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segunda-feira, 10 de novembro, 2025
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Câmara quer sensores de glicose gratuitos para pacientes com diabetes

Vereadores da Câmara Municipal de Campo Grande mobilizam-se para viabilizar aquisição de sensores digitais de glicose, de forma gratuita pela rede pública de saúde, para pacientes com diabetes tipo 1. O assunto foi debatido em Audiência Pública, na manhã desta segunda-feira, dia 10. Vários vereadores devem destinar emendas impositivas no Orçamento de 2026 para aquisição destes sensores, conforme anunciou o vereador Ronilço Guerreiro, proponente do debate.

O vereador Ronilço Guerreiro também é autor de projeto de lei para que a prefeitura adquira os sensores. “Nós precisamos trabalhar juntos para resolver esse problema. Temos um projeto de lei que diz que a prefeitura terá que fornecer os sensores. A Câmara Municipal se uniu neste momento. Cada vereador vai dar um pouquinho das suas emendas impositivas para fazermos um projeto-piloto em Campo Grande, para que a prefeitura possa comprar esses sensores e repassar para as pessoas com diabetes tipo 1”, disse o vereador.

Ele informou que todos os vereadores mostraram-se interessados em ajudar com a destinação das emendas impositivas, que estarão previstas na Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2026, em tramitação na Câmara Municipal. “É uma maneira de nós falarmos para a sociedade, nós queremos construir juntos. Aquilo que cabe à Câmara Municipal de Campo Grande, nós estamos fazendo”. O vereador falou que um dos encaminhamentos será discutir a política para os diabéticos com a Secretaria Municipal de Saúde, além de já ter acionado deputados federais e senadores para tratar do assunto.

O vereador Epaminondas Neto, presidente da Casa de Leis, citou que o vereador Ronilço Guerreiro está articulando um pouco de recursos de cada parlamentar para compor essa emenda coletiva, com objetivo de viabilizar o projeto. “Hoje o parlamentar faz um projeto de lei e depende muito do Orçamento do Executivo. As emendas impositivas são importantes porque elas trazem uma possibilidade de execução das ferramentas criadas nas leis que fazemos. Então, o vereador Ronilço pegou um pouquinho de cada vereador e vai conseguir comprar alguns destes sensores”, destacou.

Sem o dispositivo, o paciente precisa furar o dedo para monitorar a glicose, somando até 300 furos por mês. “Olhem com carinho para a gente. O sensor não é comodismo, é liberdade, para comer, dormir, brincar, para fazer tudo. É esperança para quem fura o dedo todos os dias”, destacou Kamila Moura, de 12 anos, que foi diagnosticada com diabetes tipo 1 ainda aos 7 anos de idade. “Enxergo o sensor como uma liberdade”, relatou a menina, que afirmou não sentir mais medo depois de usar o sensor, mas também pontuou o sacrifício dos pais para a compra dos dispositivos a cada 15 dias.

O sensor custa atualmente em média R$ 300 e precisa ser substituído a cada 15 dias. Sem esse equipamento, é preciso furar o dedo para medir a insulina pelo menos depois de cada refeição ou até mesmo depois de alguma atividade física. A mãe de Kamila, Vânia Aparecida Moura, lembrou que o sensor garante uma análise da glicose, que permite você já ficar atento à possibilidade de queda da insulina, por exemplo. “Na escola é outra vida. Ela não precisa ficar furando o dedo. Se está brincando, muito calor, pode estar caindo muito rápido”, disse, que monitora as informações da filha sempre pelo celular.

Lenine Oliveira Rocha Junior, representa a Associação dos Diabéticos de Campo Grande e é pai de uma menina de 8 anos, que tem diabetes tipo 1. Ele salientou a importância da proposta. “É um projeto que pode salvar muitas vidas. Também é preciso entender que isso vai trazer menos custo para o SUS, porque o custo de internação é muito maior do que o custo de um ano de sensor. Então é uma conta muito simples de se fazer e isso vai trazer também economia para a rede pública”, disse. Na Audiência, ele mostrou dados dos custos de hospitalizações de pacientes com hipoglicemia grave ou cetoacidose diabética, além de complicações decorrentes. Os números reduziriam consideravelmente com os equipamentos. “Aí você percebe que o sensor não é caro porque reduziriam esses gastos”.

Na Audiência, pacientes e seus familiares relataram as dificuldades no dia a dia para monitorar a glicemia, além das facilidades e análise mais adequada proporcionada pelos sensores.

Informações

No início da Audiência, a médica endocrinologista Bianca Paraguassu e a nutricionista Walkiria Vieira repassaram informações técnicas sobre os tipos de diabetes e como esse sensor assegura mais qualidade de vida aos pacientes. “O sensor fica medindo a glicose o tempo inteiro para você saber qual a dose de insulina vai precisar usar. Se você usou uma dose a mais de insulina, ou se por algum motivo o seu corpo metabolizou isso mais rápido, esse sensor vai apontar que a sua glicose está baixa e você vai poder comer para que a sua glicose se eleve e você também não tenha uma crise de hipoglicemia”, explicou a médica Bianca Paraguassu.

Ela salientou que os pacientes diagnosticados com a diabetes tipo 1 precisam usar para sempre a insulina, com esse monitoramento constante. “É uma doença autoimune, o corpo destruiu o pâncreas e aí a pessoa não consegue viver sem insulina”, explicou a médica. Ela esclareceu que o diabetes tipo 1 não é culpa da pessoa, nem de hábitos de vida, mas o pâncreas parou de funcionar.

O monitor de glicose contínua tem ainda a facilidade de apontar a tendência de a glicose cair ou subir, o que traz mais confiança aos pacientes. Caso ela vá dormir, por exemplo, tem como saber se precisa comer antes caso haja a tendência de alteração. “Se furasse o dedo não ia conseguir ver isso. O monitor traz essa informação adicional que é extremamente importante”, explicou a médica.

O monitoramento é fundamental ainda para as crianças e idosos, pois a tecnologia permite que familiares possam ajudar no monitoramento por um aplicativo no celular. A nutricionista Walkiria Vieira, educadora na área de diabetes, ressaltou que o sensor hoje é um dispositivo que salva vidas. “Não é só um dispositivo para monitorar a glicemia. Ele faz muito mais que isso. Ele acaba entregando mais confiança para os pais, para o paciente, onde ele dá alarmes de segurança para chamar a atenção e a gente buscar os pacientes para poder fazer uma intervenção no que for preciso”, afirmou.

O deputado estadual Paulo Corrêa destacou que pretende estender essa discussão para todo Estado. “Hoje vim aqui para aprender e levar essa discussão para Assembleia Legislativa, para que as pessoas possam acessar essa tecnologia que já é real”.

Diabetes tipo 1 – Trata-se de uma doença crônica e autoimune em que o sistema imunológico ataca e destrói as células do pâncreas que produzem insulina, resultando em uma produção insuficiente ou inexistente deste hormônio. Os sintomas do diabetes tipo 1 incluem fome e sede excessivas, vontade frequente de urinar, perda de peso inexplicada, fadiga e fraqueza. Podem ainda aparecer visão turva e náuseas.

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