Medidas de contenção atingem servidores, enquanto a prefeitura prioriza festas e enfeites na cidade
A Prefeitura de Campo Grande anunciou na última semana a redução da jornada de trabalho para seis horas diárias por 120 dias e aplicou corte de 20% nos salários do alto escalão, incluindo o da prefeita Adriane Lopes (PP), como parte de medidas para “ajustar as contas públicas”. Ao mesmo tempo, a administração destinou R$ 1,7 milhão para iluminação e decoração natalina, decisão que gerou críticas de servidores, vereadores e moradores por sua aparente contradição.
O investimento milionário em luzes e árvores de Natal contrasta com a austeridade aplicada aos servidores, que veem a medida como improvisada e seletiva. “Se há dinheiro para enfeitar a cidade, por que não há recursos para valorizar quem mantém a máquina pública funcionando?”, questionam funcionários municipais.
O vereador Marquinhos Trad (PDT) criticou a decisão, lembrando que uma lei municipal permitiria que empresas privadas patrocinassem a decoração sem custo para o município, mas a prefeita optou por contratar a empresa Construtora JLC Ltda pelo valor de R$ 1.756.999,98, abaixo do custo inicial previsto de R$ 1,942 milhão.
Segundo Trad, o mesmo valor poderia ser usado para reforçar unidades de saúde, cobrir pendências salariais, investir em educação infantil ou melhorar transporte público e infraestrutura urbana. Especialistas em administração pública destacam que, em momentos de restrição fiscal, a prioridade deveria ser serviços essenciais, e não marketing ou eventos.
A redução da jornada vale por 120 dias e atinge prefeita e secretários, que tiveram reajuste de até 63,76% em abril deste ano. Já a Construtora JLC, responsável pela decoração, escapou de cortes e teve contratos ampliados recentemente, recebendo aumento nos repasses mesmo com decreto de contenção de gastos.
O investimento em Natal dos Sonhos foi alvo de críticas nas redes sociais e entre especialistas, que apontam que, enquanto as ruas da cidade permanecem esburacadas, os postos de saúde carecem de remédios, exames e profissionais, e hospitais operam sem vagas suficientes, a Prefeitura destina uma fortuna à iluminação festiva.
O ex-prefeito Marquinhos Trad também ironizou a situação: “Campo Grande virou a Cidade do Natal e do Nada. Tem luz de sobra, só não tem luz na gestão. Buraco na rua? Decora com pisca-pisca e vira ponto turístico! Transporte ameaçando parar? Põe rena puxando o ônibus! E quando faltar médico, chama o Papai Noel pra fazer plantão”.
A decisão reforça a percepção de que a austeridade é seletiva, atingindo servidores e população, enquanto eventos e decoração recebem prioridade, provocando questionamentos sobre a gestão de recursos públicos na Capital.











