Eleições alemãs: Merkel busca 4º mandato e vitória da visão pró-UE

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Publicado em 24/09/2017 11h24

Eleições alemãs: Merkel busca 4º mandato e vitória da visão pró-UE

Chanceler há 12 anos, líder é considerada a mulher mais poderosa do mundo

R7

A vitória da chanceler alemã, Angela Merkel, nas eleições legislativas deste domingo (24) e a conquista impressionante de seu quarto mandato como líder do país já parecem estar definidas, segundo pesquisas de intensão de voto. O favoritismo de Merkel não é para menos, em 12 anos no comando da Alemanha, o país conseguiu apresentar um bom desempenho econômico e queda no desemprego, mesmo após a crise do euro. Além disso, ela foi capaz de manter o país como o centro de poder na Europa em meio ao Brexit e à crise de refugiados.

Apontada como a mulher mais poderosa do mundo pela revista Forbes e primeira mulher a ascender ao cargo mais alto da política na Alemanha, Merkel se mostra uma líder firme diante de líderes europeus em permanente estado de fraqueza, diz o professor de negociação e resolução de conflitos da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Yann Duzert.

— Os alemães sempre gostaram de estabilidade, da inflação e das contas públicas bem amarradas, da força de uma moeda que dá segurança. A Merkel também conseguiu manter o desemprego em apenas 5%, sendo que em regiões como a Bavária, a taxa chega a ser negativa. Parte do sucesso também está no fato dela adotar soluções de flexibilidade que permitiram às empresas alemãs terem muita competitividade. E flexibilidade também na gestão do trabalhador, ela se beneficiou de uma reforma trabalhista bem-feita.

Acostumada a índices de aprovação por volta dos 70%, Merkel viu este número cair consideravelmente em 2015, depois que decidiu abrir as fronteiras do país para centenas de milhares de refugiados. A ação gerou impopularidade até mesmo dentro de seu próprio partido, mas ela garantiu que não se arrependeu da decisão, em entrevista ao jornal Welt am Sonntag.

— Eu tomei minha decisão baseada no que eu pensava ser certo de um ponto de vista político e humanitário. Esse tipo de situação extraordinária acontece de vez em quando na história de um país. O chefe de governo tem que agir e eu o fiz.

Para Duzert, a crise dos refugiados foi o seu maior teste político enfrentado pela chanceler.

— A abertura das fronteiras para os refugiados ainda não está totalmente superada. Aliados de Merkel não concordaram com este acolhimento em massa e o partido da extrema-direita acabou conquistando eleitores ao se aproveitar de casos de violência isolados.

França e Alemanha, os pilares da União Europeia
Após a votação do Brexit em 2016, quando os britânicos decidiram deixar a UE (União Europeia), o bloco sabia que teria dois grandes desafios em 2017: as eleições francesas e alemãs. Em ambos os países, movimentos eurocéticos e de extrema-direita ganharam força nos meses anteriores às votações, mas não alcançaram resultado nas urnas, lembra a professora Denilde Holzhacker, do curso de relações internacionais da ESPM.

— A Europa sempre tem esses momentos de questionamento em relação à integração e, com o Brexit, as forças de direita ganharam mais força interna. A questão da crise econômica ainda pressiona muitos países e a população começa também a questionar o quanto a política imigratória da UE não atrai mais esses imigrantes. A UE como bloco, não consegue dar resposta para isso, ela ainda fica um pouco em uma discussão filosófica. Para sobreviver, a UE tem que se flexibilizar e afrouxar um pouco os parâmetros da integração.

Na França, a eleição do centrista Emmanuel Macron foi uma vitória para a UE, que deve se fortalecer ainda mais com a vitória de Merkel na Alemanha.

— Este é um momento de fortalecimento da UE, com certeza. Merkel viu o benefício da reunificação da Alemanha [após a queda do muro de Berlim], então ela sabe a importância de harmonizar países desequilibrados. Ela aposta que a Alemanha e a Europa precisam se rejuvenescer e aprender a negociar com as diferenças.

Macron e Merkel são negociadores com visão de futuro e serão fundamentais para fazer as reformas necessárias para a sobrevivência da UE, diz Duzert.

— Ela é uma negociadora moderna, que sabe alinhar interesses, ser firme e solidária ao mesmo tempo. Ela tem uma elegância moral e mostra estabilidade em momentos em que o mundo tem muito caos. O Macron tem também essa cultura tentar procurar decisões multilaterais e não ficar só na dominância. A grande incógnita do domingo é se ela vai precisar de uma coalizão com o partido liberal, o que atrapalharia a Europa, com uma visão muito mais “Alemanha first” [Alemanha primeiro], no estilo Donald Trump.

O desafio das coalizões
Apesar de a vitória de Merkel ser apontada por todas as pesquisas de voto, seu partido não deve alcançar maioria absoluta das cadeiras do Parlamento e, por isso, a grande incógnita das eleições é quais serão seus parceiros de governo.

O partido da chanceler, a CDU (União Democrata-Cristã), já faz parte de uma coligação com a CSU (União Social Cristã), mas pode ter que fazer novas alianças para governar.

Atualmente, Merkel governa com o SPD (Partido Social Democrata), uma aliança que foi presente em dois de seus três mandatos. A outra coalizão foi feita com o FDP (Partido Liberal Democrático).

Uma pesquisa divulgada pela agência Reuters e divulgada nesta quinta-feira (21) mostrou que o bloco CDU/CSU, de Merkel, tem 36% das intenções de voto. O SPD aparece com 21,5% e o FDP com 10%.

O partido de extrema-esquerda A Esquerda apareceu com 8,5%, o que pode torná-lo a terceira força política mais significativa na câmara baixa do Parlamento alemão.

O partido anti-imigração AfD (Alternativa para a Alemanha) teve 11% das intenções de voto e o ambientalista Verdes teve 8%.

Para alcançar maioria dos votos, Merkel teria duas opções: continuar sua aliança com o SPD e chegar a 57,5% dos votos ou fazer uma aliança nacional inédita com o FDP e os Verdes, chegando a 54%.

Merkel é descrita por especialistas como uma hábil negociadora com