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domingo, 16 de novembro, 2025
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Conflito por terra: Guarani Kaiowá é assassinado durante ataque em Iguatemi

Um indígena guarani-kaiowá, de 36 anos, foi morto com um tiro na nuca na madrugada deste domingo (16) durante um ataque à comunidade Pyelito Kue, em Iguatemi, a 412 quilômetros de Campo Grande. A Polícia Militar confirmou o óbito, mas afirmou que o atendimento da ocorrência ficou sob responsabilidade da Força Nacional, que ainda não divulgou detalhes sobre o caso.

A Aty Guasu, principal organização política dos povos Guarani e Kaiowá, informou pelas redes sociais que o ataque ocorreu em meio à retomada da área localizada na Fazenda Cachoeira. Segundo a entidade, a comunidade sofre ofensivas sucessivas desde a semana passada. “A retomada sofre ataques desde a semana passada e é desesperador para os indígenas neste momento”, afirmou o movimento.

Três noites de ataques e feridos

Relatos da comunidade apontam que homens armados cercaram a área durante a madrugada. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) informou que ao menos três pessoas ficaram feridas, entre elas dois adolescentes atingidos por disparos no braço e no abdômen. A Funai confirmou os feridos, mas destacou que o número pode ser maior.

Crianças, mulheres e idosos também teriam ficado feridos. Uma criança sofreu queimaduras na mão após o lançamento de um rojão contra as famílias. Balas recolhidas pelos indígenas foram entregues à Polícia Federal, que registrou boletim de ocorrência em Naviraí.

Indígenas relatam ainda que agentes da Força Nacional entraram na região por dentro da fazenda, levantando suspeitas de que pistoleiros podem estar impedindo socorro a pessoas que aguardavam atendimento médico.

Conflito histórico e processo de demarcação parado

A região do ataque é alvo de disputa há anos. Em junho deste ano, a Funai atualizou o Grupo de Trabalho responsável pelos estudos complementares de identificação e delimitação dos territórios Iguatemipeguá II e III, que abrangem quatro municípios do sul de Mato Grosso do Sul.

A Terra Indígena Iguatemipeguá I, onde está o tekoha Pyelito Kue, foi identificada oficialmente em 2013, com área de 41 mil hectares. Apesar disso, o processo não avançou e os Guarani Kaiowá permanecem confinados em apenas 90 hectares, onde vivem cerca de 120 famílias.

Em novembro de 2023, indígenas ocuparam parte da área e uma equipe de documentaristas que acompanhava a situação foi agredida por homens apontados como seguranças de produtores rurais.

Pressão por demarcação e responsabilização

A retomada da área na Fazenda Cachoeira reacendeu a tensão. Segundo o portal O Joio e o Trigo, o local é arrendado por empresas ligadas à produção e exportação de carne.

A morte do indígena é o episódio mais grave registrado desde o início da nova onda de ataques. Lideranças guarani-kaiowá cobram a conclusão da demarcação e afirmam que a indefinição territorial alimenta a violência e expõe as famílias a ciclos constantes de ataques armados.

A Polícia Federal investiga o caso, enquanto entidades indigenistas e de direitos humanos pedem proteção imediata e responsabilização dos envolvidos.

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