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Em Dourados, elas estão no comando dos três poderes

08/03/2017 07h59

Em Dourados, elas estão no comando dos três poderes

Délia Razuk (PR), Daniela Hall (PSD) e Daniela Vieira Tardin, ocupam respectivamente o Executivo, Legislativo e Judiciário.

Da redação

Dia 8 de março, é comemorado o Dia Internacional da Mulher. Nesta data, que lembra a mulher não mais como o ‘sexo frágil’ e sim em relação a suas conquistas de direito. Em Dourados é um bom exemplo de como elas tem conquistado o seu espaço.

Um exemplo disso é o que ocorre em Dourados, com as mulheres atuando a frente dos três poderes. Délia Razuk (PR), Daniela Hall (PSD) e Daniela Vieira Tardin, ocupam respectivamente o Executivo, Legislativo e Judiciário.

Na conversa, elas falaram sobre quais as dificuldades encontradas do dia a dia em um espaço que é ocupado ainda, em grande parte por homens.

Desafio

Dentro desse ambiente ainda machista, elas contam sobre os desafios e como elas veem os três poderes sendo ocupados por mulheres na cidade.

“Na verdade não acho que existe dificuldade e sim a vontade de fazer o melhor. É um desafio muito grande, mas se cheguei aqui é porque eu busquei este lugar. Fui vereadora por oito anos e fui muito feliz, dei o meu melhor na política e aqui na prefeitura tenho o mesmo objetivo”, disse a prefeita Délia Razuk (PR).

Já a presidente da Casa de Leis, Daniela Hall, enxerga com bons olhos esse processo em Dourados, porém, diz que é necessário maior participação feminina, principalmente na política.

Apesar de comandar a Câmara, ela é a única a fazer parte do legislativo douradense em meio a 18 homens. Na legislatura passada, Délia Razuk (PR) e Virgínia Magrini (PP) ocupavam o posto.

“Uma das minhas principais bandeiras é aumentar a representatividade da mulher nas mais variadas áreas, já que elas desenvolvem inúmeras atividades, muitas tem tripla jornada e mesmo assim, não são reconhecidas e valorizadas como peças fundamentais para o crescimento da sociedade. Precisamos continuar criando políticas públicas que insiram novos arquétipos culturais que possibilitem a expressão da pluralidade da sociedade permitindo e garantindo espaço a todos”, comentou.

Para Daniela Vieira, o desafio maior é administrativo, principalmente por comandar uma estrutura grandiosa como a do Fórum.

“A função assumida é de cunho administrativo, eis que não há hierarquia entre os magistrados atuantes na Comarca. Ainda assim, é grande a responsabilidade de gerir uma estrutura com cerca de trezentas pessoas (entre funcionários e estagiários), além da função correicional nas serventias extrajudiciais”, comentou.

Porém, para a juíza, o fato de estar desempenhando função dentro do serviço público, as demandas diferenciadas, principalmente em relação a salários, bastante comum na iniciativa privada, mesmo assim, o preconceito existe.

“Acredito que a realidade do serviço público em geral é privilegiada. O acesso através de concurso, os salários escalonados por cargo, a valoração do tempo de serviço público, minimizam um dos principais reflexos da discriminação de gênero na questão profissional. Inobstante, ainda neste ambiente é possível perceber que a mulher está sujeita a críticas e comparações que não são impostas aos homens na mesma situação. Ninguém critica um homem recém-aprovado em um concurso por se tornar pai, por exemplo; pois a mulher muitas vezes é vista nesta situação como descompromissada, eis que a licença maternidade ainda é encarada como privilégio e não direito (principalmente da criança, diga-se)”, afirmou, completando em seguida: “Também não podemos esquecer dos clichês que são usualmente empregados contra uma mulher em situação de liderança: um homem mais duro e firme é apenas forte; a mulher, bom, esta é mal amada, estressadinha, “está naqueles dias”, e por aí vai”.

Sempre a frente

Para a prefeita Délia Razuk, primeira mulher a ocupar o cargo no Município, é orgulhoso essa integração das mulheres no poder.

“É um orgulho, na verdade Dourados sempre esteve na frente. A primeira reitoria da Uems (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) foi comandada por mulher, na particular (Unigran) também. Enfim as mulheres sempre tiveram o papel fundamental na nossa cidade e o respeito da comunidade. A mensagem é que acredite em si, que acreditem. O que nós estamos fazendo agora é para que as futuras gerações não tenham mais essa discussão de gênero”, finalizou.

Fragilidade?

Daniela Hall entende que as mulheres ainda são vistas por muitas pessoas com aquela velha imagem de sexo frágil, porém, mesmo diante de tamanhas conquistas nos diversos ambientes, ainda existem barreiras a serem ultrapassadas diariamente.

“As mulheres ainda são vistas num contexto de fragilidade e não se encaixam em certas funções que ficam destinadas somente aos homens. A emancipação da mulher suscitou questionamentos do seu papel na sociedade e até hoje estamos lutando para confirmar que não há um modelo ideal, mas sim metas objetivadas traçadas por cada uma que batalham para realizar seus sonhos. Mesmo com diversas campanhas que promovem a igualdade entre gêneros ainda é preciso acordar todos os dias e provar ao mundo que somos capazes e que merecemos respeito. Em pleno século XXI, existem barreiras que se colocam a frente das mulheres, algumas explícitas, outras implícitas e isso fomenta a antiga guerra dos sexos incitada por um modelo arcaico da mulher criada para servir”, relatou.

Como mensagem, ela fala que ainda há muito caminho a ser percorrido pelas mulheres, em todos os campos, porém, num futuro próximo, a igualdade de gênero será alcançada, desde que haja compromissos por parte dos governos, instruindo políticas públicas de qualidade.

“Não podemos negar que já obtivemos enormes mudanças e importantes conquistas, mas ainda há muito o que desbravar. É preciso gerar novas frentes em que as mulheres sejam capazes de identificar a necessidade de se posicionarem como agentes ativas na construção de um futuro melhor. Assim, acredito que a igualdade de gêneros será alcançada. Mas para isso é necessário compromisso dos governos, comprometimento da população e força de nós mulheres, para continuarmos nessa luta”, relatou.

Duas faces

No entender da juíza Daniela Vieira, o fato das mulheres comandarem a maior cidade do interior sul-mato-grossense apresenta os lados positivo e negativo do negócio.

“Acho que esta coincidência tem duas facetas: é positiva, no sentido de que evidencia a capacidade feminina de exercer cargos de chefia; por outro lado, pode dar a falsa impressão de que a igualdade já foi alcançada, o que, infelizmente, é uma falácia. Mulheres ainda trabalham o mesmo que homens por menor salário (mesmo que em média acumulem maior escolaridade), ainda são empurradas sozinhas para os trabalhos domésticos (tidos como essencialmente femininos), além de serem vítimas de abusos recorrentes, em grande parte das vezes por parte de companheiros ou familiares. No balanço, as melhoras são sentidas, mas estamos muito, muito longe da igualdade efetiva”, comentou. Com informações do Ddos News.

Presidente da Câmara, Daniela Hall, dá posse a prefeita Délia Razuk no dia 1º de janeiro - Foto: Adriano Moretto

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