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quarta-feira, 5 de novembro, 2025
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De Campo Grande, artista leva dança de MS aos palcos de Buenos Aires

Há movimentos que atravessam fronteiras, não apenas geográficas, mas também afetivas. É o caso da artista da dança Jackeline Mourão, que vive em Campo Grande (MS) e leva nesta sexta-feira (7) a sua pesquisa corporal para o palco do Espacio Nos en Vera, em Buenos Aires, Argentina. No espetáculo ´Sintonizar ao Momento del Cambio´, dirigido pela coreógrafa Bárbara Alonso, a artista compartilha um trabalho que nasceu no Brasil, amadureceu entre encontros e residências artísticas e agora chega à capital argentina como uma celebração do corpo latino, aquele que fala, resiste e se reinventa em movimento.

O projeto começou em 2023, quando Jackeline foi contemplada pelo ´1º Prêmio Ipê de Dança´, que possibilitou a primeira residência e uma apresentação na Casa de Ensaio, em Campo Grande, com o apoio do programa Cultura Argentina al Mundo, do Ministério das Relações Exteriores da Argentina (2023). Desde então, ´Sintonizar ao Momento del Cambio´ se tornou um trabalho binacional, atravessado por sotaques e experiências que dialogam entre Brasil e Argentina. Em 2025, o espetáculo teve nova residência no Sesc Cultura MS e agora se apresenta em Buenos Aires com apoio do Subsídio Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB – Lei nº 14.399/2022) e do Sesc MS.

Para Jackeline, mais do que uma estreia internacional, o momento é um rito de passagem. “Estar em Buenos Aires representa um atravessamento muito especial na minha trajetória. Apresentar meu trabalho aqui também é reconhecer os caminhos que me trouxeram até este momento. É um misto de risco, afeto e desejo de troca, uma experiência que me coloca em diálogo com artistas que admiro e me provoca a repensar minha própria prática artística”, conta.

O espetáculo investiga a relação entre corpo, som e linguagem, uma busca por traduzir o indizível. ´Sintonizar ao Momento del Cambio´ propõe uma escuta profunda do movimento e de tudo o que o corpo silencia quando se ajusta ao que “deve ser”. “Que corpos podem falar? Que linguagens são reconhecidas como válidas?”, provoca o texto que acompanha a obra. O corpo, aqui, é território de tradução e resistência.

Sob a direção de Bárbara Alonso, bailarina, coreógrafa e curadora do programa Dança em Tecnópolis, do Ministério da Cultura da Nação Argentina, o trabalho conta ainda com Iván Haidar (assessoria dramatúrgica), Reginaldo Borges (direção técnica), Fernando Berreta (desenho de luz), Febraro de Oliveira (colaboração artística) e Julián Dubié (design).

Com mais de 15 anos de atuação em Mato Grosso do Sul, Jackeline Mourão é reconhecida por sua pesquisa que conecta dança, tecnologia e experimentação. Foi premiada pela Funarte com o solo ´Talvez seja isso´ (2021), apresentou-se no Palco Virtual do Itaú Cultural (SP) e no JUNTA Festival Internacional de Dança de Teresina (PI), e percorreu o país com ´Procedimento#6´ no circuito nacional Palco Giratório (Sesc Nacional). Também integrou o 23° Encuentro Internacional de Danza y Artes Contemporáneas ´Crear en Libertad´, no Paraguai.

Além de performer, Jackeline é produtora e curadora, e vem fortalecendo a cena de dança contemporânea no Centro-Oeste por meio de projetos como o ´Toró – Residência Artística´, ´Plataforme-se´ (que une dança e audiovisual), o programa ´Sala de Visita´ e o ´Aulão EXP´, que anualmente reúne artistas de diferentes estilos.

Em Buenos Aires, ´Sintonizar ao Momento del Cambio´ encontra um novo público, mas fala a mesma língua: a do corpo latino, inquieto, múltiplo e sensível. De Campo Grande para o mundo, Jackeline leva sua voz em movimento, uma dança que conecta territórios e transforma fronteiras em gestos.

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