriram período em prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica, contabilizando três dias trabalhados como um dia a menos na pena.

O relator destacou que o projeto não concede anistia, mas apenas redução de penas, e afirmou que a lei deve desincentivar novos atentados à democracia.


Tramitação e divergências no Senado

Após a aprovação na Câmara, o projeto segue para o Senado, onde o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), prometeu votar o texto diretamente no plenário ainda este ano. A decisão, no entanto, gerou críticas do presidente da CCJ, senador Otto Alencar (PSD-BA), que considerou “inaceitável” que o projeto não passe pela comissão antes da análise final.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda tem a possibilidade de vetar integral ou parcialmente a proposta caso ela seja aprovada no Senado.


Contexto e repercussão

O tema havia perdido força nos últimos meses, mas aliados de Bolsonaro tentaram retomar a pauta em agosto, sem sucesso. Na manhã de terça-feira (9), a decisão de colocar o projeto em votação surpreendeu líderes partidários. A sessão também foi marcada por tumulto envolvendo o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), que se recusou a deixar a cadeira do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), em protesto contra possível cassação por quebra de decoro parlamentar.

O relator afirmou que a proposta foi construída em diálogo com lideranças partidárias e integrantes do STF, e que recursos judiciais contra a lei dificilmente terão sucesso. Segundo seus cálculos, se o projeto virar lei, Bolsonaro permaneceria em regime fechado por cerca de 2 anos e 4 meses.

A aprovação reacende o debate sobre responsabilidade e impunidade após condenações do Supremo Tribunal Federal e promete repercussão intensa durante a tramitação no Senado.