O Governo do Estado, por meio da Secretaria Estadual de Cidadania (SEC) em parceria com o Sebrae/MS, vem ampliando o acesso ao empreendedorismo como ferramenta de inclusão produtiva entre povos indígenas e quilombolas. Até o fim de 2025, serão realizadas seis edições do Empretec Rural, sendo cinco voltadas a comunidades indígenas e, pela primeira vez no Estado, uma turma exclusiva para quilombolas, prevista para ocorrer em Nioaque.
Uma dessas formações foi a turma de Dourados, realizada entre 10 e 15 de novembro, na Escola Estadual Indígena Guateka “Marçal de Souza”, na Aldeia Jaguapiru, com entrega dos certificados marcando o encerramento da formação no último sábado (15). Na região Sul, já foram contempladas comunidades como a Aldeia Paraguassu (Paranhos), onde o curso ocorreu entre 20 e 25 de outubro, e a Terra Indígena Nhanderú Marangatu (Antônio João), que recebeu atividades de 27 de outubro a 1º de novembro.
O gerente da Regional Sul do Sebrae/MS, Marcus Faria, destacou o caráter transformador do Empretec para qualquer pessoa que deseja empreender. Ele observou que o curso estimula comportamentos que já existem em cada participante e abre novas possibilidades de desenvolvimento. “O Empretec é um treinamento universal que ajuda a estimular características empreendedoras que todos nós temos. Durante uma semana, ele provoca os participantes a aperfeiçoar o que já sabem fazer e a buscar meios para desenvolver o que ainda não dominam. Fazer esse treinamento em uma comunidade indígena mostra o quanto todos têm potencial para crescer e alcançar sucesso em suas iniciativas.”
Entrega de certificados marcou o encerramento da formação realizada entre 10 e 15 de novembro, na Escola Estadual Indígena Guateka “Marçal de Souza”, na Aldeia Jaguapiru
O Empretec, metodologia da Organização das Nações Unidas (ONU) aplicada no Brasil com exclusividade pelo Sebrae, é reconhecido internacionalmente por desenvolver competências e comportamentos empreendedores. Para dialogar com as realidades culturais e os modos de vida das comunidades indígenas e quilombolas, o curso recebeu adaptações, respeitando práticas tradicionais e formas coletivas de organização. A proposta fortalece a autonomia, incentiva iniciativas econômicas sustentáveis e valoriza as identidades culturais de cada povo.
Presente na formatura, o subsecretário de Políticas Públicas para Povos Originários da SEC, Fernando Souza, que é da etnia Terena e douradense, ressaltou que a ação leva formação técnica para dentro dos territórios. “O Governo do Estado, junto com o Sebrae, firmou um convênio para trazer o Empretec aos territórios indígenas como forma de promover autonomia. Existem muitas iniciativas de negócios importantes, mas por vezes têm pouca base técnica. O curso vem para qualificar empreendedores e descobrir novos talentos, contribuindo para a transformação social nas comunidades.”
O vice-cacique da Aldeia Bororó, Alex Rodrigues Cavalheiro, ressaltou o impacto positivo da formação. “O curso é de grande valor para a comunidade, tanto pessoal quanto culturalmente. Muitos já tinham seus empreendimentos, outros ainda não. O Empretec veio para agregar conhecimento, fortalecer o comércio local, respeitando a cultura indígena.”
A indígena Cristiane Campos, da etnia Kaiowá, proprietária de uma mercearia na Aldeia Bororó, comentou que o curso chegou em um momento decisivo para o crescimento do seu negócio. “Acabei de mudar para uma área central da Bororó e ampliar minha mercearia, então o curso veio na hora certa. Aprendi sobre controle financeiro, organização e economia, coisas que eu precisava para essa nova fase. Abriu muito a minha mente.”
Recém-formada em Engenharia Civil, Jéssica Mendes, da etnia Terena, viu no curso a oportunidade de reconstruir sua trajetória empreendedora. “Já tive dois negócios que não deram certo, um de bombons que comecei na época da escola e outro de moda fitness que criei durante a faculdade, mas eles não tiveram sucesso. Com o Empretec, consegui entender meus pontos fortes e fracos, e isso fez muita diferença para saber onde posso melhorar. Criar uma empresa durante o curso foi um grande desafio e pude trabalhar todas as características do comportamento empreendedor.”
Iniciativa da SEC e do Sebrae/MS impulsiona autonomia, geração de renda e práticas empreendedoras adaptadas às realidades culturais indígenas
A estudante de Direito Juliene Ramires Machado Aquino, da etnia Kaiowá, destacou o aprendizado sobre planejamento. “Ainda não tenho um negócio, mas o Empretec foi essencial para entender planejamento, metas e objetivos. Ele nos tira da zona de conforto e nos faz enxergar o futuro do que queremos construir.”
Para Clitiane Fernandes, Guarani da Aldeia Bororó, o curso mostrou caminhos para aprimorar e organizar suas atividades econômicas. “Eu já trabalho com penteados, sou cerimonialista e tenho uma mercearia. O Empretec me ensinou a planejar, organizar e aplicar meus conhecimentos. Hoje tenho mais segurança e sabedoria para conduzir meus negócios.”
Formação e impacto
Ao longo de seis dias de imersão, os participantes vivenciaram atividades práticas focadas no desenvolvimento de características empreendedoras – como persistência, busca de oportunidades, planejamento, eficiência, controle de riscos, estabelecimento de metas, persuasão e autoconfiança. A metodologia estimula a reflexão sobre atitudes e comportamentos, contribuindo para identificar oportunidades de negócios e aprimorar iniciativas já existentes.
A parceria entre SEC e Sebrae/MS já favoreceu marcos importantes, como a primeira edição do Empretec voltada a uma comunidade indígena no Brasil, realizada em 2024 com mulheres da Aldeia Ofaié, em Brasilândia.
Próximas turmas
As capacitações seguem até dezembro, contemplando povos indígenas e quilombolas em diferentes regiões do Estado. Em Nioaque, a Escola Indígena de Ensino Médio Angelina Vicente, na Aldeia Brejão, receberá o Empretec Indígena entre os dias 17 e 22 de novembro. Na sequência, de 24 a 29 de novembro, o município sediará também a primeira edição do Empretec Quilombola de Mato Grosso do Sul, que será realizada no CRAS do Jardim Ouro Verde. Já em Miranda, a formação ocorrerá de 1º a 6 de dezembro, com local ainda a definir.
