Separação temporária no terminal ajuda casais a reduzir tensões e evitar discussões pré-viagem, apontam especialistas
Casais que costumam discutir antes mesmo de embarcar podem ter encontrado uma solução curiosa — e eficaz — no chamado “divórcio no aeroporto”, expressão criada pelo jornalista britânico Huw Oliver em coluna no Sunday Times. A tática consiste em cada um seguir sozinho pelo terminal após passar pela alfândega e só voltar a se encontrar dentro do avião, já acomodados para o voo.
Oliver, que está noivo, relata que ele e a parceira, Morwenna, acumulavam tensões sempre que viajavam. “No aeroporto, nos transformamos, como lobisomens, em seres irreconhecíveis”, escreveu. Enquanto ela gosta de passear com calma pelas lojas, ele prefere monitorar compulsivamente o painel de embarques. O descompasso gerava atritos constantes.
A solução veio quando decidiram testar o “divórcio temporário”. Cada um passou a seguir seu próprio caminho dentro do terminal e o reencontro ocorre apenas no assento do avião. “Minha noiva estava mais animada com a ideia do que eu, na verdade”, contou Oliver, que reconhece ter recebido olhares estranhos pelo terminal, mas afirma que o método funciona como um respiro após dias de convivência intensa.
O comportamento não é isolado. Uma pesquisa citada pelo jornalista indica que 54% dos viajantes assumem uma personalidade diferente no aeroporto, o que ajuda a explicar o aumento das tensões no ambiente.
Para a psicóloga clínica Anne M. Appel, o aeroporto funciona como uma verdadeira “panela de pressão”. Filas extensas, atrasos, barulho e cansaço criam um cenário ideal para irritações. “Você está correndo contra o tempo, em filas intermináveis, e quase não tem controle sobre o que acontece em seguida”, afirma.
Segundo ela, essas condições amplificam as diferenças de estilo entre casais, que reagem de formas distintas ao estresse. “O que parece uma pequena preferência está ligado a valores mais profundos, como liberdade versus segurança”, explica. Nesse contexto, o “divórcio no aeroporto” surge como uma estratégia válida. “A genialidade está em trocar a convivência forçada pela autonomia planejada”, avalia.
Ao permitir que cada um siga seu ritmo, os parceiros tendem a chegar ao embarque mais calmos. No entanto, a psicóloga pondera que a tática não funciona para todos: casais em que um dos parceiros sofre de ansiedade intensa podem se beneficiar justamente da proximidade. “Estar juntos proporciona sensação de segurança”, diz Appel.
Apesar do nome irônico, especialistas afirmam que essa breve separação tem potencial para evitar discussões e até fortalecer o relacionamento. É, como escreveu Oliver, “o único tipo de divórcio que pode salvar um casamento até a retirada das malas”.
