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Escolas particulares enfrentam dificuldades e risco de fechamento por causa da pandemia

Inadimplência, cancelamento de contratos e descontos nas mensalidades colocam em risco a vida financeira de instituições particulares

23/05/2020 15h15
Da redação com informações da Ascom

O cenário provocado pela pandemia do Coronavírus obrigou toda a sociedade a repensar suas relações. Um dos setores com maior impacto foi o da educação. Há praticamente dois meses, diretores, professores, alunos e pais vivem uma situação atípica e para muitos, inimaginável.

Aulas foram suspensas bruscamente, escolas fechadas, o planejamento pedagógico anual repensado, o ensino, que antes era oferecido de forma presencial, foi migrado para as plataformas digitais, os professores precisaram de desenvoltura, criatividade e habilidades para lidar com câmeras e gravações, diretores fazem cálculos para administrar as contas e tentarem manter as instituições em funcionamento. Juntamente a tudo isso, as incertezas de quando a situação será retomada ao normal e de que maneira será este retorno.

“Tudo mudou. A rotina da escola é outra. Foram necessários novos equipamentos e ferramentas para que o ensino seja entregue de alguma maneira aos nossos alunos. Além disso, professores não foram treinados para isso durante a formação pedagógica. Gestores das escolas também não estavam preparados para tudo isso que está acontecendo. A gente tem que organizar, aprender e executar ao mesmo tempo. Isso torna tudo muito difícil”, desabafa o vice-presidente da Associação das Instituições de Ensino Privado de Campo Grande, Gabriel Mazzocco.

O desafio imposto pela pandemia exigiu adaptações. “Foi preciso adaptar-se a esta nova modalidade de atendimento – o remoto – e oferecer da melhor maneira possível os conteúdos aos nossos alunos, sejam com vídeos aulas, transmissões pelas redes sociais ou atividades extras. Estamos buscando capacitação com cursos oferecidos pelas editoras e pelo Ministério da Educação. Mas é preciso ter ciência de que esta modalidade de ensino a distância nunca irá suprir a necessidade de socialização que nossas crianças precisam e têm nas escolas de forma presencial”, reflete Clésio Aderno da Silva, dono de escola e tesoureiro da Associação das Instituições de Ensino Privado de Campo Grande.

Socialização

A socialização está entre um dos pontos mais importantes preconizados por toda a legislação regente à educação infantil. Nesta etapa educacional não é apenas o conhecimento a ser levado em consideração, mas as relações desenvolvidas pelas crianças no ambiente escolar. É na escola que elas encontram os primeiros amigos, acontecem os primeiros conflitos e os aprendizados extra curriculares. As interações sociais construtivas e cooperativas têm o potencial de promover a aprendizagem eficiente de habilidades e conteúdo, assim como a empatia e o respeito mútuo, fundamentais ao desenvolvimento moral. As crianças aprendem a lidar com o mundo, respeitando as opiniões, as culturas, a se virarem sozinhas, a melhorarem a comunicação e até mesmo se posicionarem diante de vários problemas do dia-a-dia.

Tudo isso está sob perigo. O isolamento social e a falta das aulas presenciais têm prejudicado este vínculo entre aluno – escola. “É muito comum as famílias relatarem que a escola é o segundo lar de seus filhos. E esta situação atual coloca em risco esta relação afetiva dos alunos. Se pararmos para pensar, pode ser que depois que tudo isso passar, algumas escolas não estarão mais ali, este segundo lar não vai existir”, lamenta Clésio.

A explicação para este possível cenário é porque muitas escolas estão com dificuldades financeiras para cumprirem com todos os custos, compromissos e se manterem abertas, além disso tem a questão da instabilidade emocional, insegurança e medo provocados por um vírus que fez todos mudarem de hábitos, inclusive as crianças se sentirem ameaçadas ao saírem de casa para irem a escola.

Desta mesma maneira, outros gestores de escolas particulares também estão preocupados, porém unidos. Há pouco menos de um mês, 40 representantes de instituições particulares de médio e pequeno porte da Capital formaram a Associação das Instituições de Ensino Privado de Campo Grande, uma maneira de ganharem representatividade aos órgãos públicos como Procon, Ministério Público e Prefeitura, assim estarem bem informados, participarem das decisões e terem condições de agirem de forma mais clara, segura e rápida para o andamento de toda esta situação de pandemia. Inclusive na possibilidade de retorno das aulas presenciais.

Situação financeira

A associação participou de todas as reuniões com o Ministério Público e Procon para o fechamento de um acordo sobre os valores das mensalidades escolares. A associação concordou, desde o primeiro momento, com a redução das mensalidades em até 25% conforme a faixa etária dos alunos e enquanto a situação estiver assim, aulas a distância. “Antes mesmo deste acordo com os órgãos públicos, as escolas particulares de pequeno e médio porte já haviam concedido um abatimento nas mensalidades porque entenderam que seria justo e necessário para a manutenção das escolas”, afirmou Clésio.

Porém a situação não é tão simples. Desde o início da suspensão das aulas, três fatores tem provocado um risco às finanças: o cancelamento de contratos, inadimplência e descontos impostos pelos órgãos públicos. “A soma destes três fatores coloca em risco a sobrevida das instituições particulares, e principalmente das pequenas e médias. E algo importante de destacar para que as pessoas entendam: se não fossem o índice de inadimplência e os cancelamentos, seria muito tranquilo as escolas repassarem os descontos”, complementa Gabriel.

“Temos uma situação de uma escola em que a inadimplência está em 44% e o desconto oferecido às mensalidades é de 25%. Somando estas reduções no orçamento, o diretor não consegue arcar com a folha de pagamento dos funcionários. Nossa preocupação é de que a pandemia vai passar, nós vamos sobreviver a ela, mas algumas instituições não. Algumas escolas vão fechar as portas”, argumenta Clésio, que acrescenta a necessidade da liberação de crédito com juros baixos, prazos estendidos e carência para o início do pagamento por parte das instituições financeiras para os estabelecimentos de ensino privado.

Retorno às aulas

A Associação das Instituições de Ensino Privado de Campo Grande está organizada e participativa para minimizar todos os impactos provocados pela pandemia, tanto que articula um planejamento para o possível retorno às aulas. Os representantes se anteciparam e contrataram uma empresa especializada para a elaboração de um plano de biossegurança com todas as medidas para a prevenção e eliminação de possíveis riscos de contaminação para a saúde de quem frequenta as escolas. O plano de biossegurança já foi encaminhado à Prefeitura de Campo Grande e ao Ministério Público, e após a apreciação de cada um deles a associação deverá se posicionar sobre o retorno as aulas e as regras de segurança a serem adotadas.

“Nós temos interesse em voltar as nossas atividades escolares, mas desde que seja um retorno seguro a todos”, finaliza Clésio.

Divulgação

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