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Dourados tem o maior índice de homicídios de indígenas no Estado

Publicado em 15/05/2017 14h47

Dourados tem o maior índice de homicídios de indígenas no Estado

Em 2016, foram 30 ocorrências no Estado, das quais 26% ocorreram nas aldeias Jaguapiru e Bororó, em Dourados.

Da redação

Dourados é a cidade com o maior índice de homicídios de indígenas em Mato Grosso do Sul, e a tendência é de um aumento no número de casos, devido à falta de policiamento e de políticas públicas efetivas, segundo estimativa do DSEI-MS (Distrito Sanitário Especial Indígena).

De acordo com site Dourados News, em 2016, foram 30 ocorrências no Estado, das quais 26% ocorreram nas aldeias Jaguapiru e Bororó, em Dourados. Além dos crimes registrados, o órgão ainda recebeu 613 notificações de violências físicas e sexuais contra indígenas em Mato Grosso do Sul, sendo 160 em Dourados.

“Esse número pode ser ainda maior, pois existe uma subnotificação grande. Muitos casos não chegam às equipes de saúde”, disse ao Dourados News a psicóloga Fabiane Vick, responsável pela área técnica de saúde mental do DSEI-MS.

É preocupante, para a profissional, a característica brutal dos atos de violência registrados, que representam, em sua maioria, uma tentativa de homicídio por parte dos autores.

“Não são simplesmente socos e murros. São casos com uso de arma branca, como facão e foice, e agressões na cabeça. Quando há um caso de agressão com arma branca na cabeça da vítima, nós não conseguimos pensar em outra coisa senão em uma tentativa de homicídio que, por sorte, não se concretizou”.

Alcoolismo e uso de drogas

Segundo Fabiane, 95% dos casos de violência física e sexual ocorrem sob efeito de álcool ou drogas. “Já nos reunimos diversas vezes com órgãos como a Secretaria de Justiça e Segurança Pública e a Secretaria Estadual de Saúde na tentativa de aumentar o policiamento, coibir a venda de bebidas alcoólicas dentro das aldeias e pensar em um plano integrado de acompanhamento do alcoolismo entre os indígenas.”

De acordo com a liderança da Aldeia Bororó, Gaudêncio Benitez, não há policiamento algum nas aldeias. “O trabalho de rotina é feito pelas próprias lideranças. A polícia só vem quando a pessoa já morreu. O atendimento é muito demorado”, diz. “Estou muito preocupado. Desde que a Força Nacional saiu daqui [em 2015], ficamos abandonados. Aumentou a violência e a venda de bebidas alcoólicas dentro da aldeia e no entorno.”

A liderança da Aldeia Jaguapiru Vilmar Martins confirma a situação. “A polícia vem quando já conseguimos prender a pessoa que estava cometendo o crime e ligamos pra eles”, diz. “Eles alegam que, por se tratar de uma área indígena, da União, seria responsabilidade da Polícia Federal fazer o policiamento”.

O comandante do 3º Batalhão da Polícia Militar de Dourados, tenente-coronel Carlos Silva afirmou que os atendimentos nas aldeias indígenas de Dourados são feitos de forma ostensiva, preventiva e de emergência, como em outros bairros da cidade. “Não é só a Polícia Militar que tem a responsabilidade de fiscalizar os casos de venda e uso de drogas e tráfico. É uma área federal, que demanda apoio e investimento do governo federal”. Segundo o comandante, casos de violência como o desta segunda-feira (15), que resultou em um duplo homicídio na Aldeia Bororó, são difíceis de prevenir.

“Foi um crime dentro de uma residência, que não conseguimos prevenir. Sobre a venda de bebidas alcoólicas, infelizmente não temos o poder de fechar um estabelecimento por falta de alvará, por exemplo. Conseguimos apenas atuar diante de um flagrante de venda para menores de idade, mas não para indígenas maiores de idade”, conclui.

Emprego e geração de renda

De acordo com Fabiane Vick, o policiamento não resolveria o problema, mas minimizaria as ocorrências. Aliada à segurança pública mais efetiva, a criação de políticas de emprego e de geração de renda para os povos indígenas ajudariam a melhorar esse cenário, de acordo com a servidora. “Dificilmente vemos um indígena inserido no mercado de trabalho em Dourados. Não há políticas de incentivo nenhuma para as empresas contratarem essas pessoas”, afirma.

Segundo Fabiane, a partir de 2012, com a mecanização da indústria sucroalcooleira, entre 5 mil e 8 mil indígenas tiveram sua mão de obra dispensada pelas usinas no Estado. “Imagine você nesta situação: sem emprego, sem renda, com a família para sustentar. É um problema muito grave, que entendemos que tenha contribuído para o aumento do consumo abusivo de álcool, drogas e também dos casos de violência, como homicídios e suicídios”.

Duplo homicídio após bebedeira na Aldeia Bororó, ocorrido nesta segunda-feira (15). Foto: Osvaldo Duarte

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