Israel ataca o Irã em momento de vulnerabilidade do regime dos aiatolás
Israel lançou ataques contra o Irã com a convicção de que o regime dos aiatolás está mais fragilizado do que nunca, aproveitando uma janela de oportunidade que se esgota rapidamente. O governo israelense, liderado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, optou por agir antes que negociações entre Irã e Estados Unidos possam resultar em um acordo para suspender o programa nuclear iraniano.
A decisão foi embasada em uma série de fatores internos e externos que colocam Teerã em uma posição inédita de fragilidade. Nos últimos meses, os principais aliados iranianos na região — como Hezbollah, milícias sírias e grupos em Gaza — sofreram derrotas militares consecutivas em confrontos com Israel, enfraquecendo a rede de apoio de Teerã. O Hezbollah, por exemplo, perdeu milhares de combatentes e parte de seu arsenal em bombardeios no sul do Líbano. Na Síria, a queda do regime de Bashar al-Assad e ataques contra milícias aliadas reduziram drasticamente a influência iraniana. Em Gaza e Cisjordânia, o Hamas e a Jihad Islâmica, também apoiados por Teerã, enfrentam forte pressão militar israelense.
Além do cenário regional, o Irã convive com dificuldades internas severas. A economia está pressionada por sanções e alta inflação, e protestos populares contra o regime, iniciados em 2022 após a morte da jovem Mahsa Amini, persistem apesar da repressão rigorosa. Israel ainda conseguiu infiltrar espiões dentro do regime, o que possibilitou ataques cirúrgicos que eliminaram importantes comandantes militares iranianos nos últimos meses, como Mohammad Reza Zahedi, general da Guarda Revolucionária morto em Damasco durante ataque israelense.
Para Israel, o avanço do programa nuclear iraniano representa uma ameaça existencial. O temor é que o Irã conquiste uma bomba atômica, alterando o equilíbrio estratégico no Oriente Médio e comprometendo a capacidade de dissuasão israelense. Embora Israel nunca confirme oficialmente, é o único país da região com armas nucleares. No entanto, há divergências quanto à urgência dessa ameaça: a diretora de Inteligência Nacional dos EUA, Tulsi Gabbard, afirmou em março que o Irã não busca ativamente construir uma arma nuclear e que o programa está suspenso desde 2003.
As negociações entre Estados Unidos, Irã e potências europeias para um novo acordo nuclear — que limitaria o avanço do programa de Teerã — também preocupam Israel, pois um entendimento internacional reduziria a margem para ações militares israelenses sem alto custo político e diplomático. Por isso, o ataque foi lançado antes da possível assinatura do acordo.
Internamente, o cenário político israelense também influenciou a decisão. O primeiro-ministro Netanyahu enfrenta uma crise de credibilidade após erros de segurança antes dos ataques do Hamas em outubro de 2023 e pressões políticas intensas. Manter o país em estado de conflito pode garantir sobrevida política para seu governo.
Os ataques israelenses, desta vez sem provocação direta, representam uma perigosa escalada no Oriente Médio, colocando em xeque os esforços diplomáticos para evitar uma guerra maior. A reação iraniana e o posicionamento dos Estados Unidos serão decisivos para os próximos desdobramentos dessa crise.